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Teresina - Piauí

Exclusivo: veja o depoimento do 3º acusado de matar estudante de Medicina Flávia Wanzeler

Macapá revelou que já foi preso três vezes por crimes de violência doméstica, furto e roubo.

O GP1 obteve acesso, com exclusividade, à integra do depoimento de Antônio Cleison Barbosa Silva, de alcunha “Macapá”, o terceiro preso devido a tentativa de assalto que culminou no covarde assassinato da estudante de medicina Flávia Cristina Wanzeler Sampaio, de 22 anos, no dia 12 de fevereiro, na zona leste de Teresina.

Durante o interrogatório no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Macapá revelou que já foi preso três vezes por crimes de violência doméstica, furto e pelo roubo de uma motocicleta em 2012. O criminoso contou que conheceu os outros dois acusados do crime, identificados como "Biel" e "Ceará", porque realizava serviços na casa de Biel e fumava maconha com eles. Apesar dos dois comparsas apontarem a participação dele no crime, Macapá negou veementemente que tenha tido qualquer participação na morte de Flávia Wanzeler.

Contradições

Do começo ao final do depoimento de Macapá, que durou pouco mais de 11 minutos, o acusado entrou em contradições por diversas vezes. Com aparência assustada e olhos arregalados, aparentando estar sob efeito de entorpecentes, ele entrou em contradição sobre os horários que relatou ter saído e chegado em casa no dia em que ocorreu o latrocínio que ceifou a vida de Flávia, no último domingo, dia 12 de fevereiro.

“Eu estou aqui há 6 meses, vou fazer 8 meses agora. Sou do Pará, do Rio Grande no Pará. Não tenho mandado de prisão de lá [Pará] não. Já fui preso umas três vezes, eu acho, por ‘155’ [furto], Maria da Penha [violência doméstica] e 157 pelo roubo de uma moto em 2012 que eu mesmo fiz. Olha, chefe, vou lhe falar, no dia do acontecimento eu estava lá na Morada do Sol, isso foi na parte de 13h da tarde que eu saí lá de casa, aí quando foi por volta de 13h30 pra 14h da tarde que eu saí andado de casa para a casa do Biel, onde eu trabalho lá fazendo uns favores para ele, onde ele paga dez reais, vinte reais, trinta reais, quando eu cheguei lá ele não estava mais. Aí a mulher dele e a esposa do Ceará também me ofereceram um pedaço de carne pra mim comer, e eu não quis comer e vim embora para casa. Então, quando foi 13h da tarde para 13h30 da tarde eu emprestei o celular para um menino e vi no RP50 que tinham assassinado uma jovem que era estudante de medicina e que tinham roubado o carro dela, porém, eu não sabia que era eles [Ceará e Biel]. Quando foi no dia seguinte, de manhã cedo eu fui ver os cachorros lá na casa dele e a polícia já tinha invadido lá, a Polícia Militar. Aí então, eu vim me embora da residência, vim embora para cá para a Morada do Sol. Aí quando chegou meio-dia e pouco, 12h30, a Polícia Civil foi lá perguntando aonde o Biel tava, aí eu falei: ‘não sei não, cara, onde ele está’, aí quando foi agora de noite a Polícia Civil foi e me pegou lá. Então, assim não tem nenhum testemunho e prova disso não [que ele tenha participado do crime]”, alegou o criminoso conhecido como Macapá.

Noite anterior ao crime

Ao começar a apresentar a sua versão dos fatos sobre a ordem cronológica dos acontecimentos que resultaram na morte da estudante de Medicina, Macapá começou desde a noite anterior ao crime, no sábado, dia 11 de fevereiro. Ele expôs que Biel contou para ele que viajaria para resolver assuntos de família. “Eu estava de noite lá [na casa de Biell] e ele falou que ia viajar, que ia resolver uma coisa de família. Ele falou que era para mim chamar o táxi e eu fui e chamei, aí vim embora [para a casa que Macapá reside]”, disse.

