Rodrigo Mendes
Um dos principais símbolos da cultura piauiense completou 85 anos nesse domingo (25). Localizado no Centro de Teresina, o Cine Rex reúne histórias de vários teresinenses, como romances e encontros em família, tendo marcado gerações na Capital. Atualmente, o prédio encontra-se desocupado e abandonado, apesar de ainda impressionar por sua beleza arquitetônica.
Fundado em 25 de fevereiro de 1939, o prédio é inspirado na arquitetura de Art Decó, movimento artístico que consiste em linhas retas e volumes geométricos. Símbolo da urbanização da capital, o imóvel fica ao lado do Theatro 4 de Setembro, em frente à Praça Pedro II, e foi tombado como patrimônio público pelo Governo do Estado em 1995.
Ao GP1, a arquiteta Isis Meireles explicou como o design do prédio é um dos únicos de Teresina. “A singularidade do Cine Rex advém da sua arquitetura Art Decó traduzida em linhas retas e volumes geometrizados que representava um período de desenvolvimento tecnológico ocorrido após os anos de 1871-1914, período conhecido mundialmente como Belle Epoque e momento em que os cinemas foram criados e se difundiram por todo o mundo (...) Dessa forma, é um exemplar relevante do patrimônio histórico arquitetônico de Teresina por materializar em sua fachada modos de vida, desenvolvimento e a história e identidade cultural da cidade”, explicou Isis.
O primeiro filme exibido no cinema foi “A Grande Valsa”, de 1938. O longa foi o primeiro de muitos que marcaram época e formaram diversos amantes da sétima arte na capital piauiense, sendo um dos principais pontos de encontro de Teresina durante as décadas de 1940 até 1970.
“Ele foi importantíssimo porque no auge, por três décadas ou mais, foi o grande centro de cultura de Teresina (...) O Rex era um grande ponto de encontro da sociedade teresinense de várias classes sociais e também um grande instrumento atrativo com a Praça Pedro II. Durante as décadas de 50, 60, 70, foi o principal ponto de encontro da cidade, e cumpriu sua função como cinema, entrando em decadência do fim da década de 70”, contou o historiador Gilson Caland ao GP1.
Período de decadência
A partir da década de 90, o Cine Rex começou a perder sua popularidade, principalmente com o surgimento de novos locais de encontro em Teresina, como boates e os shoppings centers. Esse fenômeno ocorreu em todo o Brasil, com os cinemas de rua perdendo força nas principais cidades do país.
“Os cinemas de rua perderam a força com o surgimento de outros locais de lazer como as casas noturnas, somando-se também à falta de incentivo cultural tanto na esfera pública quanto privada”, afirmou Isis Meireles.
Nessa década, o Cine Rex passou a exibir mais filmes pornográficos, até encerrar suas atividades em 2005. Em seguida, o prédio foi transformado em uma boate, que durou poucos anos até fechar por completo. Atualmente, o edifício se encontra abandonado, com necessidades de reforma e preservação.
“Na década de 90, eu assisti filme lá, e basicamente virou [exibição] de cinema pornô, atraía homens de todas as classes sociais. Em 2005, o Rex foi reinaugurado, acho que durante anos funcionou como casa de show, funcionou como bingo, esse estilo que não era mais de cinema. E depois fechou definitivamente”, pontuou Gilson Caland.
Memórias de nostalgia
Ressaltando a sua importância cultural, o Cine Rex está presente na memória de muitos piauienses que presenciaram o seu funcionamento. Para a contadora Jacqueline Lopes, o prédio reunia muitos jovens, principalmente para ver filmes que eram bastante aguardados na época.
“Uma das minhas memórias mais fortes foi de ver o filme Entrevista com o Vampiro, com minhas amigas. Lembro que passava muitos filmes pornôs na época, mas esse foi um que queria muito ver por causa dos atores. Tenho boas lembranças, de olhar a cabine do projetor no momento que eu entrava na sala, da cortina abrindo, dá até uma nostalgia”, relembrou.
Já o documentarista Douglas Machado destacou a importância do Cine Rex em sua formação como cinéfilo e o motivou a fazer filmes. “O Cine Rex é, inevitavelmente, parte integrante da formação cinematográfica de qualquer amante da Sétima Arte em nossa cidade. Seja para cinéfilos como eu, que na década de 1970 deu seus primeiros passos, ainda criança, se encantando com a tela gigante do REX como para uma geração mais nova, sem ter tido essa experiência, mas certamente conhecedora do legado dessas salas”, pontuou.
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