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Teresina - Piauí

Criança pode ter sido queimada viva durante ritual em Teresina

O relato macabro foi feito pela mãe da criança de 1 ano e nove meses a conselheira Socorro Arraes.

A conselheira Socorro Arraes, do Conselho Tutelar da zona leste de Teresina, concedeu entrevista ao GP1 nessa quinta-feira (24) e narrou, ponto a ponto, o relato macabro da mãe do bebê Wesley Carvalho Ferreira, de 1 ano e 9 meses, que foi assassinado durante um ritual com a participação de familiares, entre eles um suposto ‘profeta’, de apenas 12 anos, no Povoado São Bento, zona rural leste de Teresina.

Conforme o relato da própria mãe, a criança passou fome, sede e ficou sem banhar por vários dias e pode ter sido queimada viva em uma caeira.

Foto: Reprodução/WhatsAppWesley Carvalho Ferreira
Wesley Carvalho Ferreira

Sumiço da criança

Socorro Arraes relatou que o caso foi descoberto após a tia materna do bebê notar o sumiço da irmã e do sobrinho, quando então passou a procurá-los com outros familiares. A tia da criança, no entanto, só conseguiu encontrar a irmã em uma residência na Vila Joana d'Arc, onde a mãe relatou o falso sequestro da criança.

“A família materna começou a perceber que não tinham mais notícias dos dois e ninguém atendia o telefone. Com isso, a tia da criança, um irmão dela e o esposo resolveram ir até o sítio onde a mãe do bebê morava, que fica no Povoado São Bento, depois da Santa Teresa. Quando eles chegaram, não encontraram ninguém. Disseram somente que eles não moravam lá. Então procuraram em outro endereço na Vila Uruguai e lá eles relataram que foi muita luta para entrar, mas conseguiram. Quando chegaram, perguntaram pela mãe da criança, mas disseram que ela tinha saído, no entanto, ela saiu de dentro de um quarto e a irmã perguntou o que aconteceu, então ela disse que sequestraram o Wesley”, relatou.

Em seguida, a irmã convenceu a mãe da criança a ligar para o Conselho Tutelar e fazer um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil sobre o suposto sequestro relatado por ela. “Elas então ligaram para o Conselho Tutelar, mas como era caso de sequestro e não somos nós, nesse caso é a polícia, mas achamos muito estranho, porque 43 dias e ninguém tinha registrado um B.O. No meio disso, a avó paterna disse que ela [família materna] não tinha que se meter no caso, que quem resolveria seria o pai e a mãe. Ou seja, existia uma pressão psicológica na mãe, sendo que ela já tem um déficit, não estamos isentando, mas foi aí que elas registraram e foi quando a polícia entrou no caso”, detalhou.

Denúncias e relatos de gritos

Apesar do caso já estar com a polícia, a conselheira tutelar relatou que recebeu novas denúncias sobre a família paterna da criança e, juntamente com outra conselheira, foi até o Povoado São Bento para falar com a família e a vizinhança. Na oportunidade, os vizinhos relataram que ouviam gritos vindos da terreno onde moravam os pais com a criança.

“Nós começamos a receber denúncias sobre a família do pai, então eu fui com a conselheira Tatiana na Santa Teresa, fomos até o sitio da família, lá eles conversaram com a gente e dissemos que eles tinham que dizer a verdade, dizer onde estava o filho. Quando a gente foi, a mãe já tinha retornado para essa localidade na Santa Teresa e já tinha registrado o B.O do suposto sequestro. Ouvimos a vizinhança e todos diziam a mesma coisa, que ouviam gritos, que eles matavam galinhas, enfim, mas não sabiam o que tinha acontecido”, pontuou.

Foto: Alef Leão/GP1Conselheira tutelar Socorro Arraes
Conselheira tutelar Socorro Arraes

Nova versão do caso e confissão sobre o ritual e jejuns

No mesmo dia, após a visita das conselheiras, a mãe da criança foi até o Conselho Tutelar, na companhia da mãe e da irmã, e contou uma nova história do que ocorreu com o filho. Ela explicou que a criança, juntamente com toda a família, passou por um ritual e que precisavam ficar de jejum sem se alimentar e sem beber água.

