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Imagem: Mariana Viana/GP1Zé da Cruz (Imagem:Mariana Viana/GP1)Zé da Cruz

Teresina tem problemas sociais gravíssimos, um deles, o saneamento básico é também uma questão de saúde publica, pois as pessoas adoecem porque tem que viver próximas a esgotos a céu aberto, onde o mau cheiro reina diuturnamente. Posso citar exemplos antigos porque falar dos novos é covardia. Então vamos para a velha guarda: Parque São Jorge,Bom Jesus,São Jose,Santo Antonio, Paraíso, Irmã Dulce,Loteamentos I,II,III,IV são alguns desses lugares, e não cito mais porque não sobraria espaço para o restante das coisas que quero escrever. Mas isso é só um mote pra botar vaselina, e introduzir um assunto sério em meus três ou quatro leitores.

Gente, não dá pra esconder que nosso déficit habitacional é altíssimo, mas vou deixar a estatística e a técnica de lado, e falar de sentimento, por isso quero a atenção de vocês pra um dedo de prosa.

Há quase dois anos, milhares de pessoas em Teresina, sem teto e sem ter como pagar aluguel, muitas delas despejadas, casais recém-formados morando com sogros ou no fundo da casa de parentes, resolveram dar um basta: ocuparam áreas urbanas para especulação imobiliária e sem nenhuma função social. O povo juntou a fome com a vontade de comer e caiu prá dentro. Em algumas delas, como o Parque da Vitória, houve bala e taca com vara de jucá até umas horas, mas o povo resistiu bravamente, e não arredou o pé da luta.

Essa resistência inspirou outros companheiros a lutarem por moradia. Hoje várias comunidades estão na ponta da lança para serem riscadas do mapa como se isso fosse apenas problema da justiça e de polícia. As autoridades querem tratar as pessoas pobres e famélicas da periferia como se elas fossem os “nóiados” da Cracolândia de São Paulo.

Querem botar o povo pra debaixo do tapete para a “gringaiada” não ver.
Mesmo vivendo esse terror constante, o povo foi se meter a besta em querer assistir à leitura da mensagem do excelentíssimo senhor prefeito Firmino da Silveira Filho. Adivinha quem primeiro “nois” topa na porta da Câmara Municipal? o responsável pelo gerenciamento de crise da Policia Militar do Piauí, um “nomezim” bonito que deram para o órgão que desce cacete nos mais gaiatos, dependendo da conveniência do” coroné” da pasta.

Para entrar junto com o povo na Câmara e olhar a cara do Firmino, eu e a dona Francisca comemos tampado. E olha que eu sou liderança comunitária há muito tempo, e tive quase mil e quinhentos votos nas últimas eleições municipais. Foi empurrão, muxicão, dentada, cotovelada, spray de pimenta e borrachadas.

Um ajudante de ordem do” coroné” rasgou minha camisa e jogou spray de pimenta. Eu nem vou falar as palavras preconceituosas e de baixo calão que ele falou, e ainda fobou mandando que eu pegasse o nome dele pra denunciar. Eu, mala” véi”, sabendo que não ia dar em nada nem perdi meu tempo.

O plenário não coube todas as pessoas, uma parte ficou fora. Lá dentro o bicho pegou. Toda hora um outro “coroné”, em missão especial, dizia pra eu ficar na minha, como se quisesse dizer que ia me pegar. Estava me sentindo um Osama Bin Laden, e comecei a ficar com medo de mim mesmo. O “home” só me deixou de mão quando eu disse que era Formado na Universidade das vias publicas, bacharelado em dificuldades e especializado em fome. Tive que informar a ele que era uma liderança comunitária respeitada em Teresina e nunca iria me furtar de estar do lado da luta do povo pobre e sofrido. Disse também que achava uma causa justa.
Com a manifestação dos presentes a meu favor, ele se indignou e saiu com sua missão mais ou menos cumprida. Quando tudo se aquietou e o povo se sentou pra ouvir o “malamem” entram uns homens em formato de robocop e armados até os dentes pegando no braço das pessoas, sem olhar a cara, pra botar fora do plenário. Os vereadores não deram nem o “fi-o-fó” prá cheirar.

As mulheres, sempre maioria, se jogaram no chão pra não sair, e como diz por aqui onde moro:” o pau ia trincar” Eles viram que a mídia estava em peso, aí Tchan....tchan....tchan...tchan o príncipe pulou bem no meio pra intervir na situação que ele mesmo tinha criado. Depois chegou o vereador do chocalho, balançou por ali assim e abeirou.

A belzebu de saia e a do verde, que tá quase madura, só apareceram na hora da foto. A vereadora da lei do fumo de rolo, como sempre, nem fede nem cheira. Foi preciso muita paixão para acalmar os ânimos.

Começou um lenga lenga danado. O prefeito, que de criança não tem nada, veio com um papo magro de que em ocupação consolidada ninguém mexe, mas não disse como ele vai fazer pra consolidar essas áreas e como irá fazer a regularização fundiária. Só conversa não adianta. Espero que não demore, pois o vulcão já começou a entrar em erupção.

Gente, eu fui olhar do lado de fora e nunca tinha visto tantos policiais bem vistosos, viaturas novas e possantes. Tanto aparato bélico deve ser a polícia que protege os ricos. Enquanto isso na sala de injustiça; na periferia as viaturazinhas dos batalhões estão caindo aos pedaços, os policiais usam revólveres canelas de bode: São cinco tiros e uma carreira.

Enquanto isso do lado dos bacanas até policiais mascarados que eu só tinha visto em filme da S.W.A.T. Todo esse exercito contra idosos, mulheres gestantes, crianças e homens trabalhadores humilhados publicamente por exercer o direito de se manifestar. Deu vontade de rebolar um menino daqueles, que era a única arma que a gente tinha.

Aquela cena me fez lembrar o massacre sangrento em Canudos, onde o exército brasileiro matou cinco mil pobres, pretos que brigavam por um pedaço de terra. Lá o desdobro era a criação de uma República. Aqui, pelo que eu vi, a justificava quem dá é o governador e o prefeito: um manda na polícia; outro manda na cidade. Espero que tenha responsabilidade pra fazer justiça social. Ao invés de mandar o BOPE, RONE, Serviço de Inteligência que tal a ADH, SEMTCAS, Secretaria de Habitação, SASC? Senão vou esquecer as nossas músicas de protesto e cantar com o povo:” tropa de elite osso duro de roer pega eu, pega geral, pega eu pega você”. Zé da Cruz poeta e liderança comunitária

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