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Espera-se que a prisão de um juiz e mais nove pessoas flagradas pela Polícia Federal em negociatas com terras públicas possa produzir mais do que a impressão de que algo de bom está acontecendo no campo da preservação do patrimônio do estado. Não seria demais desejar que venha punição efetiva para essa gente aí. Principalmente, para aqueles que são pagos com dinheiro do cidadão e que, em tese, deveriam zelar pela boa conduta e a prática correta de ações em benefício da sociedade. É o que se espera. É o que vai acontecer? Sabe-se lá.

Não custa nada duvidar. A sociedade anda tão descrente no poder público que as questões mais comezinhas, mais óbvias, parecem difíceis de serem levadas a cabo. Aos olhos do cidadão comum - e do cidadão não tão comum assim -, sempre haverá algum poderoso capaz de se sobrepor ao direito de todos. A impunidade cria a sensação de que tudo é possível. O caso da venda de terras do estado é sintomático.

Tão eficiente em suas ações e, por isso mesmo, respeitada e acreditada junto à sociedade, a PF chegou aos acusados por vias tortas. Uma outra investigação levou ao caso. Até parece que nunca se ouviu falar em grilagem de terras nos cerrados. Ou, mais precisamente, em roubo de terras do estado com a conivência de órgãos do próprio estado e de servidores da Justiça.

Converse com qualquer produtor de grãos dos cerrados e ele dirá o que acontece quando algum deles precisa de um documento junto aos órgãos estaduais e federais ligados à terra. Interpi, Ibama, Secretaria do Meio Ambiente, Incra. Ninguém escapa. A propina corre solta. Aliás, correção: não é propina. Propina, diz o Aurélio, é uma "gratificação", uma "gorjeta" que se dá a alguém quando se quer agradar por uma tarefa realizada. No caso em questão, os servidores fazem é achacar mesmo os produtores.

Agentes públicos pagos por mim, por você e pelo contribuinte em geral para prestar serviços à sociedade cobram caro por um simples licenciamento de desmatamento. Coisa de R$ 30 mil, R$ 50 mil, R$ 70 mil. Não é pouca coisa. É improvável que a Polícia e os órgãos de proteção e a defesa da sociedade não tenham conhecimento de tais práticas. Talvez não tenham, isso sim, elementos suficientes para atacar o mal.

Mas não é difícil conseguir esses elementos. Desde que, evidentemente, alguém queira investigar. Os produtores dos cerrados falam dessas coisas não apenas com revolta e indignação, mas também com um enorme desejo de contribuir para que alguém, um dia, possa ser preso e punido e eles possam ser tratados com dignidade quando precisarem recorrer aos órgãos públicos. Que tal começar ouvindo esses produtores?

*Zózimo Tavares é jornalista e editor chefe do Jornal Diário do Povo

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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