“Ela veio aqui, pediu para a mãe e para a irmã que queria conversar com as conselheiras para falar a verdade. Foi quando ela contou que se afastou da igreja e, com a família do pai da criança, tinha que fazer jejum e rituais de oração, seguindo um livro intitulado do profeta, que era quem fazia todo esse regimento. Era jejum alimentar, de água e de higiene, ninguém comia, bebia e se banhava. Aí ela disse que questionou sobre crianças, porque o filho só tinha 1 ano e 10 meses, e disseram que as crianças também tinham que fazer [ritual e jejum]. Ela disse que um dia pediu para a sogra fazer um mucilon, porque o filho dela gostava de mucilon, e a resposta que encontrou foi que enquanto não terminasse o ritual, enquanto não quebrasse a maldição, ninguém ia se alimentar”, revelou a conselheira.

Continuando o relato, a mãe da criança confirmou que no dia 29 de dezembro, durante o ritual com o jejum, o bebê começou a chorar e parar de respirar, momento em que entregou o filho ao pai e avós paternos da criança, no entanto, eles não levaram o menino para o hospital. “Quando foi no dia 29 o bebê começou a chorar, ela colocou ele no braço, ele foi parando parando, parando e quando ele se acalmou ela disse que colocou a mão no nariz e disse que ele não estava respirando. Ela disse que chamou o pai para levar o bebê ao hospital, porque ela disse que estava muito fraca. Então, segundo ela, o pai, o suposto profeta e os avós paternos saíram com a criança”.

Família paterna relatou que jogou a criança em uma caeira

A mãe da criança também disse para a conselheira que quando os familiares chegaram, apenas afirmaram que tinham jogado a criança em uma caeira. “Ela então relatou que quando a família retornou, já retornaram sem o bebê. Então ela disse que perguntou - Cadê o Wesley? - e eles disseram - jogamos na caeira - simples assim, jogaram a criança na caeira”, pontuou.

Crime bárbaro

A conselheira tutelar afirmou que o crime foi bárbaro e cruel, principalmente, sendo praticado pela própria família. “Eu acho uma barbárie, foi um crime cruel, não sei se essa criança tinha vindo a óbito antes de ser jogada dentro do fogo. A gente não pode confirmar se ela ainda estava viva, porque não foi feito um exame e a mãe não tem segurança de sim e de não, mas tinha um sacrifício para quebrar a maldição [nesse ritual]”.

Pais seguiam 'profeta' de 12 anos

A conselheira Socorro Arraes afirmou em entrevista ao GP1 que a mãe de Wesley Carvalho Ferreira, de 1 ano e 9 meses, revelou em depoimento que o suposto "profeta" que a família do esposo cultuava trata-se de um adolescente de 12 anos.

Segundo a conselheira tutelar, o adolescente, que seria o suposto "profeta", é parente do pai da criança assassinada. “Ela disse que é um adolescente da mesma família, que parece que tem 12 anos. A família toda morava no mesmo espaço aqui em Teresina. Segundo alguns vizinhos, ele estava num culto, levantou e disse que era um profeta”, afirmou Socorro Arraes.

Em entrevista ao GP1, nesta quinta-feira (24), o delegado Matheus Zanatta, Gerente de Polícia Especializada, ratificou que há suspeita de que a criança possa ter sido jogada em uma caeira ainda com vida, no entanto, somente no decorrer das investigações e demais coletas de provas e depoimentos a versão poderá ser confirmada ou não.

“Existem indícios, tendo em vista que em um dos depoimentos foi afirmado isso, mas isso precisa ser esclarecido com as investigações”, pontuou.

Foto: Alef Leão/GP1Delegado Matheus Zanatta
Delegado Matheus Zanatta

Na manhã dessa quarta-feira (23), os policiais da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) estiveram na residência onde a família morava para realizar diligências complementares, no entanto, não havia ninguém no local.

Entenda o caso

O delegado Matheus Zanatta, gerente da Polícia Especializada da Polícia Civil do Piauí afirmou que Wesley Carvalho Ferreira, que desapareceu no final do ano passado, teve o corpo queimado após um ritual satânico com a participação dos próprios pais no Povoado Santa Teresa, zona rural de Teresina.

Com a reviravolta do caso, está descartada a hipótese de sequestro, como havia sido informado falsamente pelos pais e avós do bebê. “Eles [pai, mãe e avós] já foram interrogados e existem alguns fatos obscuros e controversos que precisam ainda ser esclarecidos. A Polícia Civil descarta a hipótese de sequestro e trabalha com outras linhas de investigação. Uma delas é que a família da vítima ficou em jejum duas semanas, orando, e depois sacrificou a criança, colocando fogo no seu corpo”, revelou o delegado.

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