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*Arthur Teixeira Júnior
Imagem: GP1Arthur Teixeira Júnior(Imagem:GP1)Arthur Teixeira Júnior

Os jovens, e grande parte dos adultos, não viveram, ou pelo menos não sofreram na pele, as agruras dos anos 80 quando vivíamos no Brasil a hiper inflação.

Lembro-me que recebia meu salário dia 10 de cada mês e, neste dia, eu não ia ao emprego antes do meio dia: amanhecia na porta do extinto Banespa para sacar os proventos integralmente e correr para o supermercado mais próximo (o Eldorado, em São Paulo). O objetivo era comprar o maior número de produtos antes que os preços fossem remarcados. A “compra do mês”. Naqueles tempos, fazia muita diferença o dia e a hora que você ia às compras, pois os preços subiam mais de uma vez por dia.

Alguns fatos tornaram-se folclóricos. Você via o preço de um produto em um mercado, depois ia a outro verificar o preço do mesmo produto e constatava que estava mais caro; voltava no primeiro mercado, tudo no mesmo dia, e via que o preço já havia sido reajustado acima do preço do segundo mercado pesquisado. Outro caso: você encontrava em uma pequena mercearia um produto com o preço que lhe interessava. Não podia mostrar grande interesse ou elogiar o preço, nem mesmo tentar comprar uma grande quantidade do produto, pois o comerciante, desconfiado, recusava-se a fazer a venda. Preferia ficar com o produto a ter em mãos o papel moeda.

Todos viraram hábeis aplicadores financeiros. Quem conseguia manter algum saldo bancário (mesmo que centavos), a tardezinha obrigatoriamente telefonava para o gerente do banco e mandava aplicar no “Over Night”. Se esquecesse, seu dinheiro virava pó durante a noite (em verdade, o dinheiro do ”Over Night” virou pó na edição do “Plano Collor”. Hoje “Over Night” é nome de motel barato). Vivíamos no império do cheque pré-datado. Dávamos um “voador” (como era chamado) em qualquer lugar e em qualquer valor que fosse possível. Enquanto o cheque voava de mão em mão pelo prazo acordado, aplicávamos o dinheiro e ganhávamos uns trocados. E assim vivíamos. Ou melhor, sobrevivíamos.

Todas as famílias tinham em suas casas um armário ou até mesmo um quartinho onde estocavam os produtos de primeira necessidade adquiridos em grande quantidade quando encontrava-se um preço oportuno e um comerciante disposto a vende-los. Vizinhas trocavam uma lata de óleo (não existia a embalagem PET) por meia dúzia de ovos. Um quilo de arroz por um pacote de café. Quem tinha uma lata de leite em pó, não trocava e nem sequer comentava, com medo de assalto.

Na época, perdemos a noção do que era caro e o que era barato. O valor das coisas. Era comum empresas que pagavam por semana, mas seus empregados viviam procurando outras que pagassem ao final de cada dia trabalhado.

Hoje começo a reviver naquelas lembranças. O noticiário só traz notícias de aumentos acima da inflação (oficial). O sabão, a cebola, o tomate, a carne, a energia elétrica, a passagem de ônibus, tudo sobe mais do que a inflação. Só a inflação não sobe mais do que a própria inflação. Ah, tem outra coisa que não está subindo mais, mas este espaço não é apropriado para este tipo de comentário.

A situação está tão feia que tive que demitir minha empregada doméstica (Iris, a rainha do mau humor). Pois ela recusou-se a ir embora, alegando que pelo menos aqui tem casa e comida. Estamos inaugurando a auto escravidão.

Observe o semblante da população: está tenso, desconfiado. Sorrisos, somente nas faces dos atores que participam das propagandas oficiais. Acabo de ver uma propaganda governamental sobre o PAC e vi um monte de gente com uniformes de trabalhadores, rindo a toa. Só lá mesmo: trabalhadores empregados e ainda sorrindo. Parece que a Dilma vai incluir a ampliação e a reforma de todas as carceragens da Polícia Federal no PAC. Mais uma vez, o PT agindo em benefício próprio.

Por falar nisso, está ficando maçante este negócio de todo dia a principal manchete dos telejornais é a prisão de um empregado público ou diretor de empreiteira qualquer. Já não sabemos quem está preso e quem está solto. Tem até mandado de prisão para quem já está preso. Ou seja, estão prendendo até detento.

Meu vizinho é pedreiro e trabalhava em uma construtora que está construindo um conjunto habitacional aqui perto. Trabalhava. Pois deixou o emprego alegando que do jeito que estão prendendo gente das construtoras no Brasil, certamente vai acabar nele, pois o pobre sempre acaba ficando com a pior.

A operação Lava Jato estendeu seus braços para o setor energético, com a prisão do ex- presidente da Eletronuclear. Primeiro o Mensalão, depois o Petrolão, agora o Eletrolão. Estão investigando o projeto dos submarinos nucleares. Deverá surgir o “Mergulhão”. O país dos superlativos! Quando chegar ao serviço público (o Publicão) tem gestores que eu conheço que não vão conseguir emprego nem na Odebrecht.

*Arthur Teixeira Júnior é colaborador

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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