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*Arthur Teixeira Junior

Imagem: GP1Arthur Teixeira Júnior(Imagem:GP1)Arthur Teixeira Júnior

A Bruxa Maldita, como carinhosamente eu chamava minha bigoduda sogra, finalmente nos deixou. Partiu neste último sábado, com o único objetivo de estragar nosso final de semana. Em bem da verdade, não sabemos o horário certo do óbito, já que a dita amanheceu esticadona. Deve ter levado o maior susto. Imagine: quando acordou, viu que estava morta. Só não posso falar seu nome de batismo, senão o inquisidor, que trabalha no porão de nossa empresa, vai afirmar que eu falava de alguma colega de trabalho. Mas termina em “ita”. Ainda bem que morreu em sua própria casa, pois se estivesse dormindo na casa de uma das filhas (como era seu costume), o genro certamente seria acusado de participação ativa no evento.

Mas a data do partimento teve algo de bom: economizamos o presente do dia das mães. Eu já havia comprado-lhe uma vassoura novinha, com cabo encapado nas cores da seleção, afinal, a Copa está logo aí. Sua ida já era esperada, embora as quatro filhas, todas de pais diferentes e desconhecidos e todas também separadas ou largadas de seus ex-maridos, tenham chorado muito (falsas!), pois a anciã padecia de algumas enfermidades, como hemorróidas, erisipela, impigem, sarna, dispepsia, piolhos, hérnias, lombrigas, elefantíase, bicho de pé, hepatite e um terrível mau hálito. Já havia sido recusada por três planos de saúde. Tinha o péssimo costume de escarrar em público e em qualquer lugar, preferencialmente na sala de visitas das casas das filhas.

O numero de seu RG tinha somente quatro algarismos e não continha o nome do pai ou de seus avôs, tanto o paterno quanto o materno. Quando dormia, roncava feito uma motosserra, e, depois de engolir duas dentaduras durante o sono, agora as colocava em um copo com água sanitária e desinfetante, depositado no criado-mudo ao lado da cama. Urinava em média três vezes por noite, mas, por ser vesga, sempre errava o penico. Tinha a língua bipartida, que afirmava ser fruto de um acidente com um copo quebrado. Mas tenho certeza que era de nascença. Falava cuspindo e perto demais de seu ouvinte. A cada passo que seu interlocutor dava para traz, tentando evitar o aguaceiro e o mau hálito, ela dava um passo à frente. Por vezes, uma conversa que começava na cozinha terminava do outro lado da rua.

Os genros decidiram sepultá-la no mesmo dia (de repente a velha se arrepende...), e eu fiz questão de comprar o caixão, com dobradiças reforçadas e trancas duplas, embora tenhamos decidido parafusar a tampa com 12 parafusos de aço com cabeça sextavada. Segurança em primeiro lugar. Que falta faz um crematório em nossa cidade.

Não deixaram enterrar o corpo com a tampa do caixão para o lado de baixo, idéia de meu concunhado Douglas, temendo que a “de cujus” conseguisse abri-la e fugir do sepulcro. Após o funeral, os quatro ex-genros foram render as últimas homenagens no Bar do Esculacho, onde consumiu-se uma caixa de Brahma e litro e meio de aguardente barato, acompanhado de tripa de bode frita e sarapatel, especialidades da casa. Quase fui pedir emprestada a churrasqueira de meu colega Fernando, feita com uma calha de roda amassada de seu carro e pintada com tinta alumínio. Mas os outros acharam que era muito cafona para o ambiente do bar.

Agora as filhas vão ter que trabalhar ou diminuírem seus gastos, pois sempre se aproveitaram das duas aposentadorias e quatro pensões que a velha recebia. A Tonha, que é mais feia que a fome, já candidatou-se à vaga de motorista do Trem Fantasma no novo parque de diversões da cidade. Aliás, Tonha é tão feia que parece que está do avesso. Dizem que foi concebida em uma sexta feira Santa e chuvosa. Já a obesa Nona (apelido da mais velha, pois ninguém sabe qual é o seu verdadeiro nome) deverá trabalhar em um dos clubes da cidade, como bóia do salva vidas. Mascalva, a caçula, conhecida como “Horizontal”, continuará fazendo o que sempre fez, cujos detalhes irei omitir para não constranger os leitores. Rapunzel, minha ex, não precisará de muito esforço, como aliás nunca esforçou-se, pois há oito anos tem a melhor das profissões: ex-mulher. Recebe sem trabalhar mais do que sobra de meu confiscado salário e anualmente recorre à gratuidade da Defensoria Pública para pedir aumento na pensão.

Minha chefe dispensou-me do trabalho na próxima sexta feira, para que eu pudesse comparecer à missa de sétimo dia. Mas, polidamente, recusei. Afinal, primeiro a obrigação e depois a diversão.

Finalizando: Muitas vezes perco o tempo certo para enviar estas fantasiosas crônicas ao nosso editor. Pudera. Nossa internet, quando não está inoperante, está tão lenta que adormecemos sobre o teclado antes do envio de uma mensagem qualquer. Antes de mais um processo, refiro-me a internet que tenho em minha casa, a mesma da Lan House vizinha. Prevejo, e não é muito difícil prever isto, o caos que será durante a Copa do Mundo, com a sobrecarga de transmissão de dados e imagens. Preparem-se para um apagão. Sorte de minha sogrinha que não passará por este sufoco.

* Arthur Teixeira Junior é colaborador

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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