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O dever de gratidão sob a ótica de Samuel Jonhson, Mark Twain e Antístenes

O artigo ainda trata de gratidão sob ótica de Shakespeare, Pitrigrilli, Goethe, Virgílio e Seneca.

Foto: Arquivo pessoalDesembargador Edvaldo Pereira de Moura
Desembargador Edvaldo Pereira de Moura

Des. Edvaldo Pereira de Moura

Diretor da ESMEPI e Professor da UESPI

Superado o transe do constrangimento a que fui submetido, nesses últimos dias, pelas mais cruéis, pejorativas e mendazes ofensas dirigidas à minha pessoa, contidas no Procedimento de Controle Administrativo, endereçado ao Conselho Nacional de Justiça, por um colega com quem sempre mantive cordial e respeitoso relacionamento, sinto-me no dever de agradecer, de todo o coração, as generosas manifestações de inúmeros amigos do Piauí e de outros Estados da Federação que, à maneira não de Simão - o cirineu - que ajudou Jesus Cristo a levar sua pesada cruz pela via dolorosa entre o Pretório e o Monte do Gólgota, mas de Santa Verônica que insurgindo-se, com extrema amabilidade e coragem apostólica, contra as levianas e mendazes acusações de uma “irmandade” que deseja me defenestrar do Judiciário a que sempre servi, com inexcedível zelo pastoral, ousaram me oferecer o apoio e o conforto de que tanto estava a precisar.

Sem maiores delongas, expresso, aqui, a minha mais profunda e sincera gratidão a esses valorosos amigos que, com coragem moral e altivez, rasgaram a mordaça do silêncio e da indiferença, para trazerem-me o bálsamo consolador e o emocionante amparo fraterno, apanágios das personalidades bem formadas.

Não estou, apenas, agradecendo aos que me acudiram, obrigados pelo dever de não calarem, diante de um ato mesquinho, pusilânime e injusto, de que fui alvo, porque fazer justiça é o primeiro dever dos que se encarregam de tão árdua, ingente e nobre missão. Apraz-me, sim, expressar esse nobre sentimento humano, a cada um dos que me confortaram, sem outra vantagem, que não fosse o espontâneo gesto de grandeza moral e de solidariedade, próprio dos homens de bem.

Faço-o, porque sempre valorizei as manifestações fraternas, sempre me comovi com as ajudas espontâneas, altruísticas, corajosas e incondicionais, prestadas no momento certo, solicitadas ou não, embora traga dentro de mim as chagas abertas de, como no apólogo de Machado de Assis, já ter servido, em repetidas oportunidades, como agulha para muitas linhas ordinárias, hoje em posições estratégicas, como impiedosos algozes.

Samuel Johnson, com precisão cirúrgica, afirmava que a gratidão é produto da grandeza moral e cultural e não se encontra ela entre pessoas vulgares. O grande escritor e humorista Mark Twain, reservou à ingratidão uma citação clara e duramente sensata: "Se recolheres um cachorro faminto e lhe deres conforto, ele não te morderá. Eis a diferença entre o cachorro e o homem." Antístenes de Atenas já dizia, há mais de cinco mil anos, que a gratidão é a memória do coração. Para Shakespeare, a gratidão é o único tesouro dos humildes. Na visão do grande romancista italiano Pitigrilli, agradecidos são aqueles que ainda têm algo a pedir. Goethe sempre asseverava: "A ingratidão é sempre uma forma de fraqueza. Nunca vi homens valorosos serem ingratos".

Virgílio, o grande mestre da latinidade clássica, sentenciava: "Enquanto os rios correrem para o mar, os montes fizerem sombra aos vales e as estrelas fulgirem no firmamento, deve durar a recordação do benefício recebido, na mente do homem reconhecido." "Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação da sua dívida”, dizia o filósofo Sêneca.

Depois de longa e penosa caminhada, vencendo e perdendo certas batalhas, constituindo sólidas amizades e inimigos figadais, a quem muito ajudei, continuo, resolutamente, em busca da ambiência sadia de que necessito para viver em paz, a exemplo do rio a que se refere Khalil Gilbran, olhando para trás, analisando a sinuosidade do trajeto percorrido, refletindo sobre os óbices enfrentados, rumo ao inesperado e desconhecido, sem saber o que irei encontrar na perigosa imensidão e na abissal profundidade do oceano da vida, em que irei conviver, com ferozes e temíveis animais, como o Leviatã de Thomas Hobbes.

Sem poder refluir, porque tudo está in fieri, em permanente mudança e transformação, transformo-me em oceano, mas volto-me à condição de rio para, nas grandes tempestades, transformar-me a água potável, a fim de saciar a sede dos que precisarem desse líquido doce e salutar.

Como aquele rio ressuscitado, desejo ainda ser útil, nos limites de minhas possibilidades, a todos os que de mim precisarem, inclusive, aos que desconhecem a importância e o sentido do sentimento nobre de gratidão, cobrado até por Jesus Cristo, no episódio dos leprosos e sobre o qual, São Tomás de Aquino, autor da Suma Teológica, escreveu o seu Tratado, estabelecendo os seus três níveis: o superficial, o intermediário e o profundo.

Por fim, não posso deixar de ressaltar que ser agradecido não é penhor exclusivo do ser humano, que se projeta acima da mediocridade, pois até os animais irracionais, às vezes, nos são gratos e afetivos, como prova o nosso dia a dia, em que eles reconhecem os seus donos pelo faro e lhes agradecem, quando são alvos do carinho e do cuidado, com que são tratados.

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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