O algoritmo das redes sociais é uma arquitetura de controle baseada em inteligência artificial, aprendizado de máquina e mineração de dados. Ele opera a partir de uma lógica fundamental: capturar, processar e utilizar dados comportamentais dos usuários para maximizar a permanência na plataforma.
Como explica Shoshana Zuboff no livro A Era do Capitalismo de Vigilância, o excedente comportamental — que são todos os rastros digitais deixados pelos usuários, como cliques, curtidas, comentários, tempo de tela, rolagens e até pausas em determinados vídeos — é convertido em modelos preditivos. Esses modelos não apenas antecipam o que você vai fazer, mas também moldam decisões, hábitos e opiniões.
Na política, isso tem um impacto direto e brutal, porque o algoritmo não é neutro. Ele não mostra simplesmente o que existe; ele filtra, seleciona e prioriza aquilo que gera mais retenção, tensão e engajamento. Como alerta Bruno Palma no livro O Algoritmo do Poder, as plataformas se tornaram verdadeiras arenas de guerra informacional. Quem entende os gatilhos algorítmicos domina a percepção pública. Palma reforça que a disputa política atual não é mais pelo espaço físico, nem mesmo pelo espaço público tradicional. É pelo espaço digital, onde o algoritmo decide quem é visto e quem é silenciado.
Cathy O’Neil, no livro Algoritmos de Destruição em Massa, explica que esses sistemas operam a partir de machine learning, realizando testes constantes, como o teste A/B. Esse teste consiste em entregar uma publicação para uma pequena amostra dos seguidores. Se esse grupo reage rapidamente — com comentários, compartilhamentos, salvamentos e, principalmente, tempo de retenção — o conteúdo é impulsionado organicamente.
Se essa resposta não ocorre, o conteúdo sofre o chamado rebote algorítmico, ou seja, ele para de ser entregue e desaparece do feed. Isso significa que o algoritmo cria uma espécie de meritocracia da atenção, onde não vence quem fala mais bonito, nem quem é mais qualificado. Vence quem entende como ativar os gatilhos certos, que disparam reações emocionais, cognitivas e sociais no público.
Na política, isso fica muito claro quando analisamos campanhas, perfis e figuras públicas que crescem não necessariamente pela qualidade das propostas, mas pela capacidade de gerar conteúdo que provoca indignação, surpresa, medo ou validação identitária.
Plataformas como Instagram, TikTok, YouTube e Facebook operam sob uma lógica de priorização baseada em três pilares principais:
O primeiro é o engajamento comportamental, que observa tudo que você faz, inclusive o que você não clica, mas assiste, lê ou simplesmente para para observar.
O segundo é a relevância contextual, que cruza seus dados com eventos, tendências, geolocalização e padrões coletivos para oferecer aquilo que está mais quente no momento.
O terceiro é a retenção, ou seja, quanto tempo você permanece dentro da plataforma consumindo aquele conteúdo.
E aqui está o ponto chave: o algoritmo político não é apenas uma ferramenta de distribuição de conteúdo, ele é uma verdadeira máquina de engenharia social, porque ele constrói realidades diferentes para públicos diferentes.
Quem é de esquerda vê um mundo, quem é de direita vê outro, e quem é do centro muitas vezes nem aparece. Como explica Eli Pariser no livro O Filtro Invisível, o algoritmo cria bolhas de filtragem que isolam os indivíduos dentro de suas zonas de conforto ideológico, o que reduz o debate, amplifica o extremismo e gera efeitos colaterais profundos na democracia.
Isso explica por que nas redes quem faz posts tradicionais como “visitei tal comunidade, ouvi demandas, conversei com moradores” simplesmente não tem alcance. Esse tipo de conteúdo não ativa nenhum dos gatilhos que o algoritmo prioriza.
Agora, quando alguém posta “isso é um absurdo, estão destruindo nosso estado, e sabe quem é o culpado?”, imediatamente o algoritmo entende que aquilo gera tensão, comentários, compartilhamentos e mais tempo na plataforma, e portanto impulsiona.
Em resumo: quem domina os códigos invisíveis do algoritmo domina a opinião pública. Quem não entende, simplesmente não aparece. O novo campo de batalha político não é mais o palanque, é o feed. Não é mais o discurso, é o dado. E não é mais quem tem mais dinheiro, é quem tem mais atenção.
José Trabulo Júnior - Publicitário, criador da X Conexões Estratégicas
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*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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