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Por Arthur Teixeira Júnior*

Imagem: ReproduçãoArthur Teixeira Junior (Imagem:Reprodução)Arthur Teixeira Junior 

Recentemente, fui criticado por uma leitora do site de minha cidade, onde também publico algumas crônicas, que argumentou que o texto postado “seria bom para uma aula de história ou literatura, mas que a ‘poupasse’ disto”. Provavelmente, referia-se a leitora ao assunto abordado e ao cuidado que tenho para aplicar as regras gramaticais e ortográficas de nossa língua.

Mesmo com este cuidado, lendo e relendo o texto a procura de erros e más construções, volta e meia deixo escapar um erro crasso, prontamente apontado pelo meu colega Carlos Alberto, atento e crítico leitor.

O escritor, jornalista, comentarista, enfim, todo aquele que usa a linguagem escrita para transmitir suas idéias e opiniões, tem que ter sempre em mente duas regras básicas: correção e síntese. A internet, em suas redes sociais e salas de “bate papo”, adota uma linguagem particular, cifrada, entendível somente para quem dela faz uso. Ora, não vou criticar esta forma de comunicação, mas querer aplicá-la em todos os textos, é inconcebível. Não podemos usar o palavreado e construções de uma conversa coloquial, de mesa de bar, de chats, nas matérias que publicamos para transmitirmos nossa opinião sobre determinado assunto, por pior que se seja esta opinião. O inverso, usar construções aprimoradas em conversas do dia a dia, também é impróprio.

Heraldo Canela, o prolixo, meu excolega de trabalho em São Paulo, era um exemplo típico de como não devemos usar o Português no local de trabalho. Heraldo tinha o apelido de Policarpo Quaresma, em referência ao magnífico romance de Lima Barreto, e era comum ele, na hora de nosso cafezinho, lembrar das efemérides, dos aniversários de falecimento de escritores obscuros, da sua opinião sobre a filosofia grega.

“_Sabem que hoje é dia da agricultura familiar?” – lembrava Heraldo para uma platéia pasma mais interessada no resultado do futebol da véspera. “_Hoje lembramos o centenário do falecimento de Marcos Helmaster” – sei lá quem era este sujeito ou o quê fazia. “_Bem disse Platão: ‘Quem comete uma injustiça é mais infeliz que o injustiçado’” – “Vá à merda Heraldo!”, uníssonos respondíamos.

Na época da informática, Heraldo ainda usava sua velha Remington com papel carbono. Tinha sobre sua mesa um mata borrão, um porta carimbos, um vidro tinteiro e uma calculadora, que quando era utilizada, fazia tremer a mesa e consumia rolos e rolos de papel que nunca soubemos onde eram comprados. Nunca se separava de sua caneta Parker folheada a ouro e com um rubi na ponta superior. Para piorar, não dispensava as citações em latim, língua que chamava “a mãe de todas as línguas”.

A última vez que vi Heraldo, foi quando uma densa fumaça tomou conta do escritório. Comportadamente, como tínhamos sido constantemente treinados, aguardamos as orientações do pessoal da brigada de incêndio e da segurança patrimonial.

Foi quando Heraldo abriu a porta, esbaforido, e a plenos pulmões exclamou: “Mantenham o status quo. Não há periculum in mora !!!

Sem nada entendermos, todos saímos em desabalada carreira, derrubando móveis e o diretor administrativo que tinha esquecido sua marmita no forno da copa (daí o fumaçê). Valéria saltou do segundo andar e quebrou uma perna, três costelas e a alça de sua bolsa nova.

Seu Monteiro passou direto pela porta dos fundos, sem abri-la. Dona Conceição, a obesa copeira, tentou sair pela janela do banheiro e ficou entalada. O Boy saiu correndo e nunca mais foi visto.

Heraldo foi demitido.


* Arthur Teixeira Junior é funcionário público


*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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