A morte de David Kauan, de 12 anos, no aterro sanitário de Teresina, desencadeou um debate político na capital, não apenas sobre as condições do local, mas também sobre a responsabilidade do poder público diante de situações sociais extremas. O episódio gerou, inclusive, atritos entre vereadores, que divergiram publicamente sobre as causas e soluções para o problema.
O vereador Pedro Alcântara (PP) defendeu, em entrevista ao GP1, que os catadores permanecem no aterro “por vontade própria”, rejeitando alternativas formais de trabalho. Segundo ele, as pessoas que atuam no lixão preferem a atividade atual a empregos com carteira assinada.

“Eles preferem catar lixo a trabalhar de carteira assinada. Talvez catando lixo eles ganhem mais, o que se há de fazer? Participei de uma reunião em que uma técnica da Eturb explicou que já havia uma cooperativa, com carteira assinada, e mesmo assim eles roubaram o carro da cooperativa que os levava para o trabalho. O que tem que haver é convencimento, trabalhar a mente deles. Caso contrário, vão continuar catando lixo. Essa cooperativa oferecia carteira assinada, férias, 13º, mas eles preferiram permanecer no lixão. É o mesmo caso das empregadas domésticas que, segundo ele, “não querem carteira assinada, querem Bolsa Família”, afirmou.
As declarações de Alcântara provocaram forte reação do vereador João Pereira (PT), que elevou o tom ao repudiar a insinuação de que a permanência dos catadores no aterro fosse uma escolha consciente.
“Ninguém pediu para estar naquela situação. Dizer que foi ofertado para essas famílias emprego formal não corresponde ao que foi relatado no local. Essas pessoas não tiveram oportunidades reais. Insinuar que a culpa é daquelas famílias é, no mínimo, desumano. Não é possível que aceitemos uma fala dessas e permaneçamos calados diante de uma situação social recorrente”, criticou.
Questionado novamente pelo GP1, Pedro Alcântara não recuou das declarações e respondeu de forma categórica. “Não estou na Câmara Municipal para agradar vereador.”
O embate explicita não apenas as divergências sobre como lidar com a pobreza e a informalidade, mas também a dificuldade do Legislativo municipal em articular uma resposta coerente a um drama social que se arrasta há anos.
O episódio é revelador das tensões latentes entre discursos de cunho meritocrático e visões mais sociais no debate político local uma disputa que tende a se intensificar à medida que a gestão municipal é cobrada por respostas mais consistentes para a população vulnerável.
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