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Imagem: ReproduçãoClique para ampliarArthur Teixeira Júnior(Imagem:Reprodução)Arthur Teixeira Júnior
Acabo de ler um artigo onde um jurista admite a possibilidade do reconhecimento legal de relações paralelas em um casamento ou união estável. Chamou de “união estável putativa”, não sei se querendo referir-se ao que eu estou pensando. Mas se assim fosse, iria ser a “liberação geral”. Viraria esculhambação e perderia a graça. Afinal, tudo de bom na vida ou é ilegal ou imoral ou indecente.

A poligamia é uma arte. Não uma aventura. Exige pensamento rápido, agilidade, preparo físico, imaginação, espírito de aventura e muita cara de pau. Meu tio Inácio tomava o café da manhã com uma, almoçava com outra, jantava com uma terceira e pernoitava em casa com a esposa. Ninguém entendeu como ele conseguia fazer isso e ainda trabalhar vendendo chapéus e, o mais surpreendente, somente ser desmascarado em seu próprio enterro, quando todas as famílias se encontraram.

Ser polígamo não é para qualquer um. Primeiro, o cara tem que ter no mínimo cinco algarismos significativos em seu contracheque. E depois, tem que ser profissional, para não arrumar encrenca com a “matriz” e ser depenado em uma ação de divórcio.

Começando pelo carro. O polígamo tem um carro sedan prata, com vidros escuros que não permita a visão de fora para dentro e sem nada em especial que o identifique, como acessórios, suportes de bicicletas, rodas de liga leve, adesivos nos vidros, lanternas quebradas, bagageiros, etc. A placa é composta por três letras consoantes, preferencialmente contendo as letras “K”, “W” ou “Y” (nunca as três juntas) e números primos que não formem qualquer sequência ou associação entre si. Isto para evitar que a comadre fofoqueira comente na festa de algum parente “vi seu carro parado em uma rua estranha ontem à noite...”.

Lembre-se: ou o cidadão é polígamo ou tem um Corolla amarelo.

O polígamo profissional paga todas as despesas feitas com a agregada em dinheiro vivo, a vista. Nunca cheques ou muito menos cartões de crédito. Também não faz qualquer tipo de transação comercial em estabelecimentos frequentados pela esposa titular. Foge assim daquela pergunta “quebra pernas” que a esposa faz: “Querido, que despesa é esta na fatura de seu cartão de crédito?”.

Utilizando-se de um motel, escolha aqueles discretos, mas com segurança eficaz, já que são comum assaltos praticados por quadrilhas a estes estabelecimentos. Ladrões mal humorados costumam levar tudo dos clientes. Difícil explicar você chegando em casa vestindo o avental emprestado pela arrumadeira (4 números menor) ou somente a capa de chuva de um PM.

Nunca leve nenhuma lembrancinha do motel, como chocolates, caixas de fósforos personalizadas, pacotinhos de castanha de caju ou escova de dentes descartável. Se você tem um local próprio para seus encontros (conhecido como “matadouro”) um chaveiro dará a ele a mesma chave da sua casa ou escritório. Isto evita a pergunta fatal “de onde é esta chave nova em seu chaveiro?”.

Se apesar de sem vergonha, você ainda é romântico, a ponto de levar a esposa a um motel no aniversário de casamento, jamais a leve no mesmo que você frequenta com a putativa (legal esta palavra), fugindo daquele porteiro idiota que lhe perguntará: “A suíte de sempre, Dr. Fulano?”.

Outro fator importante para o sucesso da poligamia é o seu emprego. Nunca tente constituir filiais tendo um emprego em escritório, em horários rígidos. O ideal é ser um profissional liberal ou com horários salteados e inconstantes. Ser médico obstetra é uma glória. Você pode receber um telefonema de madrugada e tranquilamente levantar-se, vestir-se e virar para sua esposa dizendo: “vou dar uma espiadela como está a Dona Marcela...”. Mas se você deu uma fugida e esqueceu do horário, nunca chegue em casa com o rabo no meio das pernas, com cara de culpado. Pelo contrário. Chegue bravo, chutando a porta e soltando fogo pelas ventas.

_ “Onde estão meus documentos que esqueci em casa?” – grite – “Vou mostrar para aquele delegado que eu não sou bandido...” – e então comece a choramingar e contar que foi preso por engano e confundido com um marginal, e não sabe onde deixou seus documentos – que você previamente escondeu sob o tapete do carro.

Ou ainda:

_ “Alguém sabotou meu carro... furar dois pneus em uma só noite não é coincidência!” – não antes de sujar bem suas mãos esfregando-as no pneu, afrouxar o colarinho, arregaçar as mangas e esvaziar o estepe. Não se esqueça de enchê-lo logo pela manhã, pois esta desculpa não funciona dois dias seguidos.

Enfim, enquanto a legalização da putativa não é sacramentada, temos que nos cuidar e ser profissionais.

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*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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