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O Parlamento brasileiro, infelizmente, é o reflexo da pouca seriedade do eleitor, que vota em qualquer um. Contribui para isso o indecoroso voto obrigatório, que os políticos teimam em não expurgá-lo de nossa Constituição para preservar as suas facilidades eleitorais. E é justamente a decepção com a falta de seriedade de nossos políticos, que pouco produzem de útil ao país, que leva muitos eleitores a externar o seu descontentamento votando em candidatos bizarros como Tiririca e outros mentecaptos do Congresso Nacional. Se essas demonstrações negativas da sociedade, que não são de hoje, fossem levadas a sério pelos tribunais eleitorais e partidos políticos, certamente o poder constituído pertinente não estaria pagando o mico por ter autorizado a candidatura de quem se supunha analfabeto, e agora eleito legitimamente por mais de 1,3 milhão de votos. Pretender impugnar a eleição de Tiririca a esta altura do campeonato, não deixa de ser uma grande presepada de nosso Judiciário.

Mas o Brasil está cheio de atitudes quixotescas. Pois bem, na contramão do esforço governamental e de todos os brasileiros que desejam erradicar o analfabetismo do país, bem como ver este torrão verde-amarelo conduzido por cidadãos alfabetizados em todos os níveis escolares, eis que surge das trevas do inferno a voz do senador “evangélico” Magno Malta (PR-ES) propondo a eleição de analfabetos. E depois não querem que a sociedade se indigne com a manutenção do Senado Federal. Com algumas exceções, o Parlamento está repleto de políticos de idéias estapafúrdias, os quais só sabem gastar o dinheiro do contribuinte para mal representar a população. Aliás, os representantes do todas as igrejas estão de viés trocado. Deveriam estar trabalhando dentro de suas instituições religiosas e não usufruindo das benesses públicas.

O fato de o país ter 14 milhões de analfabetos não justifica a sua representação específica no Congresso. Se fosse assim, teriam que ter assento no Congresso Nacional também os representantes de traficantes, de larápios, de prostitutas etc. Para que o senador Malta, infelizmente, foi eleito? Não foi para representar todos os segmentos sociais no Parlamento? Ou o senador quer fazer média eleitoral com essa fatia de analfabetos? Tenha senso de ridículo, senador! Enquanto se defende a educação formal para todos, para que o país cresça culturalmente em prol de seu desenvolvimento, o representante capixaba vem retroceder para permitir que pessoas analfabetas exerçam mandatos políticos. Por que o senador não se empenha para banir o analfabetismo de 14 milhões de cidadãos brasileiros em vez de vir fazer demagogia barata?

Não basta só ter caráter, sentimento e coração para exercer o Parlamento como o senador apregoa. É preciso também que as nossas instituições públicas sejam exercidas por pessoas competentes e de boa formação cultural. Ora, é inadmissível que um representante político não tenha cultura suficiente para saber ler e entender as leis que serão submetidas no Parlamento. Se o senador peca por apenas comer pela mão dos outros, ou seja, não tem competência para redigir um projeto, não deveria subestimar a capacidade dos demais. E a bem da verdade, a Constituição brasileira não deveria permitir que um membro do Parlamento nacional não tivesse no mínimo o segundo grau completo.

Por outro lado, a ingenuidade do senador é muito grande ao afirmar que Tiririca foi eleito pelo voto de nordestinos (só de nordestinos?) e que “a coisa pegou porque Tiririca é pobre”. Senador, vá se penitenciar com Deus!

*Julio César Cardoso é bacharel em Direito e servidor federal aposentado

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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