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Imagem: GP1Arthur Teixeira Júnior(Imagem:GP1)Arthur Teixeira Júnior

Ao final deste mês contabilizaremos meio século do inicio do período mais triste da história deste país. Foram 21 anos de perseguições, roubos, furtos e desmandos em geral, em nome da segurança nacional. Foi neste período que ficou institucionalizada e enraizada em nossa cultura no trato da coisa pública, a corrupção, os desvios, favorecimentos e nepotismo, confundindo o público com o particular, criando mecanismos fraudulentos e feudos que nem a Constituição de 1988 conseguiu amenizar.

O PMDB ameaça convocar o Ministro da Saúde e a Diretoria da Petrobrás para prestarem esclarecimentos sobre supostas irregularidades na elaboração de contratos públicos. O que deveria ser rotina em nosso sistema político, virou instrumento de chantagem.

Enquanto isto, a nossa alquimista do café finalmente aposentou-se. Nada mais justo, pois, apesar de que em décadas de trabalho nunca tenha aprendido a fazer café, sua trajetória é louvável e digna: construiu sua vida somente com os frutos de seu labor, criou seus filhos e alguns netos sem nunca deixar de comparecer, mesmo que justificadamente, ao seu local de trabalho e no horário certo. Lamento que em nosso país, para amenizar os danos causados pelos roubos e furtos aos cofres da Previdência, o trabalhador tenha que se aposentar cada vez mais tarde. Alegam que o brasileiro está vivendo mais. Mas digo, em verdade, está sim sobrevivendo mais.

O que me preocupa é que a recém aposentada (vou omitir seu nome para evitar protestos) vai permanecer por mais uma semana para “ensinar” a futura encarregada de como fazer o café que tomamos aqui na Repartição. Temerário.

Mas o pior não e a sucessão da má qualidade: a recém nomeada alquimista, terceirizada (para que o Governo tenha menos encargos funcionais) é neta da aposentada, indicada por esta para sucedê-la. A sucessora herda então a Capitania Hereditária do Café da Repartição.
Nada ilegal, mas certamente estranho. Já tivemos inclusive um terceirizado que era (ainda o é) filho de uma Servidora, por esta, logicamente, indicado para assumir uma vaga de auxiliar terceirizado.

É o nepotismo enraizado no Serviço Público, como se este fosse a mãe salvadora de todos os necessitados que não tivessem competência para passar pelo crivo de um concurso. Recentemente, tentaram “queimar” um colega nosso, igualmente terceirizado, para que em seu lugar, dizem, colocassem um afeto do gestor do contrato de terceirização.

Hoje, a entidade pública prefere terceirizar os serviços que não são considerados “atividade fim”, como limpeza, vigilância, zeladoria, copa e serviços de apoio em geral. Realizam a licitação, dentro da Lei, mas a empresa vencedora, para agradar os gestores do contrato que autorizam seu pagamento, aceita a indicação destes com relação aos trabalhadores que devem prestar o serviço na Contratante em nome da Contratada. Ou acabamos com a terceirização no serviço público, ou teremos que instituir o concurso público para terceirizados.

Mudando de assunto...

Nosso colega, requisitado de outro Órgão para ocupar o cargo de algum concursado que não foi convocado para assumir (outra forma comumente utilizada para burlar a Lei e favorecer não concursados), mudou o estilo do bar que montou perto de minha casa. Outrora voltado para as atividades noturnas, operando ruidosamente por quase toda a madrugada, era primordialmente freqüentado por desocupados e marginais que envolviam-se em brigas memoráveis. Agora o estabelecimento voltou-se para operar diurnamente, servindo refeições populares. Se antes era mal freqüentado, hoje não é sequer freqüentado.

“Manto Sagrado”, alcunha do pseudo-empresário, como outros conterrâneos que envolvem-se amadoristicamente no empreendedorismo, comete o mesmo erro de muitos. Investem o capital conquistado criando uma atividade qualquer, colocam empregados para cuidar do negócio e ficam em casa “descansando”, passando vez ou outra para arrecadar a féria. Nossos empresários precisam profissionalizar-se, serem os primeiros a chegarem e os últimos a saírem em seu negócio. Necessário pesquisar antes o mercado que pretende atingir e zelar profissionalmente pelo seu investimento.

Por um lado, a Administração Pública usa e abusa das brechas da Lei para instituir o nepotismo e o favorecimento. De outro, trabalhadores despreparados investem o que levaram anos para arrecadar, montam amadoristicamente um negócio, sem treinamento, orientação ou competência, e perdem tudo.

Misturando mais dois assuntos:

1. Deveriam procurar aquele Boing que desapareceu na Ásia no Aeroporto Internacional de São Raimundo Nonato, ou de Parnaíba, ambos construídos com o dinheiro que falta na educação e na saúde e depois praticamente abandonados.

2. Acabo de ver uma reportagem sobre uma cidadezinha na Flórida (EUA) considerada a Capital mundial da corrupção. O Prefeito, que está preso por tráfico de drogas, admite a existência de corruptos em excesso na administração municipal, incluindo-se descaradamente entre eles. O Governo do Estado da Flórida deu prazo de 30 dias para que a situação seja regularizada, sob pena de anexar a cidade a outra vizinha ou exportá-la para o Brasil.

Vamos acabar tendo vergonha de sermos corretos ou competentes.

* Arthur Teixeira Junior é funcionário público


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