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GP1
Por Arthur Teixeira Junior
Imagem: GP1Arthur Teixeira Júnior(Imagem:GP1)Arthur Teixeira Júnior

Ainda em 2005, muito pouco depois de eu ter sido nomeado Servidor Público, meu colega Tião Ramires convidou-me, durante uma viagem a serviço, para participar de uma falcatrua em uma licitação que estaria por acontecer.

Graças a educação que meu pai deu-me, logicamente escusei-me.

Servidor recém empossado, desconhecedor das teias do Serviço Público, denunciei o caso a meu superior imediato, que, mesmo prometendo severas providências, nada fez.
Os anos foram passando, Tião orgulhava-se de ser a “mão suja” do esquema, do qual, em pagamento, tinha as “vistas grossas” para seus pequenos desvios.

Mas, como vovô dizia, “macaco que muito pula, um dia cai do galho”. Pegaram o Tião com sua mão suja dentro da botija. Deverá ser excluído a bem do serviço público.
Ao meu ver, nada mais justo. Ladrão é ladrão não importa o quanto roube. Ou desvie do erário, o que é muito pior.

O público dinheiro desviado, usando o eufemismo para “roubado”, é aquele dinheiro que falta para nossos filhos nas escolas, para nossos pais nos hospitais, para nós no transporte público. Dizer que superfaturar uma caneta, comprada em um estabelecimento inexistente e com nota fiscal fria, não é capaz de empobrecer uma nação como o Brasil, é totalmente errado. Talvez uma caneta não balance as finanças públicas, mas milhares de Servidores superfaturando pequenas compras, significa muito.

Mas ninguém engana tantas pessoas por tanto tempo. Se esta “mão suja” faz pequenas falcatruas por décadas, certamente tinha alguém muito interessado lhe dando cobertura. E este alguém dificilmente será punido ou mesmo denunciado, seja por que não suja as mãos, utilizando-se dos “Tiões” da vida para fazê-lo, ou por que também são acobertados.

Vejamos o caso do Mensalão, o maior escândalo político na história moderna na política do Brasil. O Supremo condenou 25 dos 37 réus. A maioria a penas que não representaria uma temporada no sistema prisional, como ocorre com qualquer ladrão de galinhas. Recursos ainda estão sendo discutidos e um novo julgamento está por vir. Os condenados já cogitam evocar o Pacto de São José e recorrer à Corte Interamericana. Enquanto isto, o tempo corre a favor dos criminosos, já que alguns crimes já começam a prescrever. Alguns talvez morram, de velhice, sem nunca terem sido efetivamente presos, usufruindo das regalias amealhadas enquanto estavam no poder.

Talvez um ou outro acabe passando alguns dias na cadeia, uma forma de calar o clamor público e justificar tão delongado processo. Mas serão os peixes pequenos. A diretora do Banco Rural, da qual nem lembro mais o nome, Marcos Valério, que até já mudou de endereço para requerer sua prisão em um local mais tranquilo que o presídio de Contagem. E mais um ou outro.

Lula, o comandante mor na época, sequer foi citado ou indiciado. Quem acredita que ele não sabia de nada, acredita também em Papai Noel. Se não sabia, era abobalhado ou incompetente, e isto sabemos que ele não é.

Tião caminha para o cadafalso, impotente, talvez acreditando, inocentemente, que na hora “H” seus mentores vão heroicamente salvá-lo. Abestado. Neste momento eles estão sim a procura de um outro “Tião” para servi-los. E o Brasil segue patinando na lama da corrupção.

Os personagens anônimos desta crônica são frutos exclusivamente da imaginação do autor, que utiliza-se de sua licença literária para criar uma fantasia objetivando ilustrar um fato verídico (o Mensalão). Qualquer semelhança com qualquer pessoa, viva ou já falecida, com qualquer caso administrativo em qualquer esfera, terá sido mera coincidência.

* Arthur Teixeira Junior é funcionário público

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