O Ministério Público do Paraguai abriu um processo criminal para investigar uma suspeita de espionagem digital atribuída à Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A suposta ação de intrusão cibernética teria ocorrido durante o atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o objetivo de monitorar autoridades paraguaias e acessar dados confidenciais. Segundo nota oficial divulgada pelo MP paraguaio na quinta-feira (3), a Abin teria violado sistemas ligados às negociações tarifárias da Usina Hidrelétrica de Itaipu.
A investigação aponta que entre os alvos da suposta espionagem estão senadores, deputados, diplomatas e integrantes da Administração Nacional de Eletricidade (Ande). As ações da agência brasileira teriam atingido inclusive gabinetes de altos funcionários paraguaios, como o do presidente da República e membros do Congresso. O acesso indevido às informações teria ocorrido por meio de operações hackers que buscaram interceptar dados estratégicos sobre a usina binacional, compartilhada entre Brasil e Paraguai.

O caso ganhou repercussão após o portal UOL revelar o conteúdo das suspeitas e as implicações para as relações entre os dois países. Na terça-feira (1º), o governo paraguaio convocou o embaixador do Brasil em Assunção, José Antônio Marcondes, para prestar esclarecimentos sobre o episódio. O Ministério Público do Paraguai destacou, em sua nota, que a conduta investigada pode configurar crimes como acesso não autorizado a sistemas informatizados e interceptação ilícita de dados.
As suspeitas de espionagem surgiram a partir de um depoimento prestado por um servidor da própria Abin à Polícia Federal, no Brasil. Segundo o relato, a atual gestão da agência teria mantido operações de invasão digital a sistemas paraguaios com o objetivo de obter informações privilegiadas sobre as negociações de Itaipu. O MP paraguaio informou que a apuração busca esclarecer a eventual participação da Abin em ações internacionais de intrusão e espionagem, além de identificar os responsáveis diretos pelas operações.
O governo brasileiro, por meio de nota à imprensa, informou que as atividades foram interrompidas em março de 2023, tão logo a Presidência da República tomou conhecimento do caso. Já o Ministério Público do Paraguai afirmou que manterá o andamento das investigações conforme a legislação nacional e reforçou o compromisso com a proteção da soberania do país e dos direitos fundamentais diante de qualquer interferência indevida.
Ver todos os comentários | 0 |