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Espólio de empresária pede na Justiça R$ 172 milhões de 'magnatas da soja' do Piauí

Os denunciados apresentaram contraproposta nos valores de R$ 5.309.880,65 ou R$ 6.988.275,00.

O casal de empresários Cornélio Adriano Sanders e Ani Heinrich Sanders, donos do Grupo Progresso, estão sendo alvos de uma ação judicial e poderão ser obrigados a desembolsar mais de R$ 172 milhões, por supostamente terem se apropriado indevidamente de uma área de 7.650 hectares de terras em Uruçuí. Os empresários são considerados os “magnatas” da soja do Piauí, sendo os maiores produtores de grãos do Estado.

A ação anulatória de registro imobiliário e reintegração de posse e indenização por perdas e danos tramita na 1ª Vara da Comarca de Bom Jesus, e foi ajuizada em 2017 pela empresária Bernadete Bárbara Guadagnin, já falecida, sendo representada, posteriormente, por Antônio Luiz Guadagnin, seu inventariante no espólio. Também figuram como réus as empresas Reflorestadora Serra Branca Ltda – ME e Agropecuária Kuluene S/S LTDA.

Foto: DivulgaçãoCornélio Adriano Sanders e Ani Heinrich Sanders
Cornélio Adriano Sanders e Ani Heinrich Sanders

Posteriormente, Eder Luiz Guadagnin ingressou como terceiro interessado na ação, também pleiteando ressarcimento por apropriação indevida de suas terras. Na ação, ele alega que os réus manipularam os registros de imóveis, fazendo desmembramentos e aquisições orquestradas com terceiros para causar prejuízos a adquirentes de boa-fé.

Entenda o caso

Em novembro de 1991, a Reflorestadora Serra Branca desmembrou a Fazenda Campo de Boi e três partes: área I (12.377 hectares), vendida para a Nutrinorte – Agroindustrial e Comercial do Nordeste Ltda, originando a Fazenda Nutrinorte; área II (2.623 hectares), vendida para a Agropecuária Bacairi LTDA, originando a Fazenda Bacairi; e área III (5.027 hectares), remanescente da matrícula Fazenda Campo de Boi.

No dia 25 de maio de 2000, Eder Luiz Guadagnin adquiriu a Fazenda Bacairi (área II). No dia 30 do mesmo mês, a Reflorestadora Serra Branca vendeu a área III para a Agropecuária Tucum LTDA, que passou a se chamar Fazenda Tucum, e que foi vendida, no mês seguinte, para Bernadete Guadagnin.

Entretanto, segundo o representante do espólio de Bernadete Guadagnin, em 2005 a Reflorestadora Serra Branca vendeu novamente a área da Fazenda Tucum, adquirida por ela, para a Reflorestadora Kuluene. Já em 5 de dezembro de 2007, a Reflorestadora Kuluene revendeu os 5.027 hectares para Cornélio Sanders, atual posseiro.

“A partir de então, deu-se início a uma sucessão de vendas fictícias (compra e venda para a Agropecuária Kuluene S/C Ltda, também representada pelo mesmo Carlos Elyseu Mardegan), com o objetivo de mascarar a fraude inicial, culminando na aquisição da área de 5.027ha pertencentes à autora pelo co-partícipe e atual posseiro Cornélio Adriano Sanders”, consta na ação.

Já em relação à Fazenda Baicari, adquirida por Eder Guadagnin, o empresário alega que a área de 2.623 hectares também foi adquirida de maneira irregular por Cornélio Sanders. Segundo a ação, Cornélio Sanders adquiriu as terras com um registro antigo de “Fazenda Acauã”, já extinto.

“Cornélio Sanders adquiriu a Fazenda Acauã, mesmo com a matrícula 1.504/5.918 encerrada quando da formação da Matrícula 1.610 – Fazenda Campo de Boi. Alega ainda o interveniente que a Fazenda Acauã se sobrepõe a área da Fazenda Bacairi”, diz outro trecho da ação.

Ainda conforme o empresário Eder Guadagnin, “Cornélio Sanders produz milho ilicitamente na fraudulenta Fazenda Acauã sob a matrícula 1.504/5.918, utilizando-se, ainda, de propriedade fictícia e inexistente como garantia de pagamento de empréstimos e financiamentos”.

Reintegração de posse

No dia 14 de julho de 2022, o juiz Valdemir Ferreira Santos, 2ª Vara da Comarca de Bom Jesus, determinou a expedição de mandado de reintegração de posse em favor de Eder Luiz Guadagnin, devendo o requerido Cornélio Adriano Sanders desocupar a área imediatamente, sob pena de uso de força policial.

Ressarcimento

No dia 9 de outubro deste ano o espólio de Bernadete Bárbara Guadagnin, autora da ação, apresentou proposta de ressarcimento no valor de R$ 172.583.090,59 (cento e setenta e dois milhões, quinhentos e oitenta e três mil, noventa reais e cinquenta e nove centavos).

Contudo, em manifestação, a defesa de Cornélio Adriano Sanders alegou que a proposta apresentada pelos autores é “fora da realidade” e apresentou uma contraproposta, qual seja, a de ressarcir, com atualização monetária, o valor pago por Bernadete Barbara e Eder Guadagnin no ano de 2000, nas mencionadas áreas Bacairi e Tucum, desde que, fosse comprovado o lastro financeiro de pagamento da suposta compra e venda das mencionadas áreas.

Foi então apresentada contraproposta com dois valores em critérios que têm por base o valor da saca atual de R$ 130,50, que será multiplicado pelo valor de sete sacas por hectares.

O primeiro no valor de R$ 5.309.880,65 (cinco milhões, trezentos e nove mil e oitocentos e oitenta reais e sessenta e cinco centavos) com base no critério 1 que leva em consideração valor corrigido com o IGP-M e o segundo no valor de R$ 6.988.275,00 (seis milhões, novecentos e oitenta e oito mil e duzentos e setenta e cinco reais), tendo como base o valor da saca de soja atual.

Quem são Cornélio Adriano Sanders e Ani Heinrich Sanders

A família Sanders, de origem holandesa, estabeleceu-se no Brasil em 1949, dedicando-se à agricultura. Quando o patriarca, Thomas Sanders, faleceu, seus filhos Theodorus, Gerardus, Henrique, Thomas e Cornélio Sanders, este último com apenas 15 anos na época, assumiram a responsabilidade pelos negócios da família.

Depois de muitos anos, a família Sanders conseguiu se tornar proprietária de seis fazendas, localizadas em Dourados (MS), Primavera do Leste (MT) e Paracatu (MG). No entanto, em 1997, os irmãos Gerardus e Cornélio decidiram concentrar suas propriedades na região de Paracatu (MG), devido a um episódio climático em Dourados que afetou o plantio de algodão.

Em 2001, Cornélio Adriano Sanders viu no Piauí um campo fértil para expandir sua produção agropecuária e decidiu se mudar para lá. Sua esposa, Ani Sanders, natural do Rio Grande do Sul, acompanhou-o nessa mudança. Juntos, eles fundaram o Grupo Progresso em Sebastião Leal, município do Cerrado piauiense.

Outro lado

Cornélio Adriano Sanders e Ani Heinrich Sanders não foram localizados pelo GP1. Os responsáveis pela Reflorestadora Serra Branca Ltda – ME e Agropecuaria Kuluene S/S LTDA também não foram encontrados. O espaço está aberto para esclarecimentos.

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