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Discurso diverge da realidade eleitoral (IV)


*Deusval Lacerda de Moraes

Imagem: ReproduçãoClique para ampliarDeusval Lacerda de Moraes (Imagem:Reprodução)Deusval Lacerda de Moraes
Após a acachapante derrota de José Serra (PSDB) no segundo turno para prefeito de São Paulo, alguns membros peessedebistas enviaram dois documentos à cúpula do partido defendendo uma revisão no programa da legenda, sob pena de distanciar-se cada vez mais do apoio das massas como alternativa de poder, uma vez que a meta dos adversários que representam a grande maioria dessas forças populares é angariar o governo do estado de São Paulo e fazer com que os tucanos passem por mais outro infortúnio na conquista do Palácio do Planalto nas eleições de 2014.

Assim, conforme o Jornal Folha de São Paulo, edição de 16 de novembro de 2012, na seção Poder (A8), com o título “Após derrota, PSDB debate mudança de rota”, dois documentos assinados por políticos de gerações distintas do partido e enviados á cúpula tucana pregam uma revisão profunda do programa da legenda e suas estratégias eleitorais (um foi elaborado por José Henrique Reis Lobo, ex-presidente da sigla, aliado de José Serra e confidente de FHC, e o outro assinado por Paulo Mathias, presidente da Juventude do PSDB de São Paulo). Ainda segundo a Folha, os textos dizem que o PSDB deve refazer conexões com sua militância promovendo uma ampla consulta às bases partidárias para trilhar o caminho da “renovação”.

Consoante a matéria jornalística, os documentos foram redigidos separadamente e por grupos que não se comunicam dentro da sigla, ambos introduzem seus pedidos como um convite à reflexão sobre as derrotas eleitorais sofridas. Reis Lobo pede a organização de um congresso nacional do partido, precedidos por debates municipais e estaduais para “promover uma ampla reflexão sobre o resultado das últimas eleições, tanto as de 2012 quanto as de 2010, para melhor entender os resultados adversos”. O texto assinado por ele foi discutido com FHC, com o senador Aloysio Nunes Ferreira e Alberto Goldman, entre outros líderes da agremiação.

Já o documento da Juventude do PSDB é fruto de uma reunião de 150 “jovens tucanos”. O texto diz: “O PSDB nasceu contestando uma velha prática: disputa de poder pelo poder, plano de governo tirado da cartola, pragmatismo, campanhas eleitorais frágeis e vazias. 24 anos depois cabe a reflexão: estamos fazendo o que condenávamos?” A carta dos jovens prega ainda a consolidação de prévias para definir os nomes dos candidatos do partido. Diz a carta: “Precisamos de modelos que permitam a prevalência da democracia interna. Uma estrutura arcaica dá margem a atitudes autoritárias”. Paulo Mathias afirma: “Falar de renovação não é dizer que devemos jogar o Serra, o Alckmin e o FHC fora. Renovação não é de idade, mas de idéias”.

Como se pode inferir do exposto acima, nada mais pertinente do que a pergunta feita ao candidato eleito Firmino Filho (PSDB) na sua entrevista ao Jornal Diário do Povo que, vencendo o segundo turno com uma diferença de módicos 12 mil votos, não achava que era hora de o PSDB se reinventar, avançar no seu propalado “modelo de gestão”. Mas ainda inebriado pela vitória, embora com disputa acirrada, apertada, ele respondeu que a população havia aprovado o jeito tucano de administrar.

Desse modo, fica clarividente que uma coisa é a conquista pessoal da Prefeitura de Teresina, outra bem diferente são alguns partidos coligados (chamados oligarcas) que podem caracterizar o poder pelo poder; como também o plano de governo apresentado à população pode carecer de análises aprofundadas sobre os problemas cruciais do município, enfim, carecer de novas idéias; a campanha eleitoral com certos discursos evasivos e pragmáticos (ricos, poderosos, blocão etc.) pode torná-la frágil e/ou vazia; e aceitar no decorrer do pleito quem quer que seja sem mais nem menos pode redundar-se em práticas políticas condenáveis no passado por objetivar unicamente a vitória; talvez sem projetar os rumos que serão trilhados objetivamente no decorrer do mandato como requerem as metrópoles modernas repletas de desafios estruturais e conjunturais que exigem ações públicas coordenadas para debelarem arraigadas deficiências gerenciais. Assim como em São Paulo, aqui também os tucanos precisam renovar ao menos o seu modelo de gestão, como sugerido na entrevista.

*Deusval Lacerda de Moraes é Pós-Graduado em Direito

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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