Em seguida, ele revelou como conheceu o Denilson Weviton Santos Nicolau, de vulgo "Ceará", que foi o primeiro suspeito preso, em ação conjunta da Polícia Civil e da Polícia Militar, sob acusação de ter sido um dos responsáveis por abordar as vítimas na tentativa de roubar o carro Nissan Kicks, ocupado por Flávia Wanzeler e seu namorado.

“Ah, o Ceará eu conheço, porque nós fuma um baseado, fuma uma maconha mas não tenho essa intimidade assim com ele não. Só falo assim: ‘iai, Ceará, beleza?!’ ele responde beleza e pronto, já era. Eu não participei, eu não estava, porque quando eu cheguei na casa deles era 14h da tarde e eles não estavam lá. A esposa do Ceará e do Biel que estavam. A esposa do Biel falou que eles iam resolver não sei o quê, que tinham saído, que tinham saído para algum lugar aí, aí eu falei que tá bom e vim embora. Quando foi 14h30 para 15h da tarde que eu cheguei em casa. Eu não tô não, cara [envolvido no crime] nisso aí. Estou não. Ele falou que ia viajar, resolver um negócio de família, aí eu peguei e chamei um táxi para ele ontem a noite”, relatou Macapá.

Quarto envolvido?

Neste trecho do interrogatório, Macapá foi questionado pelo delegado do DHPP sobre um elemento exposto por Ceará durante o depoimento dele, que foi a participação de um quarto envolvido. Tanto Macapá, como Ceará, negam conhecer esse possível quarto envolvido no crime.

“Assim, o outro rapaz [um quarto envolvido] que eles disseram aí eu não sei quem é, não posso falar uma coisa que eu não sei, que eu não estava. Disseram que era outro cara aí, não sei quem é não. Eles falaram para mim agora de manhã. Aí eu falei para eles assim: ‘ei, cara, mas quem foi o cara que estava com vocês aí? Como foi isso aí?’. Aí eles falaram que a mulher queria dar a ré, alguma coisa assim, que ela reagiu, e eles deram o tiro. O Ceará que falou para mim, ele falou que estava ele, que estava outro e mais outro cara lá que é parecido com eu mas não é eu não. Juro que não sou eu. No dia que eles saíram para roubar o veículo estava a mulher dele, do Ceará aqui, e a esposa do Biel lá na casa, e eu perguntei onde estavam os meninos e elas disseram que ele saíram. Eu perguntei para onde e ela não falou para mim. Aí eu peguei e vim embora para casa", narrou Antônio Cleison Barbosa Silva.

"Estou aqui inocente", alegou o Macapá

Em vários momentos do interrogatório, Macapá alega inocência e após contar que não conhece esse homem apontado como o quarto envolvido, ele reafirmou inocência. "Cheguei em casa era umas 15h da tarde, eu cheguei em casa, sabe? Mas eu não estou envolvido no crime], juro que eu não estou, estou aqui inocente. Eles podem até estar falando que eu estou, mas eu não estou! Quando eu cheguei lá eles não estavam mais na casa, já tinham saído”, expressou o terceiro acusado.

Na sequência, a pedido do delegado e dos investigadores presentes no interrogatório, Macapá listou características que Ceará contou para ele sobre a aparência desse que seria o quarto envolvido. “Eles disseram que estava [Ceará e Biel] com mais uma pessoa, nem ele não sabia quem era a pessoa, ele aí oh, o Ceará não sabia quem era. Ele falou que era um moreno, um ‘negão’ aí, sabe? Tipo assim, ele falou que era um moreno, aí ele falou que nunca tinha visto esses caras não. Ele falou assim para mim de manhã [na segunda-feira, dia 13 de fevereiro, no dia seguinte a morte de Flávia Wanzeler]. Vocês queriam saber a verdade e eu estou me defendo para mim ver se eu saio daqui, porque não foi eu não, eu não estou no meio disso aí não. Ele disse que era mais de um cara, mas que não sabia de quem era esse cara. Eu fui lá na casa dele de manhã. Eu não sei quantos eram porque eu não estava lá no meio. Ele falou que estava ele, o Biel e mais um cara e esse cara não sabiam quem era. Falei para o Ceará assim: ‘ei Ceará, mas como foi esse negócio aí? A mulher reagiu foi?’ aí ele falou: ‘não, a mulher foi dar a ré e tal, aí foi e deram o tiro na mulher’. Aí eu falei assim: ‘rapaz, vocês são doidos de se meter nisso aí, agora a polícia está atrás de vocês, quer pegar vocês, agora é sustentar o ‘B.O’", expôs o Macapá.

