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Panelinha de barro

O artigo é do advogado Moysés Barjud.

Retornei para o Piauí em 2005 depois de, egresso da Unifor, atuar no Ceará por seis anos. Deveria ser uma adaptação fácil, porém demorei um pouco a me ajustar diante de uma limitação que a princípio parece insignificante: nos fóruns e Tribunal não havia vaga de estacionamento de veículo reservada para advogados, como havia para juízes e membros do ministério público. Aquilo era, sem dúvida, muito incômodo!

Apesar da saudade suave que sinto do Ceará, não pretendo depreciar o meu Piauí. Mas é que, na terra dos Paulo de Tarso e Bonavides, Roberto Martins Rodrigues, Kennedy Reial Linhares, Marcelo Dias Ponte, Raphael Ayres, Rebecca Albuquerque, meu Marcos de Holanda e tantos outros, um desprestígio desses não seria admitido de forma alguma! Se o fórum Clóvis Beviláqua sepultasse em seu quintal a paridade entre advogados, juízes e promotores, Cândido Albuquerque seria capaz de dar umas sacudidas no próprio pai do Código Civil.

Não é que a OAB Piaui não se atentasse para as direitos de seus filiados. Passados mais de quinze anos que aqui estou foi fácil perceber que na verdade eram seletas as pessoas a serem agraciadas com tais prerrogativas. Talvez por isso há oito anos me expurguei do terno e tomei outro rumo, para outra entidade de representação onde não há panela. Daí foi que, logo após meu retumbante evento de despedida, cheguei a desconfiar que o problema da OAB piauiense fosse comigo: na mesma época, por algum motivo a água ferveu naquela secular panela e a ordem viveu uma reviravolta, com uma nova gestão, jovem e voltada apenas para a classe. Lembro bem que uma das providências do primeiro gestor dessa nova ordem foi, em prol da advocacia, enfrentar o à época Presidente do Tribunal de Justiça do Estado. Por ser algo inédito, muitos se perguntavam se o rapaz não seria doido! E nesses últimos oito anos mantiveram a panela de outrora no depósito! “Por que eu deixei a ordem?”, eu me pus a me dizer. 

O problema é que dependendo da comida a ser servida velhas panelas voltam ao fogão, e o atual cardápio do STF tem animado os bastidores de Teresina. Mesmo de barro e pequena, é uma panelinha afoita. Seu ponto fraco, porém, é estar mais acostumada com fumaça do que com fogo. É momento, pois, de os advogados do Piaui, em especial os mais jovens e independentes, colocarem mais lenha nessa fogueira, de forma que sua chama quebre de vez essa panela.

Moysés Barjud-  Advogado

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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