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* Arthur Teixeira Junior

Imagem: GP1Arthur Teixeira(Imagem:GP1)Arthur Teixeira
Finalmente consegui a autorização de meu plano de saúde, ao qual contribuo (e muito) há dez anos, para realização de minha cirurgia cardíaca. Os planos de saúde são muito bons para cobrar, mas péssimos quando tem que desembolsar. Protelam uma semana uma autorização urgente que deveria ser dada imediatamente. Em contrapartida, experimente atrasar um dia sequer no pagamento da mensalidade.

Devo ficar vinte dias internado. Hospital é um saco. Não é somente a comida que é ruim, é tudo. O cheiro, o ambiente, a luz fria, o choramingar, aquele soro pingando eternamente, que você fica torcendo para acabar, mas, antes que isto aconteça, vem uma prestativa enfermeira, coloca outro tubinho e tudo recomeça. Da última vez que fiquei internado na UTI, após 5 dias eu era o único sobrevivente da população original. Trágico. Mas, segundo Murphy, nada é tão ruim que não possa ser piorado.

Minha ex-mulher, cuja única ocupação nos últimos oito anos é ser ex-mulher, resolveu cobrar uma suposta dívida da pensão alimentícia que ela recebe automaticamente todos os meses. Por vezes, ela recebe sua pensão antes de eu receber o que sobrou de meu salário. Recebe uma porcentagem dos dias trabalhados, do descanso remunerado, do 13º, das horas extras, do auxílio alimentação, do adicional de aperfeiçoamento e até das férias. Traduzindo: recebe sem trabalhar, para descansar, para comemorar o Natal, para alimentar-se, aperfeiçoa-se e depois ainda tira férias, tudo isso sem mover um dedo. Já decidi: na próxima encarnação vou nascer ex-mulher.

Todo ano tenho que contratar um advogado para defender-me das ações revisionais, enquanto a belezinha utiliza-se da gratuidade da Defensoria Pública. Isso já tem 6 anos. Se no primeiro ano, ao invés do advogado, eu tivesse contratado um pistoleiro, pela metade do preço do advogado já teria resolvido o problema. Com o que economizaria, compraria um carro novo. Aliás, foi o que ela fez com o dinheiro que recebe mensalmente sem trabalhar.

O juiz deu-me três dias para pagar uma dívida impagável, sob pena de prisão. Agora, só saio de casa com duas sacolinhas, repletas de roupas e objetos pessoais. Uma com a etiqueta “hospital” e a outra com “cadeia”. Mas resta ainda a opção de um acordo amigável. Vou propor-lhe que eu fique com a pensão e ela com o que sobra de meu salário. Vou sair no lucro.

Mas raiva mesmo faz algumas empresas prestadoras de serviço em nossa cidade. No mês passado, a leiturista da companhia elétrica errou na leitura e veio uma conta de luz maior que a da padaria do bairro. Depois de dez dias reclamando e de ter anotado mais de 50 números enormes correspondentes ao “protocolo de atendimento” que nunca me serviu para nada, mandaram um fiscal lá em casa para verificar o medidor. Constatou o erro e mandaram-me uma segunda conta, esta com um valor razoável. Mas lá estava: taxa de serviço – R$ 12,00”. Telefonei novamente para a companhia, anotei mais um número de protocolo, e fui informado que a taxa referia-se a visita do fiscal que constatou o erro de leitura. Ou seja: a leiturista caolha erra na leitura, gasto um tempão para reclamar do erro, fico dias esperando o fiscal e ainda pago por um erro que não foi meu.

Hoje fui parado numa blitz do Detran. Havia mais de 10 anos que isto não acontecia. Solicitamente, entreguei ao policial os documentos do carro e, orgulhosamente, minha carteira de motorista, com mais de trinta anos de habilitação.

_ Sua carteira venceu! – prontamente informou-me o cortês agente da Lei.

_ Que ótimo! – exclamei – e o que ela ganhou?

É deprimente a falta de humor de algumas pessoas. O policial ameaçou-me de prisão por desacato. Pensei em dar-lhe uma cópia de minha última crônica, mas julguei que iria piorar a situação. Pois agora o veículo somente sairia dali conduzido por uma pessoa habilitada, ou seria recolhido, “aos costumes”.

Prontamente liguei para Elza, minha esposa em exercício, já que se o tema é habilidade estamos falando com a pessoa certa. Muito embora ela por três vezes tenha sido reprovada no exame de condutores, sendo que na última vez o examinador, que por ela foi atropelado durante a prova de baliza, garantiu que ela nunca nesta vida receberia uma carteira de motorista. Seu último instrutor está em tratamento psicológico e o penúltimo hoje é carpinteiro.

Pois bem. Elza chegou rapidamente ao local onde eu e o carro estávamos detidos, sorriu para todos, assumiu o volante e fomos embora, não sem antes derrubar dois cones da barreira fiscalizadora. Ninguém pediu um documento para ela. Nem ela para ninguém.

* Arthur Teixeira Junior é funcionário público

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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