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Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarNazareno Fonteles(Imagem:Divulgação)Nazareno Fonteles
O deputado federal petista Nazareno Fonteles é inteligente. Conseguiu, esta semana, como certamente havia planejado, plantar seu nome no centro do cenário mais focado pela mídia mafrense: o das "negociações" com vista à sucessão ao governo do estado. Pelas repercussões provocadas por sua intervenção defendendo a candidatura petista de A.J. Medeiros, indubitavelmente, poucos eleitores não se lembrarão dele no dia das eleições. Sua iniciativa provocou interessantes repercussões que merecem comentários. Em artigos publicados na imprensa os autores acusam o discurso de Nazareno de ser reducionista e atrasado e de ser despreparado ou, talvez, ingênuo politicamente.

A primeira acusação diz que Nazareno opõe pobres e ricos e, assim, retoma a "peniciosa" idéia da divisão da sociedade em classes. Essa crítica tem como pressuposto a idéia, própria das concepções conservadoras, de que é possível viver em harmonia na sociedade, de que é possível ignorar seus conflitos. Ora, os conflitos sociais entre as classes não podem ser erradicados por mera crença de quem quer que seja, pelo simples fato de que são objetivos.

Sua objetividade vem do fato, não de opor, na aparência, ricos e pobres, mas de apontar para as raízes ou causas da existência da riqueza e da pobreza. Pobreza e riqueza são uma mesma e só realidade. A pobreza existe por que existe a riqueza e para entender por que uma leva à outra continua válida a tese de que o capital amordaça o trabalho. Só não percebe quem não quer, como a produção da riqueza é apropriada desigualmente pelas pessoas e é esclarecedor que as grandes concentrações, de riqueza e de pobreza, coincidem com as classes sociais. Então, não é esse o erro de Nazareno.

A segunda acusação diz que Nazareno não foi suficientemente pragmático. Por pragmatismo entende o artigo a atitude de Lula, "que soube modificar o discurso, abraçar adversários"; a atitude de A.J. Medeiros, que "aprendeu a lidar com a malícia da política"; a do deputado J. de Deus, que com "a mesma cara de operário, nunca mais atirou petardos de sindicalista exaltado", etc. E o autor aconselha Nazareno dizendo que bom político "fala pouco e não adianta suas ambições pessoais, como o prefeito Sílvio Mendes", mas aguarda as "circunstâncias saudáveis". Sobre essa acusação basta dizer que ela representa a fina flor da postura covarde de que todos devemos nos adequar ao pragmatismo do status quo.

O erro de Nazareno não está em fazer o que fez. O PT tinha que defender, desde o início, um candidato próprio, simplesmente por que o projeto político (sic) em andamento era petista, as outras forças políticas no governo são apenas aliadas desse projeto. Obviamente, nem todos os agentes políticos da chamada "base" poderiam pensar dessa forma. Para o governador W. Dias, por exemplo, essa história de candidato do PT era algo contrário a seus planos de garantir sua eleição ao Senado, pois para consagrar sua carreira meteórica com essa eleição era necessário o apoio de todas as forças da base.

Ao nosso entender, o erro de Nazareno é outro. Consiste em fazer o que fez tardiamente, quando deveria tê-lo feito no início da discussão sobre sucessão estadual, no momento em que o governador propôs os tais critérios, que ninguém certamente iria respeitar em seu conjunto. Mas, isso ele não fez por que ainda não tinha noção da ameaça que paira sobre sua reeleição. Mas, o erro maior de Nazareno, a meu ver, é explorar o episódio através da velha esperteza política. Ou seja, Nazareno usou a oportunidade e a sua intervenção para tentar alavancar eleitoralmente sua candidatura, a estas alturas ameaçada por companheiros da sigla que, dizem nos quatro quantos da cidade, vem aí com um caminhão cheio de dinheiro.

Contudo, no final das contas, a "esperteza" de Nazareno terminou sendo fragilizada, pois ao apontar o dedo para o empresário JVC não levou em consideração o fato de que ele próprio pertence ao uma família de empresários, tendo inclusive em seu filho um "empresário" do setor financeiro, um dos mais improdutivos da economia. Além do fato de que, como apontou o próprio JVC, Nazareno já havia votado no representante do Grupo Claudino.

(*) Vicente Gomes é Professor na UFPI. Doutor em Filosofia pela Unicamp ([email protected]).

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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