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(*) Fábio de Holanda Monteiro

A palavra bajulador vem do latim bajulatore, podendo significar também adulador, puxa-tapete e outros mais. É mais conhecido hodiernamente como puxa-saco (FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa).

O origem do termo puxa-saco remonta à época em que soldados se dispunham a puxar uma grande mochila feita de lona, na qual eram transportados os pertences dos oficiais comandantes de exércitos do passado. Os soldados andavam ao lado dos comandantes e riam de suas piadas sem graça (Todos somos puxadores de sacos!. www. faroldacidade. com.br/?lk=14&id=209).

A figura do bajulador ou puxa-saco pode se fazer presente em qualquer lugar de trabalho, como empresas, escolas, hospitais, universidades, etc.

Não importa se homem ou mulher, jovem ou idoso, independentemente de classe social ou profissional, todos podem assumir o "papel" de adulador servil.

O bajulador também se faz aparecer no setor público e, ao contrário do que muitos possam imaginar, até com mais freqüência que no setor privado.

Existiu e existe em todas as épocas e em todas as sociedades.

No Egito antigo, a regras de etiqueta já traziam manifestações de bajulação: a palavra só era dirigida ao superior se fosse interpelado primeiro. Somente se sorria se o superior risse antes.
Biantes, um dos sete Sábios da Grécia, ao ser questionado qual seria o pior dos animais respondeu: "Entre os selvagens, o sanguinário; entre os domesticados, o adulador".

A Bíblia também traz passagens que descrevem muito bem o comportamento do bajulador. O salmo de Davi (12.2) diz: "cada um fala com falsidade ao seu próximo; falam com lábios lisonjeiros e coração dobrado". Coração dobrado é nada mais nada menos que dizer um coisa e sentir outra, ou seja, a falsidade. Salomão (Pv. 21.6) revela de forma precisa a intenção do bajulador: trabalhar para amealhar tesouro com a própria língua.

No setor público, o lugar mais fácil de se encontrar o bajulador é nas proximidades de quem ocupa posição de destaque numa entidade ou órgão público. Ou seja, onde estiver o poder poderá estar o bajulador do serviço público. Ele tem uma verdadeira veneração por autoridades públicas.

Há deles que chegam a fazer festas de aniversário para o chefe dando-lhe presentes caros, compras de supermercado, compra de lanches, etc.

Quando um novo chefe está prestes a assumir, é o bajulador o primeiro a aparecer para lhe dar as boas vindas e cobrir-lhe de elogios. Mostra-se solícito como um verdadeiro faz tudo, inclusive com coisas que em nada tem a ver com o exercício da função pública.

Até os dias de hoje, a nosso ver, quem melhor descreveu a figura do bajulador foi o filósofo grego Plutarco (66 - 120 d. C.) em seu tratado "Da maneira de distinguir o bajulador do amigo" (Como tirar proveito de seus inimigos, seguido Da ma-neira de distinguir o bajulador do amigo; prefácio e notas Pierre Maréchaux; tradução Isis Borges B. da Fonseca. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003).

Em "Da maneira de distinguir o bajulador do amigo" Plutarco descreve a difícil arte de reconhecer a franqueza corajosa do verdadeiro amigo e a adulação oportunista do bajulador.
Foi dedicado a Antíoco Filo-papo, corego, posteriormente arconte, ateniense do século I de nossa era. Nesse tratado, Plu-tarco organiza uma tipologia dos diferentes bajuladores, arrolando as situações em que a ambigüidade entre bajulação e amizade acha uma saída, visto que o bajulador é um exímio fingidor de amigo. Descreveu Alcibíades, príncipe dos bajuladores, como um herói camaleão, ora guerreiro, ora grosseirão, ora efeminado, ora estrategista.

Segundo Plutarco, para se aprender a frustrar as ciladas dos bajuladores é preciso conjuntamente saber aceitar a linguagem dos amigos.

O bajulador é um predador voraz constantemente em busca de sua presa: geralmente o indivíduo que possui elevado amor-próprio, cuja complacência consigo mesmo dá ensejo à bajulação. Ao excitar o amor-próprio da vítima, ali-mentando sua vaidade, o ba-julador abre caminho para seus objetivos interesseiros na busca incessante por privilégios.

Esta excitação ao amor-próprio da vítima foi alertada três séculos antes do nascimento de
Jesus pelo filósofo grego Antístenes ao advertir que "nada é tão perigoso como a adulação. O adulado sabe que o adulador mente, mas continua a lhe dar ouvidos".

O bajulador sabe que o ponto fraco de suas vítimas reside numa hiperestesia, capacidade que elas têm de amar perdidamente, de apaixonar-se por não importa quem, de ficarem cegas por amor-próprio.

Adaptar-se às circunstâncias, buscando em qualquer momento a ocasião favorável para seus intentos de proveito próprio, é uma característica do bajulador.

Plutarco alerta que a baju-lação possui uma gravidade volúvel, pois enquanto a presa (adulado) é atraente ela representa o papel do ancoradouro.

Não é fácil defender-se dele, pois todos nós, seres humanos, somos vulneráveis a elogios. Preferimos ouvir elogios mentirosos a ouvir verdades que nos desagradam. Atribui-se ao rei Henrique IV, da França, a frase que resumiu essa nossa vulnerabilidade: "Apanham-se mais moscas com uma colher de mel do que com vinte tonéis de vinagre".

A fábula "O Corvo e a Raposa", de La Fontaine, descreve muito bem a artimanha do bajulador e a vulnerabilidade do adulado. O corvo, uma ave muito feia, de canto desafinado e desastroso, tinha preso ao seu bico um pedaço de queijo. A raposa, atraída pelo cheiro do queijo, começou a elogiá-lo, dizendo-lhe que era lindo e que seu canto era por demais belo. O corvo, envaidecido para mostrar seu canto, abriu o bico e deixou o queijo cair. A raposa pegou-o e disse-lhe: "Meu caro senhor, aprenda que todo bajulador vive às custas de quem lhe dá ouvidos."

Se você é dirigente de órgão público, cuidado!: dar ouvidos ao bajulador pode ser ótimo para seu ego, mas péssimo para o bom andar do serviço público.

(*) Fábio de Holanda Monteiro é professor efetivo do Curso de Direito da UESPI.

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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