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Política

Fantástico repercute o caso da funcionária da Assembléia Legislativa do Piauí presa no Rio

Segundo a polícia, a quadrilha anulou multas, falsificou documentos para liberar ilegalmente veículos rebocados e também furtou carros.

O Fantástico, da Rede Globo de Televisão mostrou na noite de ontem, 10, reportagem em que repercute o caso da funcionária da Assembléia Legislativa do Piauí – ALEPI, presa no Rio de Janeiro acusada de fraude. Confira a matéria:

Quadrilha de reboques rouba carros dentro de depósito

Segundo a polícia, a quadrilha anulou multas, falsificou documentos para liberar ilegalmente veículos rebocados e também furtou carros.


Na madrugada da última quinta-feira (7) no Rio de Janeiro, 90 policiais começam a desmontar uma quadrilha sem igual na história da cidade.

Dezenove integrantes são presos. Entre eles, um funcionário da prefeitura do Rio capturado dentro da Secretaria Municipal de Transportes.

Pego de surpresa, ele quer que o policial fale com a chefe dele. Segundo a polícia, durante pelo menos um ano a quadrilha anulou multas, falsificou documentos para liberar ilegalmente veículos rebocados e também furtou carros guardados dentro dos depósitos públicos.
Para mostrar como eles agiam, o Fantástico tentou liberar um carro rebocado. Quando a equipe de reportagem começou a negociar com a operadora da quadrilha, ela aproveitou para contar como era eficiente.

“Caraca’, eu tirei agora mais de cem multas de um cliente meu”, comentou a funcionária. Mas, ao ser presa, ela veio com outra conversa. “A senhora é despachante?”, pergunta o repórter. “Não”, responde a mulher.

Saiba como eram praticados os golpes da máfia dos reboques

No início da semana, o Fantástico estacionou um carro em um local proibido em frente à prefeitura do Rio. O carro foi devidamente multado e rebocado. A equipe de reportagem telefonou para a despachante, e ela marcou o encontro.

“A senhora acha que dá para a gente tirar esse carro hoje?”, pergunta o repórter. “Leva os documentos que eu vou analisar”, disse a despachante. O "escritório" dela é um bar.

Mas nós não levamos os documentos do dono do carro. Ela diz, então, que pode usar os documentos do repórter, mesmo ele não sendo o proprietário do veículo apreendido. “Preciso por e-mail da cópia da sua identidade ou habilitação”, orienta a despachante.

Para ela, é mais fácil falsificar uma carteira de identidade do que uma de motorista. “Para a gente montar na carteira de motorista é pior do que na identidade, não é isso? Tem isso”, diz a despachante.

A equipe do Fantástico não entregou nada, nem fez a transação para liberar o carro ilegalmente. A quadrilha falsifica documentos, também, para liberar dos depósitos carros de quem já morreu. É o que quer um cliente. “Meu sogro faleceu, nós não sabíamos da existência do carro”, contou.

Em um telefonema gravado pela polícia, Maria do Perpétuo Socorro avisa ao ajudante dela que precisa liberar o carro de outro morto.

Socorro: Pelo amor de Deus! Amanhã ‘tu pode’ ir cedo, que chegou um morto pra nós?
Cidinho: Oh, claro. Sim! Sim!

Já em uma conversa com Angelo de Araújo, o supervisor de um dos depósitos públicos, Socorro diz que a quadrilha ganha mais dinheiro anulando multas.

Socorro: Vou te explicar mais ou menos como é que é. O cara tem multa, vou dar meu jeito.
Angelo: Beleza.
Socorro: Isso a gente ganha um dinheiro.

Segundo a polícia, quem apagava as multas era Marcelo Lopes, o homem que foi preso na Secretaria de Transportes. Ele trabalhava, justamente, no setor de recurso de multas. Já Maria do Perpétuo Socorro é funcionária da Assembleia Legislativa do Piauí. Ganha R$ 2.250 brutos.

“Essa servidora está de licença-prêmio, durante seis meses, para acompanhar o tratamento de sua filha, no Rio de Janeiro”, afirmou Temístocles Filho, presidente da Assembleia Legislativa do Piauí.

As investigações mostram que, pelo menos, 40 carros foram furtados depois de rebocados.`

Um dos veículos era de um homem. “Eu paguei tudo, que era para eu ir buscar o veículo. A funcionária lá passou o rádio para o depósito onde eu ia buscar, aí ninguém sabia aonde estava meu carro”, conta.

Outra vítima do furto diz que chegou a ver o carro dentro do depósito. “Além de ver, eu estive dentro do meu carro. Eu fui até o depósito, no mesmo dia. O carro foi deslacrado, novamente lacrado, e assinado por mim. Uma vez que os documentos estavam no interior do veículo, e eu tive que retirar esse documento de dentro do veículo. Deixaram eu entrar no carro”, lembra o advogado Paulo Henrique Oliveira.

Em um dos depósitos, o maior da cidade, funciona também o escritório que concentra toda a documentação das apreensões feitas diariamente. Segundo a polícia, por causa da facilidade de acesso às informações de proprietários e veículos, foi montada uma espécie de central da quadrilha.

Em média, quatro mil veículos são apreendidos por mês na cidade. A maioria dos envolvidos no esquema era funcionária da empresa Locanty, que tem o contrato de gerenciamento dos depósitos e do próprio serviço de reboques. Entre os presos, estão todos os supervisores dos depósitos e o chefe deles, Rogério, mostrado no início da reportagem.

“É inadmissível que um serviço público tão importante para a sociedade seja prestado por pessoas que não tinham fiscalização nenhuma”, protesta o delegado Márcio Mendonça.

A equipe do Fantástico entrevistou o secretário da Ordem Pública da Prefeitura no Rio de Janeiro, Alex Costa, responsável pelo contrato com a Locanty. E a prefeitura diz que o problema é da empresa Locanty.

Repórter: O senhor avalia que não houve falha na fiscalização do contrato?
Alex Costa: Por parte da prefeitura, não. Por parte da empresa, total.

A prefeitura anunciou que vai romper o contrato com a Locanty. “Não tem a menor condição de dar continuidade ao contrato, a menor condição de manter os serviços que a prefeitura deseja que se mantenha para servir a cidade do Rio de Janeiro”, afirma o secretário Alex Costa.

A Locanty tem outros contratos com a prefeitura para limpeza e conservação, além de uma concessão para recolhimento de lixo. Em nota, a empresa afirma que não tem responsabilidade sobre os crimes e se diz vitima de ex-funcionários e terceiros.

“O que me interessa é saber onde está meu carro. Quem retirou o meu carro? Com que documento retiraram meu carro? Só isso que eu queria saber”, disse o advogado Paulo Henrique Oliveira.

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