O prefeito de Teresina, Dr. Pessoa (Republicanos), está diante de uma crise na Saúde Pública que transcende as simples promessas de "assumir o controle da situação", repetidas em diversas entrevistas à imprensa. O caos atingiu níveis insustentáveis, caracterizando uma situação nunca vivenciada em outras administrações. Diariamente, tanto a imprensa quanto a população denunciam a precariedade de hospitais, unidades básicas e outros equipamentos geridos pela Fundação Municipal de Saúde (FMS). O Hospital de Urgência de Teresina (HUT), uma das maiores unidades de saúde do Piauí, emerge como epicentro dos problemas na prestação de serviços, que deveria ser a máxima prioridade de qualquer gestor.

Foto: Lucas Dias/GP1
Prefeito Dr. Pessoa

Nos últimos meses, têm aumentado os relatos de pacientes que não conseguem ser atendidos ou que têm o atendimento comprometido por falta de medicamentos, insumos e até mesmo pela ausência de profissionais.

A informação mais recente revela que, no HUT, muitas cirurgias estão sendo canceladas devido à escassez de material, atingindo até mesmo os serviços mais básicos, como a falta de gaze para curativos.

Falta o básico

O problema mais recorrente, sem dúvida, é a escassez de medicamentos, incluindo uma carência diária de antibióticos essenciais. O Hospital de Urgência enfrenta uma falta generalizada de diversos remédios, desde os mais simples, até essenciais para cardiopatas, pacientes com politrauma e traumatismo cranioencefálico grave. A falta de manutenção nas máquinas de hemodiálise agrava a situação, comprometendo não apenas a prestação de serviços, mas também a vida dos pacientes que dependem desses tratamentos.

Foto: Alef Leão/GP1
Servidores na porta do HUT

Precariedade na estrutura

Os problemas não se restringem ao HUT, estendendo-se por quase todas as unidades de saúde sob a gestão da FMS, incluindo as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). A falta de manutenção em equipamentos, como máquinas de hemodiálise e aparelhos de ar-condicionado, agrava a situação. O calor extremo torna-se um problema adicional, com relatos de unidades de saúde sem funcionamento de aparelhos de ar-condicionado, inclusive em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) administradas pelo município.

Foto: Alef Leão/GP1
Paciente no HUT

Além disso, a maioria dos locais de atendimento encontra-se em condições insalubres, comprometendo a qualidade do trabalho da equipe de atendimento e afetando o prognóstico dos pacientes. Um exemplo é a situação nas UTIs do HUT, onde os problemas nos aparelhos de ar-condicionado persistem há vários meses sem solução. Essa falta de manutenção não apenas impacta o conforto dos profissionais de saúde, mas também coloca em risco a saúde e o tratamento adequado dos pacientes.

De maneira mais dramática, pacientes do HUT estão enfrentando dificuldades básicas, como a falta de água potável devido a bebedouros quebrados. Essa situação obriga os pacientes e seus familiares a trazerem água gelada de casa, evidenciando a precariedade das condições de infraestrutura que impactam diretamente no conforto e na dignidade dos usuários do sistema de saúde.

Foto: GP1
Sala de descanso masculina de socorristas do SAMU

Sucateamento das ambulâncias

Além de tudo, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) está sofrendo com o sucateamento de suas ambulâncias, comprometendo significativamente a capacidade de resposta a emergências médicas na cidade. O número de ambulâncias disponíveis tem sido reduzido drasticamente, chegando a mais de 50% em algumas ocasiões, gerando preocupações quanto à capacidade do sistema de atender eficazmente às demandas de socorro da população. Essa precariedade no SAMU representa um risco adicional para a saúde pública, uma vez que a agilidade no atendimento de urgências pode ser crucial para a sobrevivência e o bem-estar dos pacientes.

Hospitais interditados

Dois episódios emblemáticos ocorreram em dezembro do ano passado, quando o Conselho Regional de Medicina do Piauí (CRM-PI) interditou parcialmente o Hospital Geral do Buenos Aires, e o Conselho Regional de Enfermagem do Piauí (Coren-PI) interditou a Maternidade Wall Ferraz.

Foto: Divulgação/Ascom
Coren interdita serviço de enfermagem da Maternidade Wall Ferraz

Essas interdições foram indicativos da administração desastrosa da Saúde em Teresina. Em março deste ano, o incêndio no Hospital Alberto Neto, o Hospital do Dirceu, enfatizou a crise de gestão, levando a uma reforma significativa apenas após o incidente.

Problemas de Pessoal

Além das questões estruturais e de falta de medicamentos, outro desafio diz respeito ao quadro de pessoal. A rede de saúde da capital não conta com profissionais em número suficiente para atender à alta demanda, e os funcionários existentes, desde os terceirizados até os concursados, enfrentam atrasos salariais, não pagamento de gratificações, auxílio alimentação e outros direitos trabalhistas.

Vídeo, obtido com exclusividade por esta jornalista, revela zeladoras que iniciaram o dia de braços cruzados nesta quarta-feira (29), manifestando sua insatisfação diante da situação crítica, uma vez que estão sem receber os salários devidos.

Ameaça de Cortes

Diante da escassez de pessoal, a Prefeitura de Teresina está considerando demitir cerca de 25% dos funcionários terceirizados, incluindo aqueles que atuam na área da Saúde.

Onde está o prefeito?

A desordem que permeia os serviços de saúde da capital é um reflexo inequívoco de uma gestão deficiente e descomprometida com o bem-estar da população. A mera demissão do presidente da FMS, Ari Ricardo da Rocha Gomes Ferreira, revela-se como uma solução superficial para um problema sistêmico que exige uma abordagem mais abrangente. A indagação que se impõe é: onde está o prefeito?

Dr. Pessoa precisa ir além de medidas paliativas e realizar uma análise profunda das falhas estruturais e administrativas que contribuíram para a atual situação calamitosa. A crise na saúde não é apenas uma questão de falta de recursos ou pessoal, mas sim um sintoma de uma gestão pública desarticulada e desprovida de estratégias eficazes.

Foto: Lucas Dias/GP1
Dr. Pessoa

O prefeito deve buscar uma reestruturação completa, identificando e corrigindo as deficiências nos processos de aquisição de medicamentos, manutenção de equipamentos, e no gerenciamento de recursos humanos. A responsabilidade pela crise na Saúde Pública de Teresina não pode ser atribuída unicamente ao presidente da FMS; ela recai sobre a liderança municipal como um todo.

Assumir o controle não deve ser apenas um slogan político, mas uma ação efetiva que envolva a implementação de políticas sólidas, transparência na gestão dos recursos públicos e, se necessário, mudanças profundas na equipe administrativa. A população de Teresina merece um compromisso real com a resolução desses problemas, e isso exige uma postura proativa e responsável por parte do prefeito. A Saúde Pública não pode ser tratada como moeda de troca política; ela é uma questão de vida e morte para a comunidade, e a liderança municipal precisa agir de maneira condizente com essa urgência.

Foto: Marcelo Cardoso/GP1
Morador de Teresina chora a espera de melhorias