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'Presidente do Brasil não veio aqui para ser advertido', diz Bolsonaro

Bolsonaro desembarca no Japão para G-20 e responde declarações de chanceler alemã sobre desmatamento no País.

Ao desembarcar em Osaka, no Japão, para o encontro do G20, o presidente Jair Bolsonaro rebateu a chanceler alemã, Angela Merkel, e disse que o Brasil “tem exemplo para dar para à Alemanha” sobre meio ambiente.

Na última quarta-feira, 26, Merkel disse ver com grande preocupação as ações de Bolsonaro sobre desmatamento no País. “O presidente do Brasil que está aqui não é como alguns anteriores, que vieram aqui para ser advertidos por outros países, não. A situação aqui é de respeito para com o Brasil. Não aceitaremos tratamento no passado como alguns chefes de estado tiveram aqui”, disse Bolsonaro a jornalistas na chegada ao hotel onde irá se hospedar pelos próximos dois dias.

  • Foto: Bruno Rocha/FotoArena/Estadão ConteúdoJair BolsonaroJair Bolsonaro

Visivelmente cansado e irritado, Bolsonaro culpou a imprensa ao comentar a fala de Merkel. “Eu vi o que está escrito e lamentavelmente em grande parte o que a imprensa escreve não é aquilo”, disse. Advertido por um jornalista que as observações de Merkelforam publicadas pela imprensa estrangeira, e não brasileira, Bolsonaro respondeu: “não interessa que foi alemã, e deixa eu terminar o raciocínio. Então, tem que fazer a devida filtragem pra não se deixar contaminar por parte da mídia escrita especialmente”.

Ele disse que não vê “problema nenhum” em ser abordado por Merkel para falar sobre desmatamento no G-20. A chanceler descreveu como “dramática” a situação no Brasil e afirmou que pretende abordar Bolsonaro para falar sobre o tema.

“Nós temos exemplo para dar para a Alemanha sobre meio ambiente, a indústria deles continua sendo fóssil, em grande parte de carvão e a nossa não. Então eles têm a aprender muito conosco”, disse Bolsonaro. Não há previsão de encontro oficial entre os dois durante o G20 até o momento.

O presidente encerrou o encontro com jornalistas no meio da entrevista, com dois minutos de conversa. Antes, deu respostas curtas a perguntas sobre a participação do Brasil na reunião das 20 maiores economias do mundo. “Vamos ouvir e falar”, disse Bolsonaro sobre o G-20.

Questionado sobre o que pretende dizer, Bolsonaro devolveu a pergunta a um jornalista: “o que você quer que eu fale?”. Na sequência, o presidente brasileiro disse que irá falar sobre indústria, internet e meio ambiente. Na programação do G-20 há previsão de que ele se manifeste duas vezes. A primeira, em um pronunciamento de 5 minutos e a segunda, de 3 minutos. “Nós falaremos tudo o que estiver na pauta. E se formos questionados por alguma coisa, temos certeza de que estamos prontos para resolver”, afirmou Bolsonaro.

O presidente terá ainda sete reuniões bilaterais, incluindo encontros com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e com o líder chinês, Xi Jinping. Questionado sobre o tema do encontro com Trump, Bolsonaro se limitou a responder que “se é reservada (a conversa), é reservada” e que espera ter a reunião com o americano. O encontro acontecerá na sexta-feira, 28, e será a segunda reunião entre os dois mandatários.

Na campanha eleitoral, Bolsonaro criticou a relação comercial do Brasil com a China. Em março, nos jardins da Casa Branca, o brasileiro mostrou alinhamento total de seu governo às políticas de Trump e evitou tomar lado na guerra comercial travada entre o presidente dos EUA e a China – um dos principais temas a que o mundo observa com atenção em Osaka. Trump e Xi Jinping devem se encontrar no sábado para mostrar em que pé estão as negociações entre os dois países. O resultado terá poder para encerrar ou para intensificar a escalada de tarifas dos dois lados.

Ao chegar no Japão, Bolsonaro disse que o Brasil não tem lado na disputa e que está buscando “harmonia”, apesar de reconhecer que o País se beneficiou com a exportação de commodities no cenário de guerra comercial entre os dois países. “Não (tem lado), lógico que os produtos da China para os Estados Unidos e para cá em parte interessa ao Brasil porque tem a questão de commodities. Então, obviamente a gente não quer que haja briga para podermos aproveitarmos. A gente está buscando paz e harmonia como estamos trabalhando no caso do Mercosul e na União Europeia”, disse.

O ceticismo de Bolsonaro sobre o investimento chinês no Brasil foi explorado na edição especial do The Japan Times sobre o G-20. O jornal traz um pequeno perfil com foto dos líderes que se encontrarão na cidade a partir desta sexta-feira, 28.

Após a curta entrevista, o porta-voz da presidência, Otávio Rêgo Barros, justificou, por duas vezes, o comportamento de Bolsonaro com jornalistas. “A irritação é porque ele acabou de chegar aqui e tem que descansar para amanhã estar disposto para cooperar no G-20 e no BRICS para que todos os países que aqui estão tenham oportunidade de sair com coisas realmente palpáveis”, afirmou.

Prisão de segundo-sargento da Aeronáutica com cocaína

Bolsonaro interrompeu a entrevista durante pergunta sobre a reunião com a China. Coube ao porta-voz comentar a prisão do segundo-sargento da Aeronáutica, Manoel Silva Rodrigues. Na terça-feira, 25, o sargento foi detido em Sevilha, na Espanha, ao chegar ao país com 39 quilos de cocaína em sua bagagem pessoal, em um avião da FAB.

“O presidente, o Ministério da Defesa e o comando da Força Aérea não admitem em hipótese nenhuma procedimentos desse tipo com relação a seus recursos humanos e desejam que isso seja aclarado o mais rápido possível e que a pessoa seja punida devidamente dentro dos trâmites legais”, disse o porta-voz.

Ele afirmou que um inquérito policial militar vai verificar se houve falha nos procedimentos de segurança. O porta-voz também negou que a prisão seja a razão para a mudança na escala do voo ao Japão, inicialmente previsto para parar em Sevilha. “Não. Foi uma questão técnica, avaliada pelo comando da força aérea junto com o gabinete de segurança institucional, a mudança de Sevilha para Lisboa”, afirmou o porta-voz.

O G-20 acontece amanhã, 28, e sábado, em Osaka. Nesta quinta, 27, o único compromisso de Bolsonaro é um jantar privado.

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