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Deusval Lacerda de Moraes *

Imagem: Divulgação/GP1Clique para ampliarDeusval Lacerda de Moraes (Imagem:Divulgação/GP1)Deusval Lacerda de Moraes
Os estados modernos se organizam com vistas a formarem sociedades em que todos alcancem a felicidade e por isso incrementam incessantemente a estrutura pública para promover o bem comum. Acontece que para se atingir o nível ideal da prestação dos serviços públicos tem que concomitantemente elevar a conscientização política e o aprimoramento das instituições democráticas.

Para isso, faz-se necessário, acima de tudo, distinguir-se o joio do trigo, ou seja, o público do privado, o interesse coletivo de interesse individual, o espírito público do espírito pessoal, enfim, de que se tenha realmente elevado grau de compromisso para não se satisfazer as demandas particulares através do proveito da coisa pública.

Lamentavelmente, por mais que o mundo se desenvolva e que vivamos na era da informação e do conhecimento e que alguns digam que têm como único interesse tratar o bem do povo da melhor forma possível, como manda o figurino das boas intenções, por dizerem-se evoluídos, conscientes, preparados, cônscios das responsabilidades e também garantirem saber a fórmula certa, enfim, imploram para que se reconheçam os seus predicados, sempre ocorre de agirem diferentemente do apregoado, por fazerem o inverso, talvez por ser o caminho mais fácil, os desmandos serem mais lucrativos ou por índole ou formação mesmo para não saírem da vala comum dos aproveitadores.

À guisa de comprovação, sabemos que o nordestino, ao nascer, aprende que, de tempos em tempos, as secas afligem o Nordeste brasileiro, e que deixam um rastro de miséria e flagelo em grande parcela da população. Por isso, os políticos nordestinos ao iniciarem as suas carreiras na vida pública, um dos primeiros temas que aprendem a explorar é exatamente os problemas da estiagem. No Piauí não poderia ser diferente, por parte do seu território está incrustado no semiárido nordestino, ou melhor, no chamado Polígono das Secas.

Também em razão disso, o Brasil criou a CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, conhecida ainda como Serviço Geológico do Brasil, que é responsável pelos levantamentos geológicos e hidrológicos, pela organização, sistematização e difusão desse conhecimento geocientífico, com atuação nas áreas de Geologia, incluindo recursos minerais, de Recursos Hídricos, superficiais e subterrâneos, e de Geodiversidade.

Entretanto, nos últimos dois anos o Piauí vem sofrendo com falta de chuvas, causando terrível drama na vida da maioria da nossa população e com consequências nefastas para a nossa economia, o que gerou, em 12 de novembro de 2012, relatório da Segurança Hídrica do Estado do Piauí (situação dos poços) até o ano de 2005 - e que a sua atualização pouco mudaria -, pelo pesquisador em geociência e chefe da unidade regional da CPRM, Francisco Lages Correia Filho, que no Piauí, ou melhor, da responsabilidade dos órgãos estaduais, existem 16.154 poços em operação; 4.415 poços não instalados; 2.024 poços paralisados; 2.885 poços sem informação; 1.206 poços obstruídos; 27 poços tamponados; 237 poços secos; e 101 poços abandonados.

Em síntese, o quadro demonstra que apesar da população do Piauí, juntamente com o seu criatório, padecer sazonalmente dos efeitos da falta d’água, os governos estaduais, sem quaisquer justificativas plausíveis, brincam de perfurar poços. Conforme o demonstrativo perfuram poços aonde não deveriam, cavam também sem revestimento ou revestem com canos sem bomba d’água, quando instalam a bomba não funciona, como também perfuram com metragem insuficiente, sem se falar nos abandonados sem a devida manutenção, dos secos porque cavaram rasos, dos que apenas são tampados para não funcionar, dos obstruídos por serem revestidos de materiais precários, além de existirem alguns que os órgãos não sabem onde fica. Tal caos no setor hídrico piauiense desperdiça vazão de cerca de 180 milhões de l/h e causa prejuízo aos cofres públicos na ordem de R$ 350 milhões.

Assim, da forma como o Estado é administrado nem com mágica poderia lograr êxito. É raro assumir-se a gestão de repartição pública por credenciais de que realmente tenha ideias, planos e projetos para o respectivo setor da atividade pública. Via de regra, nomeia-se apadrinhado político ou o próprio político que compõe a base de sustentação da governabilidade. Todos sabem no Piauí que, como raposa no galinheiro, tem gente que não pode lidar com poços, pois procura satisfazer aos cabos eleitorais ou seduz novos cabos eleitorais no período eleitoral, depois sai do órgão e entra outro que não tem interesse em equipar, instalar, desobstruir, destampar, manter ou perfurar os poços do gestor anterior, por seguir o mesmo mandamento. E por aí vai a tal gestão do Piauí. E a população como fica? Acreditando que um dia a nossa classe dirigente mude e trate a coisa pública com a seriedade que requer.

* Deusval Lacerda de Moraes é Pós-Graduado em Direito

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