A disputa em torno do decreto presidencial que reajusta as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) provocou um confronto direto nesta quarta-feira (25) entre os líderes do PT e do PL na Câmara dos Deputados. O embate evidenciou o acirramento político no Congresso, envolvendo críticas ao presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), e reacendeu tensões sobre a condução da política econômica do Governo Lula.
O líder do PT, deputado Lindbergh Farias (RJ), condenou com veemência a decisão de Motta de pautar, de forma inesperada, a votação do projeto que susta o decreto assinado pelo presidente Lula. “Foi um erro grave. Colocar o Coronel Chrisóstomo como relator parece uma provocação infantil em um tema tão importante”, declarou Lindbergh, após reunião com líderes da base no Palácio do Planalto.

O parlamentar classificou a medida como uma tentativa de setores oposicionistas de enfraquecer o governo e antecipar o debate eleitoral de 2026. Segundo ele, a aprovação do projeto pode impor ao Executivo um contingenciamento imediato de R$ 12 bilhões. “É temerário pautar um tema dessa relevância sem quórum em Brasília, ainda mais no meio das festas de São João”, criticou.
Mesmo com o esvaziamento da Câmara, o projeto voltou à pauta nesta quarta. A urgência para sua tramitação havia sido aprovada em 16 de junho por ampla maioria: 346 votos favoráveis, incluindo partidos da base como União Brasil, PP, Republicanos, PSD, MDB e PDT, deixando isolados apenas PT, PSB e PSOL.
Do outro lado, o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), rebateu as críticas de Lindbergh e responsabilizou o governo pela crise fiscal e pela paralisia política. “Estamos diante de um governo inerte, analógico, que não reagiu desde a aprovação da urgência”, disse. Sóstenes afirmou que o presidente Hugo Motta havia alertado sobre a possibilidade de votação caso o governo não se movimentasse.
Em tom provocador, o líder do PL associou a votação ao aniversário de fundação do partido: “Hoje é aniversário de 40 anos do PL, e vamos dar um presente ao povo brasileiro derrubando esse aumento disfarçado de imposto”. Segundo ele, o projeto não deve ultrapassar 310 votos, mas a maioria será “sólida”.
Sobre as críticas à escolha do relator, Sóstenes foi categórico: “O coronel Chrisóstomo é um deputado legítimo, indicado pelo maior partido da oposição. Nesta Casa, todos os 513 parlamentares são iguais”. Ele também apontou a greve dos auditores da Receita Federal — que já ultrapassa 200 dias — como fator de desorganização fiscal, e disparou contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad: “Não é economista, não entende de economia e agora quer se meter na política”.
A votação do mérito promete ser mais um capítulo de desgaste para o governo no Congresso e reforça a fragilidade de articulação da base aliada no parlamento.
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