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Deusval Lacerda de Moraes *

Imagem: ReproduçãoClique para ampliarDeusval Lacerda(Imagem:Reprodução)Deusval Lacerda
É triste ver a arrumação da política brasileira que em vez de garantir aos cidadãos a certeza de que se está no caminho certo, pelo contrário, da forma como ela às vezes é costurada por grande parte da classe política dominante tem-se a ligeira impressão de que é instrumento mais para causar o mal do que o bem à sociedade. Em desabafo, após o encontro do ex-presidente Lula com o deputado Paulo Maluf - nos jardins da mansão do dono da Eucatex em razão de profundo antagonismo entre ambos - para selar o apoio do PP a Fernando Haddad, o candidato a prefeito de São Paulo pelo PT, a deputada Luiza Erundina disse no artigo A origem da barganha eleitoral no Brasil: “... a dimensão pedagógica da política exige que ações e atitudes de líderes tenham como perspectiva não apenas a conquista do poder, mas também elevar a consciência e a politização da sociedade”, publicado no Jornal Folha de São Paulo de 4 de julho de 2012.

As alianças espúrias disseminam um sistema que está na origem dos escândalos de corrupção no País, por isso é importante que se coloque em prática no Brasil uma nova mentalidade de política e gestão. Nesse sentido, no artigo Os alicerces do edifício político, do Jornal O Estado de São Paulo, edição de 2 de julho de 2012, o cientista político uspiano Gaudêncio Torquato disse: “Vale lembrar que a administração pública brasileira recebeu o batismo nas águas do patrimonialismo, cuja expansão ocorreu à sombra de profissionais que enxergaram na política a oportunidade de tirar proveito do aparelho burocrático do Estado. Surgiu, então, uma classe que se refugiou no escudo patrimonialista, tendência que Oliveira Vianna, desde os anos 1930, já identificava e combatia na sua cruzada contra ‘a degeneração do caráter nacional’, aí incluída a burocratização da vida publica”.

Assim, certas atitudes políticas chegam ao ponto de agredir o que se denomina de existência de valores morais comuns à maioria das pessoas, por causarem profundo desânimo político, como ainda no caso Lula/Maluf, como disse a professora FGV-SP Eliana Cardoso no artigo Vale-tudo, moralidade e filosofia, no Jornal O Estado de São Paulo de 27 de junho de 2012: “Os comentaristas reconheceram a inconveniência da imagem do homem visto até então como infalível em suas decisões políticas, porque sabiam que o eleitor a veria como uma agressão à ética. Luís Veríssimo batizou o ato de realpolitikagem. E o repúdio àquelas mãos dadas, tendo sido compartilhada mesmo por quem não se interessa por política, sugere a existência de valores morais comuns à maioria das pessoas”.

O atávico combate da política do poder pelo poder, nestas eleições municipais de 2012, é o que mais se tem notado. Na revista ISTOÉ, edição de 27 de junho de 2012, traz matéria em que expõe as alianças entre Lula/Maluf e Serra/Alfredo Nascimento (ilustrada com fotografias), que diz a reportagem: “As duas imagens acima são símbolos poderosos da cena política brasileira. Elas escracham o que significam hoje as negociações para a construção de alianças eleitorais: um verdadeiro mercado de compra e venda. Na primeira imagem, Lula confraterniza com seu arqui-inimigo Paulo Maluf. Na segunda, José Serra se refestela com o apoio do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, principal alvo de recente faxina ministerial. O que está em jogo não são idéias nem projetos, mas cargos futuros e tempo de tevê para a propaganda eleitoral. Essa lógica se repete por todo o País e está por trás da maioria dos escândalos de corrupção. Apenas uma reforma política pode acabar com ela”.
Face ao reinante desarranjo político, um ato de aberração partidário-democrática gerou reação de inominável altivez política: o deputado federal pernambucano Maurício Rands (PT-PE) comunicou através da “Carta ao Povo de Pernambuco” a sua decisão de entregar o mandato parlamentar e abandonar a carreira política, ante a intervenção da Executiva Nacional do PT no Diretório do Recife prejudicando a sua pré-candidatura. Disse na Carta: “Existiram diversas razões que me levaram a este caminho. A mais crucial dá-se no nível da minha consciência. Sempre agi, na vida e na política, com o maior rigor entre o que penso e o que faço. Sempre cumpri os deveres da minha consciência”. E por fim disse: “Saio da vida pública e da política partidária para exercer ainda mais plenamente a cidadania”. Perdeu-se um dos poucos que prestavam.

Nesse cenário de horrores, o Piauí não ficou de fora e fez também a sua lambança. No apagar das luzes para a realização das convenções partidárias, o Diretório do PT de Teresina ludibriou o prefeito Elmano Férrer que, mesmo fazendo parte da administração da PMT, apoiou o candidato do seu partido que jurava de pés juntos que não queria ser candidato a prefeito e que derrotou ainda, por seus filiados, a postulação da candidatura própria da agremiação partidária. Além de terceiro apelar para candidatura de comunicador de veículo de massa que nunca teve experiência de gestão publica para governar uma cidade de quase um milhão de habitantes com problemas conjunturais e estruturais como Teresina. O que vem na contramão do que diz o consultor político Gaudêncio Torquato no artigo acima, “um novo municipalismo, portanto, seria engendrado a partir de um administrador compromissado com os valores da renovação de métodos, significando novas formas de governança, balizadas em parâmetros de eficácia, zelo, transparência e atendimento das demandas comunitárias”. Desprezando ainda mais estes compromissos os que querem o mandato do Palácio da Cidade apenas como trampolim eleitoral com vistas às eleições estaduais de 2014.

* Deusval Lacerda de Moraes é Pós-Graduado em Direito


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