"Não sou de facção nenhuma"

Macapá também destacou que supostamente não pertence a nenhuma facção e que só tem vínculo com Biel por fazer serviços na casa dele. Ele relatou também que justamente por não possuir intimidade com Biel nunca o viu portando arma de fogo. Contudo, Macapá admitiu que o principal suspeito de matar Flávia Wanzeler já teria lhe convidado para realizar crimes.

"Eu estou falando a verdade, não foi eu não. Não sou de facção nenhuma, não sou companheiro de ninguém não, eu só faço favor lá na casa dele para mim ganhar meu dinheiro, minha correria. Não sou nem viciado, não fumo pedra, não sou de facção nenhuma. Estou aqui em Teresina em busca de um trabalho, estava recaído, faz duas semanas que não durmo pela rua e acabou acontecendo isso aí [prisão] comigo, infelizmente” começou Macapá, que em seguida acrescentou: "nunca vi ele [Biel] armado não, só trabalho lá, faço meu serviço e ele me manda embora, sabe? As vezes ele me dá uma ‘maconha de 10’ para mim fumar, um ‘barato’ na minha mente, mas não tenho intimidade com ele assim eu não tenho não. Até porque ele me chamava para mim fazer uns negócios e eu não vou, falava ‘não cara, quero não, estou de boa’, me chamava para vender alguma coisa e eu falava que não quero não”, manifestou o Macapá.

Momentos finais do interrogatório

Na parte final do interrogatório no DHPP, o acusado contou novamente que foi preso por três vezes e narrou como chegou a Teresina, há meses atrás. Além disso, Macapá afirmou que mora na casa de um padre que conheceu, supostamente identificado como "padre Ladislau".

“Já fui preso na Maria da Penha, ‘155’ e respondi duas vezes ‘157’, uma em Belém do Pará pelo roubo de uma moto, e fui preso em São Paulo, eu estava trabalhando lá, que eu não sabia que era para mim assinar, aí me prenderam de novo no mesmo artigo, o de 2012, eu respondi, aí foi que me soltaram. Aí pronto, estou aqui em Teresina. Estou há oito meses aqui. Foi assim, roubaram meus documentos lá em São Paulo aí eu vim pedindo carona de caminhão, cheguei aqui em Teresina foi que eu conheci um padre, o padre Ladislau e estou morando na casa dele. Mas assim, eu fumo minha maconha”, falou Macapá aos oficiais presentes no interrogatório.

Por fim, o acusado entrou em contradição novamente. Desta vez, foi ao ser questionado sobre a razão para ser conhecido pelo vulgo "Macapá". No começo do interrogatório, ele disse que é natural da cidade de Rio Grande e já no final do depoimento, contou que seria natural de Belém, capital do Pará.

“O apelido de Macapá é porque eu andei em Macapá, sabe? Aí pegou esse apelido de Macapá, mas eu sou lá de Belém do Pará, não sou de Macapá não. Eles [Biel e Ceará] que me chamam de Macapá. Quando eu vi na reportagem assim ‘ah, o Macapá já está sendo preso’. Eu falei, cara, vão me prender mas não foi eu não porque quando eu cheguei lá na casa deles, eles já tinham saído e eu voltei para casa. Foi isso que aconteceu”, encerrou Antônio Cleison Barbosa Silva.

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