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Aquele rapaz só podia ser um assessor parlamentar desses que tira foto, busca água, atende telefone


*Zé da Cruz

Imagem: Divulgação / GP1Zé da Cruz poeta e liderança comunitária(Imagem:Divulgação / GP1)Zé da Cruz poeta e liderança comunitária
Dizem que em vareda de peba tatu caminha dentro. Quem nunca foi, é ou será, entenderam? eu também não. Mesmo maliciosamente dentro do contexto da psicologia idiótica e da sabedoria da sensibilidade critica. O que vocês estão achando? Tô parecendo o patropi? Crefudelo!!! É assim que um cidadão da plebe tá entendendo as explicações demoradas e pouco esclarecedoras sobre reforma política. Eu como sempre, não sendo especialista ou coisa do gênero, inclusive poderão até dizer que não tenho cabedal para dar opinião a respeito do assunto, não tô nem ai, e vou dar o minha sugesta assim mesmo.

Tive oportunidade de participar de duas palestras sobre a tal reforma política: uma organizada pelo presidente estadual do PT; e outra pela OAB. A primeira foi ministrada por senadores, deputados federais, deputado (a)s estaduais e demais autoridades, na Assembléia Legislativa. Naquela ocasião, resolvi me aventurar mais uma vez em ouvir e prestar atenção no que os homens e mulheres do topo da pirâmide estão pensando sobre o assunto. Fiz isso porque como cidadão do povo entendo que a reforma é de extrema importância, assim como é muito mais importante a participação popular e saber o que o povão pensa dessa discussão da qual ele está sendo deixado totalmente de fora, sem ter noção se ela será bendita ou maldita .

Naquela manhã, atrasado por conta da grande quantidade de atividades, adentrei o cine teatro da assembléia legislativa e notei a ausência quase total do povo, com exceção de algumas lideranças comunitárias. Me senti mais por fora que bunda de índio (não dos índios de agora). Notei ali um número muito grande de políticos de todos os gêneros, índole e estatura. Os que foram agraciados para falar discorreram com desenvoltura. Um deles arrancou risos da platéia exibindo com orgulho os parentes que também estão a serviço do povo, e lamentando, para tentar sensibilizar os presentes, que um deles havia ficado de fora. Outros falavam com tanta convicção de ética e moral que parecia que não estar falando deles.

Fiquei a observar na quantidade de opiniões divergentes sobre financiamento público ou privado de campanha; lista fechada, aberta ou mista; voto livre ou obrigatório; coligações; cláusulas de desempenho ou de barreira, unificação das eleições federais, estaduais e municipais; fim da reeleição; fim das coligações proporcionais e etc. Começaram a entender? Calma que ainda tem mais.

Quis me inscrever para fazer alguns questionamentos, mas descobri que não podia falar só escrever um bilhete com a pergunta. Fiz a minha assim mesmo, mas sequer fui respondido. Tive que me conformar e continuar de olhos grelados nas explicações. No final, estava mais confuso do que quando entrei. Comentando com um rapaz que tinha uma maquina fotográfica sobre minhas dúvidas e da minha intenção de dar uma opinião, de pronto ele disse que era assim mesmo, e pondo a mão no meu ombro numa intimidade de quem me conhecia há muito tempo, ele riu e desdenhou: “só se você tivesse cem mil votos”. Percebi logo que aquele rapaz só podia ser um assessor parlamentar desses que tira foto, busca água, atende telefone, mente, puxa palmas, ou seja, vulgarmente conhecido “baba ovo”, de algum deputado. Entendi que não valia a pena contra-argumentar, e saí saindo.
Ainda muito confuso, me programei e fui ao debate da OAB. Lá sim, cheguei na hora eles é que atrasaram. Encontrei as mesmas caras da palestra anterior na ALEPI. Notei a ausência de alguns políticos que talvez por questões éticas tenham ficado cabreiros de irem até lá. Aliás, só não vou dizer quem são, porque o nome é que faz o fuxico. A oradora iniciou o debate cumprimentando a mesa, e cumprimentou o Movimento Social como se fosse de uma pessoa física, mas tudo bem. Ouvi as longas explicações da palestrante complementada por seus pares, muitos deles perdidos em seus próprios argumentos. Vi a platéia de pessoas esclarecidas fazendo conversas paralelas e duvidando do compromisso ou questionando a seriedade de tal reforma e seus pontos polêmicos: a tal lista, quem vai compor? Financiamento público ou privado?Mandato do partido ou da coligação?Suplência de senadores?.... e outras aberrações.

Estou convencido de que é preciso fazer um debate sério com toda sociedade, principalmente com a população de baixa renda que mesmo sendo maioria do eleitorado brasileiro, é quem se “ferra” quando a coisa dá certo e também quando dá errado. Um debate que deve reunir associações de moradores, clubes de mães, conselho comunitários, associações de pais, igrejas, escolas a população em geral.

Uma amiga costuma dizer : “ninguém tá ouvindo o povo”, e a partir do pensamento dela eu lembro um livro que li: Os Bestializados, de José Murilo de Carvalho que fala da falta de participação das camadas inferiores da sociedade do Rio de Janeiro no processo de proclamação da nossa república, um momento histórico para os políticos e mandatários da época, que deixaram o povo “de nelso”, sem se dá conta do que estava acontecendo . Ah! ia esquecendo, lá na OAB não era possível discursar, mas facultaram a palavra para quem quisesse fazer perguntas. Não fiz a minha porque perdi o interesse por aqueles monólogos, mas continuo interessado na tal reforma que vejo como uma galinha “ arrudiada” de raposas.

*Zé da Cruz poeta e liderança comunitária
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*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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