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São Félix do Piauí - Piauí

Pesquisa mostra importância das farinhadas no Estado do Piauí

O projeto é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí (Fapepi), que concede bolsas de iniciação científica para os alunos que participam do grupo de pesquisa.

Alunos do ensino médio do Instituto Federal do Piauí (IFPI), sob a coordenação do professor Rodrigo Gerolineto Fonseca, estão investigando a importância da atividade na formação da identidade dos moradores da Serra do Tanque, localizada entre os municípios de Santana do Piauí e Picos.

O projeto é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí (Fapepi), que concede bolsas de iniciação científica para os alunos que participam do grupo de pesquisa. O coordenador do projeto destaca que o interesse por investigar o tema surgiu com a descoberta de que um de seus alunos reside na Serra do Tanque e, ao visitar a região, o professor conheceu uma casa de farinha e achou interessante a alegria com que as pessoas realizavam a farinhada. Atualmente, o grupo de pesquisa é formado por quatro bolsistas e um pesquisador voluntário, que é justamente aquele que apresentou ao professor a atividade realizada na Serra do Tanque.

O professor Rodrigo Gerolineto destaca que a atividade, também conhecida como desmancha, realizada entre os meses de junho e agosto, tem perdido adeptos na região, fato que coloca em risco a tradição da cultura regional. “A Serra do Tanque já abrigou cerca de trinta casas de farinha. No ano de 2016, apenas cinco delas realizaram a desmancha”, lamenta o docente.

  • Foto: DivulgaçãoFarinhadaFarinhada

Diferente da produção nas fábricas convencionais, mesmo as que utilizam técnicas artesanais, a farinhada constitui um bem da cultura imaterial. Trata-se de evento que congrega agricultores e seus familiares, vizinhos, amigos, podendo complementar a mão de obra necessária com a contratação de trabalhadores diaristas. Elemento importante na composição da renda familiar, a farinhada estreita os laços sociais, permite a troca de experiências e preserva a cultura. A participação dos jovens é a garantia da transmissão desse saber às novas gerações.

“A farinhada permite o aproveitamento de produtos como o cascalho e o leite (água usada na lavagem da massa) que são usados na alimentação de animais. Esta prática cultural tem sido um termômetro das condições de vida dos agricultores, além de contribuir para sua permanência no campo. Em geral, quando os produtores deixam de realizar a farinhada, significa que fatores econômicos ou climáticos têm afetado significativamente suas vidas”, afirma Rodrigo Gerolineto.

Para conhecer a relevância deste bem cultural na formação da identidade dos moradores da Serra do Tanque, a pesquisa tem abordado as histórias de vida dos farinheiros e ex-farinheiro e, de acordo com essa abordagem, é possível perceber a ligação afetiva com este “saber fazer” que delimita episódios marcantes, como a aquisição de uma pequena propriedade ou o aprendizado, ainda na infância, junto a mães, pais ou avós já falecidos.

O coordenador destaca que, com os depoimentos coletados durante a pesquisa, será feito um documentário, que pretende valorizar e promover este patrimônio imaterial brasileiro. “O documentário não tem a pretensão de se destacar como obra cinematográfica, mas de popularizar a produção científica e estreitar os laços com a comunidade, retornando ao público o investimento feito em nosso trabalho. Trata-se de um esforço em encontrar novas linguagens e suportes para comunicar a produção acadêmica e coletivizar o acesso ao conhecimento. Para isso, temos ainda o apoio do Pibex e do Pibic Jr. do IFPI”, destaca o professor.

Riscos à atividade

Durante os estudos, o grupo tem identificado alguns aspectos que são determinantes na redução da atividade na região da Serra do Tanque, como a redução da produção das roças de mandioca, localizadas na cidade de Marcolândia, devido à escassez de chuvas, e o aumento dos custos de produção.

Além disso, as mudanças características dos processos de globalização agravam esse quadro. No plano econômico, o encurtamento das distâncias e a dinamização da economia regional, já que Picos é uma cidade polo, facilitam tanto as mudanças nos hábitos de consumo, como o ingresso de novos produtos concorrentes com a goma produzida na região.

Já no plano cultural, a pesquisa constata que o crescimento urbano de Picos tem atraído os jovens com ofertas de trabalho, estudo e lazer. Assim, a formação destes jovens e seus projetos pessoais se distanciam do ritmo da vida na comunidade rural, onde se dá a transmissão geracional do bem imaterial. Ao mesmo tempo, a eletrificação permitiu a chegada da internet, vetor tecnológico impulsionador de novas práticas de consumo cultural entre os jovens e novos padrões de sociabilidade.

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