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Economia e Negócios

Banco Central diz que guerra na Ucrânia pode gerar mais inflação

Ata divulgada nesta terça apresentou um parágrafo para detalhar os impactos da guerra no Leste Europeu.

O Banco Central incluiu na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) suas preocupação de que a guerra entre Rússia e Ucrânia possa gerar mais inflação e exigir juros mais altos. Divulgado nesta terça-feira, 22, o documento diz que o conflito no Leste Europeu adiciona ainda mais incerteza e volatilidade ao cenário externo. A diretoria colegiada se mostrou bastante apreensiva com as consequências do conflito sobre os preços e as cadeias produtivas pelo choque de oferta importante em diversas commodities, produtos básicos, como alimentos e petróleo.

“O Comitê considerou que a boa prática recomenda que a política monetária [a calibragem da taxa básica de juros] reaja aos impactos secundários desse tipo de choque, prática que leva em consideração as usuais defasagens dos efeitos da política monetária”, destacaram os diretores do Banco Central.

O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.

A ata se refere à última reunião do comitê, da semana passada, quando o comitê decidiu elevar a taxa Selic de 10,75% ao ano para 11,75% ao ano. Foi o nono aumento consecutivo. Com isso, a Selic alcançou o maior nível em quase cinco anos.

Os diretores BC escreveram que a inflação ao consumidor está elevada, disseminada e mais persistente que o previsto. Por isso, a autoridade monetária decidiu aumentar a Selic em 1 ponto porcentual no encontro do Copom passado. Para a autoridade monetária, a combinação de duas elevações de 1 ponto porcentual da taxa básica de juros, parece suficiente para conter novos aumentos de preços, avaliando do ponto de vista do dia do encontro. O colegiado, no entanto, deixou bastante claro que não se comprometeria com o fim de ciclo devido à volatilidade. Em outras palavras, o Copom está a reboque de guerra e do vaivém do petróleo

"O Comitê reconhece o cenário desafiador para a convergência da inflação para suas metas e reforça que estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário, caso o cenário evolua desfavoravelmente", disse o BC na ata. "O Copom avalia que o momento exige serenidade para avaliação da extensão e duração dos atuais choques. Caso esses se provem mais persistentes ou maiores que o antecipado, o Comitê estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário", disse o Copom na ata, repetindo o texto do comunicado.

A ata apresentou um parágrafo a mais, além do usual, para detalhar os impactos da guerra no Leste Europeu sobre as cadeias produtivas e a inflação. Usualmente, o cenário externo é o primeiro assunto tratado no documento em apenas um parágrafo. Na edição de hoje, dada a importância do tema para a política monetária, o assunto foi desmembrado em dois.

Na ata anterior, o Copom já tinha avaliado que o ambiente seguia “menos favorável”, mas citava a pressão inflacionária nos Estados Unidos, a nova onda de covid-19 e a variação dos preços das commodities. No documento de hoje, o BC aprofundou sua preocupação com o cenário externo, acrescentando que “o ambiente se deteriorou substancialmente”. “O conflito entre Rússia e Ucrânia levou a um aperto significativo das condições financeiras e aumento da incerteza em torno do cenário econômico mundial”, enfatizou a autoridade monetária.

O primeiro parágrafo prossegue analisando que o choque de oferta decorrente do conflito tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto avançadas. Também comentou que, desde a reunião anterior, a maioria das commodities teve avanços relevantes em seus preços, em particular as energéticas.

O assunto extrapolou para um segundo parágrafo, que o conflito na Europa e as sanções aplicadas à Rússia gerou reflexos na reorganização das cadeias de produção globais, com a criação de redundâncias na produção e no suprimento de insumos e mudança no tratamento dos estoques de bens (no sentido de se deter maiores estoques). “Na visão do Comitê, esses desenvolvimentos podem ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas na produção global de bens.”

Incerteza sobre contas públicas

A incerteza em relação ao futuro do arcabouço fiscal atual resulta em elevação dos prêmios de risco e eleva o risco de desancoragem das expectativas de inflação, segundo o Copom. De acordo com o documento, isso implica atribuir maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas de juros mais elevadas.

“Esse movimento já é observado, em alguma medida, nas expectativas de inflação para prazos mais longos extraídas da pesquisa Focus, assim como nos prêmios de risco de diversos ativos locais”, citou a autoridade monetária. O Copom também reiterou que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira, que devem ficar parados em ano eleitoral, é essencial para o crescimento sustentável da economia.

“Esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, escreveram os diretores.

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