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GP1
Por Arthur Teixeira Junior *

Imagem: ReproduçãoArthur Teixeira Junior (Imagem:Reprodução)Arthur Teixeira Junior

Ontem fui chamado à sala de um de meus inúmeros superiores hierárquicos. Estranhei, pois nunca reportei-me à ele ou desempenhei qualquer tarefa em sua área de atuação.

Sua sala parecia uma biblioteca antiga, ao fundo havia um sofá de veludo surrado, um quadro representando uma fruteira e flores sobre uma bancada, as cadeiras defronte a mesa tinham o encosto e o assento de palha trançada.

“_ Sente-se, Sr. Arthur Teixeira Junior” – sempre soube que quando nossa mãe ou nosso chefe nos chama pelo nome completo, vem porrada por aí. Sentei de meia bunda, na beiradinha da cadeira, pronto para correr. Ele estendeu-me um papel, onde de pronto reconheci tratar-se de uma cópia de minha última crônica publicada.

“_ Este personagem deste artigo, é sobre mim a quem o senhor refere-se?” – perguntou-me, por trás dos óculos de aros de tartaruga e lentes bifocais espessas.

“_Absolutamente, excelência” balbuciei, pensando “_ Mas bem que poderia ser...”

O cronista sempre inspira-se em seu mundo para criar seus personagem, deles fazendo uma caricatura, ressaltando alguns aspectos, pois se assim não o fizesse, não seria um cronista, mas sim um jornalista. Este tem a obrigação de retratar os fatos com a maior fidelidade possível. O cronista escreve para divertir, entreter, polemizar.

Em quem inspirou-se Jorge Amado para criar Quincas Berro D’água? Quem na verdade era o Grande Mentecapto de Fernando Sabino? E Policarpo Quaresma, de Lima Barreto?

Não posso ter a preocupação de criar embaraços quando falo de um “careca, pão duro e barrigudo”. Quantos carecas barrigudos você não conhece?

Quando relatei uma “pulada de cerca” de um pré candidato a prefeito em uma cidade do interior, três possíveis candidatos vieram pedir-me para retirar o artigo da mídia, pois poderia causar problemas “em casa”. E cinco homens de baixa estatura vieram perguntar-me se o “baixinho chifrudo” era com ele. Não sou responsável pela consciência pesada dos outros.

Quando uma crônica minha é publicada, um surdo cochichar espalha-se pelo prédio: “_...ele está falando do fulano...” _ “...não seja boba, é do sicrano...”. Por vezes, tenho receio de retornar à minha cidade, retardo ao máximo a volta.

Moro em uma cidade do interior, em uma casa com um grande terreno. Lá crio alguns animais. A todos dei um nome e a alguns até sobrenome. Não tenho culpa se meu cachorro tem a mesma alcunha que meu supervisor, que o bode atenda pelo mesmo nome do diretor, e a galinha sempre se faça presente quando grito o nome de minha colega de escritório.

* Arthur Teixeira Junior é funcionário público

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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