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Deusval Lacerda de Moraes *

Imagem: GP1Clique para ampliarDeusval Lacerda de Moraes (Imagem:Reprodução)Deusval Lacerda de Moraes
Em meados da década de 1970, aportei-me em Recife para prosseguir nos estudos. E como amante do futebol, escolhi o Clube Náutico Capibaribe para torcer. Como estudante humilde, divertia-me assistindo às partidas de futebol, sobretudo os jogos do Timbu Coroado, como também é conhecido o Náutico.

Nessa época, para ser sincero, o melhor time era o Santa Cruz. Possuía um meio campo comandado pelo craque Givanildo, chamado pela crônica esportiva de Topo Gigio, além do hábil Betinho. O ataque tinha dois ponteiros rápidos (o direito Fumanchu e o esquerdo Ramon) e um centroavante rompedor, o Nunes, apelidado pela crônica de “Cabelo de Fogo” em razão de ser cabeludo e cabecear a bola com violência, que os locutores diziam sair “faíscas”.

O Sport Club Recife também era competitivo. No seu elenco tinha os bons jogadores Assis Paraíba, Mauro e Tovar, além do excelente goleiro piauiense Toinho. O meu time, o Alvirrubro da Conselheiro Rosa e Silva, tinha um plantel respeitável, com jogadores do porte de Toninho Vanusa, Dedeu, Chico Explosão e Draílton, além da famosa dupla de zaga Beliato e Sidclei e do eficiente arqueiro Neneca.

Naquele período, como disse o cronista pernambucano Avaniel Marinho, apenas um jogador era demasiadamente comentado nas calçadas das noites pernambucanas, nas mesas de restaurantes, nas mais variadas rodas de amigos, nas discussões futebolísticas típicas da nação do futebol: Dedeu do Náutico. Dedeu era atacante extraordinariamente veloz, mas sobre quem se atribui histórias pitorescas. Diz-se que após um jogo entre Náutico e Santa Cruz, o radialista perguntou: o que você achou do jogo, nas quatro linhas do gramado? Ao que respondera: “Eu não achei nada, mas Beliato (zagueiro do Náutico) achou uma corrente de ouro perto da grande área!” Outra vez o Náutico foi jogar na Vila Belmiro, contra o Santos, e Dedeu (que estava no banco de reservas) entrou no segundo tempo, no momento em que o jogador do Santos chamado Edu, também assinava a súmula para entrar na partida. Mas o nome de Edu é Edu dos Santos, e ao vê-lo assinar a súmula, Dedeu disse: “Que sacanagem!

O Náutico não é inferior!” e assinara: Dedeu do Náutico! Noutro jogo, no Recife, ao marcar um belíssimo gol, e ao ser entrevistado no final da partida, o radialista perguntou-lhe: Como foi aquela jogada do gol, Dedeu? Ao que respondera: “Um lance em que eu fiz que fui, não fui, e terminei fondo”! Ainda segundo o cronista, Dedeu era realmente bom de bola (e isso eu pude constatar), mas, se por zombaria ou atraso (não se sabe, ao certo, até hoje), foi protagonista de frases que ficaram marcadas na história do mundo esportivo brasileiro.

Futebol e política têm algo em comum, ambos mobilizam as massas (tanto que Nelson Rodrigues disse: quando a Seleção entra em campo somos a pátria de chuteiras), seus protagonistas são ídolos, líderes das multidões, e alguns por falta de outros recursos querem ser engraçados o tempo todo para conquistar cada vez mais adeptos.

Para exemplificar, a recente eleição municipal de Teresina foi hilária, teve candidato que jurava que não seria candidato e por isso o seu partido pela maioria dos seus filiados decidiu apoiar a candidatura de outra legenda e que depois se lançou candidato e fez o seu partido abandonar a coligação que já estava apoiando; outro político dizia que se o senador petista fosse candidato o apoiaria, e o senador se candidatou e o entusiasta surpreendentemente apresentou candidatura própria do partido; o PSB, através do governador do Piauí, apoiou no segundo turno o candidato petebista e o seu candidato a prefeito aderiu ao adversário tucano, o governador disse que depois das eleições expulsaria o estreante político, mas até agora nada; outra agremiação partidária teve o seu candidato a vice-prefeito em faixa própria bandeando-se para os tucanos e agora foi agraciado com a Fundação Cultural, ameaçou expurgos, e também nada feito; o tucano eleito desancou blocão, ricos e poderosos e depois do pleito foi se regozijar nos atos oficiais do Governo do Estado (audiência, Dia da Bandeira etc.) e está aboletado na FIEPI cujo dirigente patronal tinha o seu partido na outra trincheira eleitoral; e o único vereador peemedebista eleito foi contra a coligação que a sua sigla concorreu com o candidato a vice-prefeito.

Assim, apesar de certos políticos fazerem de tudo para serem engraçados nas eleições e/ou no exercício do mandato, como dizer uma coisa e fazer outra ou agir com atitudes contraditórias, mais ou menos como nas idas e vindas do “fiz que fui, não fui, e terminei fondo” do ingênuo atleta timbu, não obstante Dedeu, indubitavelmente, era muito mais engraçado do que as bizarrias dos nossos políticos, que, ao contrário, em alguns países exigem da sua classe política tão-somente retidão, serenidade, seriedade, sinceridade, competência e compromisso com a causa pública.

* Deusval Lacerda de Moraes é Pós-Graduado em Direito

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