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*Júlio César Cardoso

O movimento, que paulatinamente vai tomando corpo contra a corrupção política brasileira, deve ser uma manifestação ordeira e sem conotação de vínculo com qualquer agremiação política. Há muito tempo a situação corrupta, envolvendo direta e indiretamente membros dos legislativos na esfera federal, estadual e câmaras municipais, vem se deteriorando sem nenhuma providência substantiva dos organismos envolvidos ou atingidos.

A paciência dos brasileiros, contribuintes com alta carga tributária, começou a esgotar-se. Os exemplos vindos do exterior – Oriente Médio e Chile, onde a população descontente com os procedimentos indecorosos de políticas locais foi para as ruas exigir mudanças de comportamentos – estão servido de ânimo aos brasileiros, principalmente aos mais jovens e interessados no futuro da nação, para tomada de posição contra a corrupção endêmica aqui instalada.

A corrupção de caráter, respeitadas algumas exceções, do político nacional atinge o seu ápice quando lemos as declarações, publicadas no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, do presidente do Senado, José Sarney, que extravasam a liturgia da ética e da moralidade, sem que nenhum parlamentar tenha se manifestado e pedido a sua condenação ao Conselho de Ética.

Em agosto, o jornal Folha de S. Paulo revelou que o senador se deslocava a sua ilha particular no Maranhão em um helicóptero da Polícia Militar do Estado, governado por sua filha, Roseana Sarney (PMDB).

“Quando esses privilégios foram criados, o objetivo era que os deputados fossem livres e seus salários não os fizessem miseráveis, dependentes dos presidentes”, disse Sarney ao jornal Zero Hora.

E continuou: “Quando a legislação diz que o presidente do Congresso tem direito a transporte de representação, estamos homenageando a democracia, cumprindo a liturgia das instituições.” Então, privilégios a congressistas, no entender de Sarney, é uma homenagem à democracia? É muita ousadia e desrespeito ao Art.5º da Constituição Federal.

Assim, o Movimento contra a corrupção não deve ter participação política. Não deve servir de promoção ou vitrine política a quem quer que seja. Já estamos calejados desse tipo de esperteza. E com todo respeito, lugar de político é dentro do Legislativo defendendo os reclamos da sociedade. E é justamente o eco dessas manifestações que deve soar positivamente dentro do Congresso Nacional para que sejam mudados os rumos do país. O político não tem que se somar às multidões para reclamar do país. Ele deve exercer esse papel dentro do Legislativo.

Equivocam-se aqueles que defendem práticas ultrapassadas e eleitoreiras, afirmando que sem políticos a “marcha” não terá sucesso. A voz do povo é a voz da democracia, e ela tem que ser ouvida e respeitada. O ilustre senador gaúcho Pedro Simon tem o discernimento que falta a muitos deputados e senadores ao sublimar o valor das manifestações públicas da sociedade: "Uma coisa é deixar o Congresso Nacional falar. Outra coisa é o povo na rua se movimentando. Ficha Limpa passou por quê? Foram 1,5 milhão de assinaturas de populares, um pleito de iniciativa popular e, depois, mais 4 milhões assinaram em solidariedade".


*Júlio César Cardoso
Bacharel em Direito e servidor federal aposentado


*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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