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O escritor Moacyr Scliar, com sapiência e sensibilidade, em seu artigo "Currículos", publicado no jornal Zero Hora, de 20/06/2009, aborda o caso de um cidadão "comum" - igual a muitos brasileiros desempregados e sem perspectivas neste País cheio de políticos corruptos - que foi preso no Rio de Janeiro, após assaltar, junto com dois companheiros, uma van de transporte coletivo.Relata o escritor: "E foi preso por causa de sua distração: na fuga, esqueceu a mochila, onde estava um currículo com vários de seus dados, incluindo o endereço. Igualmente engraçado, ou aparentemente engraçado, é o fato de que, no currículo, Everton se descreve como educado, de fácil trato, com facilidade para trabalhar em equipe, muita vontade de crescer profissionalmente e disponibilidade de horários".

Com objetividade e de uma leitura fácil, o artigo "Currículos" nos remete aos políticos (e governos) que deveriam estar empenhados em resolver os problemas sociais votando as leis deste País. Em vez de, por exemplo, o Senado Federal - uma excrescência porque já existe a Câmara dos Deputados - negligenciar o cumprimento de suas funções constitucionais, hoje transformado numa autêntica "casa dos horrores", onde tudo acontece de podridão, deveria estar trabalhando para que outros "Everton Cleiton" não figurassem nas estatísticas policiais.Certamente, se o nosso País não fosse regido por esses (políticos) apedeutas, de todas a matizes, não faltaria dinheiro para aplicar no social, e o infortunado Everton Cleiton, 21 anos, não estaria plagiando currículo nem assaltando ninguém. Mas o retrato do Brasil é este: um pobre e jovem cidadão, cansado por não encontrar emprego, resolve assaltar e é preso; no Senado Federal, uma quadrilha, do alto e baixo clero, malversa o dinheiro público, enxovalha a sua imagem e não é presa; o presidente do Senado, o imperador do Maranhão, José Sarney, mas eleito pelo Estado do Amapá - uma anomalia histórica da política nacional - desafia a todos dizendo que tem conduta "impoluta" e que tudo não passa de conspiração social (imprensa) contra a "candidez" dos políticos nacionais.E dessa forma, o Brasil segue o seu caminho tortuoso de contrastes (sociais). Enquanto o mordomo da ex-senadora e agora governadora do Maranhão, Roseana Sarney, presta-lhe triviais serviços particulares, recebendo dos cofres públicos do Senado a bagatela de R$ 12 mil de salários; o diretor-administrativo-financeiro, Raimundo Nonato Quintiliano Pereira Filho, da Fundação José Sarney, em São Luís, lotado no gabinete do senador Lobão (pai e agora filho), desde 1995, mas não dá expediente em Brasília, recebe dos cofres públicos R$ 3,2 mensais; quis o destino - não sei por quê - que o nosso brasileiro Everton Cleiton não fosse também bafejado pela sorte de ter um padrinho político da família Sarney.

*Julio César Cardoso, bacharel em Direito e servidor fedral aposentado

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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