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Deputado Jadyel Alencar transferiu mais de meio milhão de reais para acusados de tráfico de drogas

Operação Mandarim desbaratou organização criminosa que atuava na lavagem de capitais oriundos do tráfico.

Documento obtido com exclusividade pelo GP1, nesta quarta-feira (03), revela uma ligação entre o deputado federal Jadyel Alencar (PV) e os empresários Govandi Freire de Sá Filho e Ramon Santiago Matos Nascimento, presos durante a "Operação Mandarim", que desbaratou uma organização criminosa liderada por Paulinho Chinês, que atuava na lavagem de capitais oriundos do tráfico de entorpecentes no estado do Piauí. O deputado Jadyel Alencar transferiu o total de R$ 581.200,00 para os acusados de tráfico de drogas.

Govandi Freire é irmão de Ítalo Freire Soares de Sá, dono da empresa Ponto Charme e considerado operador financeiro do grupo criminoso, enquanto Ramon Nascimento é proprietário da empresa Achei Negócios Imobiliários, que era utilizada para lavar o dinheiro do tráfico.

Foto: Reprodução/InstagramJadyel Alencar ao lado de Ítalo
Jadyel Alencar ao lado de Ítalo Freire

Nossa reportagem obteve documento que revela que Jadyel Alencar enviou quase meio milhão de reais para Govandi Freire, mediante cinco transferências bancárias, e R$ 110.700,00 para a conta bancária da empresa Achei Negócios, de Ramon Santiago.

As transferências para Govandi Freire totalizam R$ 470.500,00 e foram realizadas nessa sequência: R$ 60.000,00 no dia 23 de novembro de 2021; R$ 55.000,00 no dia 24 de novembro de 2021; R$ 111.000,00 e R$ 192.000,00 no dia 30 de novembro de 2021; e R$ 52.500,00 no dia 21 de janeiro de 2022.

Foto: Reprodução/ InstagramJadyel Alencar
Jadyel Alencar

Já as transferências para a empresa Achei Negócios, de Ramon Santiago, foram feitas da seguinte forma: R$ 40.000,00 no dia 26 de novembro de 2021 e R$ 70.700,00 no dia 30 de novembro de 2021.

Campanha eleitoral

Monitoramento da Policial Civil durante a campanha eleitoral mostrou a utilização de adesivos do então candidato Jadyel Alencar (PV) nos veículos utilizados pela quadrilha composta por Govandi Freire e Ramon Santiago.

Os policiais flagraram, por diversas vezes, o irmão de Govandi, Ítalo Freire, entrando e saindo do comitê de Jadyel. No estacionamento do comitê, foi observada intensa movimentação de sacolas de um carro para outro. A polícia não sabe precisar o que havia nelas.

Operação Mandarim

Govandi Freire, Ramon Santiago e Ítalo Freire estão presos há mais de 90 dias. Eles foram alvos da Operação Mandarim, deflagrada no dia 23 de novembro de 2022 pela Polícia Civil do Piauí, por meio da Delegacia de Prevenção e Proteção a Entorpecentes (DEPRE), com objetivo de desarticular um grupo criminoso envolvido com o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro nas cidades de Teresina e Timon.

Além dos três citados, foram presas mais seis pessoas na operação: Paulo Henrique da Costa Ramos Lustosa, o “Paulinho Chinês”, apontado como o líder da organização criminosa; Lorena da Silva Lustosa Ramos, esposa de Paulinho Chinês; Raimundo Nonato Araújo Borges Filho; André Kauê Dias Viana; Maria de Fátima Soares Abreu; e Victor Levi Fernandes Soares.

Todos os presos foram indiciados pela Polícia Civil e denunciados pelo Ministério Público no dia 18 de janeiro deste ano.

Como funcionava o esquema

Ao realizar interceptações telefônicas, a Polícia Civil conseguiu captar conversa entre Ana Raquel Costa Ramos e Cássio da Silva Sousa, respectivamente irmã e cunhado de Paulinho Chinês. No trecho destacado no relatório policial, Cássio questiona Ana Raquel como estão as “coisas”, se referindo aos negócios envolvendo o tráfico de entorpecentes, oportunidade em que esta afirma que Paulinho Chinês se encontrava viajando e que as fronteiras (divisa do Brasil com outros países) estavam fechadas, e que por isso estavam desabastecidos de drogas (“ninguém aqui tem nada”). O diálogo foi gravado alguns meses após a prisão de Cássio por tráfico de drogas.

Lorena Lustosa (esposa de Paulinho Chinês) - a polícia apresentou indicativos de que a traficância exercida por Paulinho Chinês e sua esposa Lorena Lustosa se dava há bastante tempo, e citou como exemplo as prisões de Raimundo Nonato e Fábio Galeno da Silva, quando estes transportavam drogas em veículo registrado em nome da sogra de Paulinho Chinês.

Ítalo Freire e André Kauê - foi apurado que Paulinho Chinês possuía um vínculo forte com Ítalo Freire Soares e André Kauê Dias Viana, que, dentro da organização criminosa, tinham o papel de auxílio na logística relacionada aos entorpecentes, bem como na lavagem do capital obtido com a atividade ilícita.

Ramon Santiago - em relação a Ramon Santiago Matos Nascimento, apurou-se que ele é proprietário da empresa Achei Empreendimento Imobiliários, a qual, coincidentemente, tinha até pouco tempo atrás como endereço cadastrado de sua sede a mesma sala comercial em que se localiza a empresa IPK Empreendimento Imobiliários, de propriedade de Paulinho Chinês.

Govandi Freire, Maria de Fátima e Victor Levi - quanto a Govandi Freire, Maria de Fátima e Victor Levi, estes são tidos como “laranjas”, tendo as suas contas bancárias utilizadas por membros da organização criminosa para dissimularem a origem, a localização e a movimentação de valores provenientes de infração penal.

Raimundo Nonato - também ficou constatada a relação entre Paulinho Chinês e Raimundo Nonato Rodrigues da Conceição, apontado como um dos responsáveis pelo transporte de entorpecentes oriundos da região Sudeste e Centro-Oeste do país para o estado do Piauí.

Pedidos de liberdade negados

Paulinho Chinês, Ítalo Freire e Govandi Freire tiveram reiterados pedidos de liberdade negados, em várias instâncias da esfera judicial. O último pedido negado foi o da defesa de Ítalo Freire, indeferido no dia 29 de março pela 2ª Câmara Especializada Criminal, com parecer do desembargador Erivan Lopes, relator do caso.

Outro lado

Procurada nesta quarta-feira (03), a assessoria do deputado federal Jadyel Alencar afirmou que se posicionaria sobre o caso, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.

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