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Para quem nunca ouviu falar da teoria do cisne negro, adianto. Trata-se de uma linha de raciocínio que tenta teorizar sobre a ocorrência do improvável. Em outras palavras, seria algo altamente inesperado, de grande impacto, que depois que acontece, fica fácil de explicar.

A teoria tem esse nome em razão do fato de que se achava que todos os cines eram brancos, até serem descobertos cisnes negros na Austrália.

Em verdade essa questão me chamou a atenção na medida em que a associei com a teoria da sincronicidade, de Jung, que nada mais é do que o estudo desenvolvido, em meados do século XX, pelo eminente médico, na tentativa de explicar acontecimentos que não podem ser definidos por meio da teoria causalista. A sua explicação estaria calcada numa relação de significado entre dois ou mais eventos, talvez por isso seja também chamada por seu elaborador de coincidência significativa.

A toda evidência, Jung acrescenta um novo capítulo ao problema da causalidade, tão discutido por David Hume e brilhantemente abordado por Immanuel Kant.

O cerne da teoria de Jung é a inexistência de uma relação de causalidade entre os eventos envolvidos na experiência, ou seja, não há relação direta, pelo menos que se conheça no campo da física, entre a causa e o efeito. As circunstâncias envolvidas, teoricamente, seriam aleatórias, entretanto, condicionadas a um padrão subjacente expressado por eventos ou relações significativos.

Jung propôs o acréscimo da sincronicidade como quarto elemento à tríade: espaço, tempo e causalidade, que caracterizou por tanto tempo a física clássica. Dois campos do conhecimento humano, a física e a psicologia, nunca estiveram tão próximos com as teorias de Jung sobre a sincronicidade e Einstein sobre a relatividade.

Apesar de ser um conceito relativamente novo, enquanto forma, não o é enquanto conteúdo, senão vejamos. Uma das referências mais antigas sobre o tema remonta ao próprio conceito do Tao, que, segundo a tradição chinesa, já fazia referência a uma racionalidade latente em todas as coisas. A sabedoria ocidental, que teve como berço a Grécia Antiga, também já desconfiava da existência de uma unidade em todas as coisas. As diversas épocas que a filosofia ocidental poderia ser dividida, abrigaram pensadores precursores de seu tempo, como Platão e Aristóteles, na Grécia Clássica; Mestre Eckhart e Duns Scotus, na Idade Média; e Nicolau de Cusa, Giovanni Pico Della Mirandola e Ficino, na Renascença.

Nesse contexto talvez seja possível dizer que a improbabilidade pode estar mais próxima da realidade do que imaginamos, ou não.

Boa sorte a (nós) todos.

Londres/RU, 07 de novembro de 2008.

José Anastácio de Sousa Aguiar

 

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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