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Teresina - Piauí

Médico cirurgião é indiciado por morte de criança de 6 anos no Hospital Unimed em Teresina

O inquérito foi concluído no dia 23 de junho pelo delegado José Anchieta Pontes dos Santos, do 2º DP.

O delegado José Anchieta Pontes dos Santos, do 2º Distrito Policial, indiciou o cirurgião pediátrico Eduardo Guimarães Melo, pelo crime de homicídio culposo pela morte de uma criança de 6 anos durante procedimento cirúrgico, no dia 16 de fevereiro deste ano. O inquérito foi concluído no dia 23 de junho.

De acordo com a representação criminal feita pela mãe da criança, no dia 07 de fevereiro de 2023 sua filha deu entrada no Hospital Unimed Ilhotas, para tratamento de uma infecção e posterior troca de cateter, vez que ela sofria de insuficiência renal e necessitava de constante purificação do sangue por meio de hemodiálise.

Naquele mesmo dia, por volta das 22h, a paciente foi encaminhada de ambulância para o Hospital Unimed Primavera, com objetivo de dar continuidade aos procedimentos médicos para tratamento da infecção.

Foto: Reprodução/WhatsAppEduardo Guimarães Melo
Eduardo Guimarães Melo

Cirurgia e complicações

No dia 16 de fevereiro, a paciente passou por um procedimento cirúrgico realizado pelo médico Eduardo Guimarães Melo. O objetivo era a introdução de um cateter CDL para o tratamento de hemodiálise. Segundo o relato da mãe, após a cirurgia, o médico saiu do centro cirúrgico sem falar com a família ou mencionar qualquer intercorrência.

Passados poucos minutos após a cirurgia, a menina começou a se queixar de dores e foi levada novamente ao centro cirúrgico, por volta das 12h45. A mãe relata que a equipe médica aparentava estar bastante agitada. Às 15h40, uma assistente social e uma enfermeira informaram à mãe que uma artéria teria sido rompida durante o procedimento de introdução do cateter e que o médico Eduardo Guimarães já estava prestando o devido atendimento. Por volta das 18h, o cirurgião procurou a família para comunicar o óbito da criança.

Hemorragia causada por lesão

Em seu depoimento, o médico Márcio Alcobaça, que auxiliou no atendimento à criança, afirmou que a paciente "possuía uma lesão na artéria subclávia e que a cirurgia tinha como objetivo estancar a hemorragia causada pela citada lesão, sendo que antes que fosse feita a sutura a enferma faleceu após consecutivas paradas cardíacas".

Médico admitiu complicações

À polícia, o médico-cirurgião Nabor Bezerra de Moura Júnior, acionado para auxiliar no procedimento cirúrgico, relatou que o médico Eduardo Guimarães Melo admitiu ter ocorrido uma complicação durante a implantação do cateter na paciente, com punção na artéria. No entanto, ele prontamente teria detectado o problema e o retirado, colocando-o na veia, acreditando que a situação estava estável. O médico também afirmou que ficou surpreso com a posterior ocorrência da hemorragia.

Por sua vez, o coordenador dos trabalhos cirúrgicos, Júlio Benevides Viana Neves, descreveu que durante o procedimento identificou-se que o sangue proveniente da hemorragia originou-se de uma lesão entre o tórax e o pescoço, provavelmente devido à complicação durante a implantação do cateter.

A médica Edilene de Jesus Bezerra Batista Rocha, anestesista que participou da implantação do cateter na paciente e da última cirurgia, relatou ter presenciado quando o médico Eduardo Guimarães Melo informou aos familiares sobre a morte da paciente, comunicando também sobre a lesão vascular, o que dava a entender que a intercorrência foi a causa do óbito.

Realização de raio-x

Também em depoimento à polícia, o médico Marco Antonio de Paiva Crisanto afirmou que é praxe realizar um raio-x após a punção de um cateter, a fim de verificar a posição exata do cateter e possíveis complicações. No entanto, ele não conseguiu confirmar se o raio-x foi realizado no caso em análise, mas destacou que a punção arterial acidental pode ocorrer devido à proximidade da veia e da artéria.

O inquérito também registra que o procedimento de raio-x só foi realizado durante o segundo procedimento cirúrgico.

O que disse o médico Eduardo Guimarães Melo

O médico Eduardo Guimarães Melo foi interrogado pela polícia e alegou que a morte da paciente ocorreu devido à fragilidade dela devido ao quadro de doença renal grave. O cirurgião relatou que a criança sofreu três paradas cardíacas e afirmou: “a hemorragia e o estado frágil da paciente deve ter contribuído para as paradas cardíacas e que o estado geral comprometido da paciente dificultou que ela reagisse a essas paradas”.

Criança estava bem

A mãe da criança afirmou que, apesar da enfermidade renal, sua filha estava com um quadro de saúde estável e equilibrado. Ela mencionou que a criança iria entrar na lista de transplante devido à sua boa condição clínica e que a causa da morte foi o rompimento da artéria durante o procedimento de introdução do cateter, o que causou uma forte hemorragia na criança e acúmulo de sangue na cavidade pleural, levando ao óbito.

Conclusão

O delegado destacou no inquérito que, após ouvir os depoimentos dos profissionais de medicina, o médico Eduardo Guimarães Melo supostamente não utilizou corretamente a técnica adequada para o tratamento com o instrumento de perfuração durante a aplicação do cateter, perfurando uma artéria. Isso resultou em complicações e, consequentemente, na morte da criança por volta das 18 horas do dia 16 de fevereiro, momento em que ele teria comunicado a família da paciente.

Também foi ressaltado que o médico Eduardo Guimarães Melo não estava presente durante a recuperação da paciente, quando poderia diagnosticar a necessidade de intervenção cirúrgica ou outro procedimento para controlar as complicações da intercorrência.

"Embora o médico não esteja vinculado a um resultado, mas a uma obrigação de meio, ele deve ser diligente na aplicação de todos os recursos técnicos disponíveis visando a segurança do caso que lhe foi confiado", diz um trecho do inquérito.

Por fim, o médico foi indiciado pelo crime de homicídio culposo.

Outro lado

A assessoria de comunicação do médico Eduardo Guimarães ficou de encaminhar uma nota para o GP1, o que não ocorreu até a publicação desta reportagem. Contudo, a nota foi enviada já no final da noite dessa quarta-feira (29), às 22h19, na qual afirma que o médico ainda não foi notificado. Confira abaixo a nota na íntegra:

Nota ao Portal GP1

A defesa do médico ainda não foi notificada sobre a conclusão do inquérito e aguarda a devida apuração dos fatos para prestar todos os esclarecimentos oportunamente.

Melo e Tognolo Advogados Associados

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