Em um tempo marcado pela velocidade das redes sociais e pela banalização das promessas políticas, é tentador imaginar que as grandes ideias — especialmente em campanhas — nascem de um momento de “inspiração” súbita, quase mágica. Mas essa visão romântica da criatividade está longe da realidade.
Na prática, ideias criativas não surgem do nada. Elas nascem da necessidade. Do incômodo. Do problema. E principalmente: de quem se dispõe a pensar com profundidade sobre ele.
A famosa frase atribuída a Thomas Edison — “Criatividade é 1% inspiração e 99% transpiração” — sintetiza bem essa lógica. No mundo da comunicação e da política, não é diferente. Não basta ter uma boa sacada. É preciso mergulhar no contexto, entender as dores reais da sociedade, e só então traduzir isso em propostas, mensagens ou projetos que façam sentido e mobilizem as pessoas.
A ideia nasce quando o problema é levado a sério
O publicitário não cria uma campanha eficaz apenas com base em estética ou slogans de impacto. O bom comunicador parte da realidade. Escuta. Estuda. Analisa. Revisa dados. Compreende o que está por trás do problema antes de tentar resolvê-lo.
E esse princípio vale ainda mais para quem lida com a política.
Como comunicar uma proposta para a saúde pública, por exemplo, se você nunca pisou em uma fila de posto de saúde?
Como falar sobre educação, se você não conversou com professores da rede pública e pais de alunos que enfrentam escolas sem estrutura?
Criar com responsabilidade é, antes de tudo, aceitar que a criatividade exige trabalho : pesquisa, leitura, escuta ativa, planejamento e, muitas vezes, recomeço.
Criatividade não é improviso: é método
Campanhas políticas que realmente mobilizam não são aquelas com as frases mais bonitas. São aquelas que têm alma. Que falam a partir de algo verdadeiro. Que colocam o problema do eleitor no centro do processo criativo.
Nesse ponto, a criatividade deixa de ser uma ferramenta de distração ou ilusão e passa a ser um instrumento de transformação.
Ela serve para aproximar a população da política — não para afastá-la com promessas vazias embaladas em vídeos bem editados. Serve para comunicar verdades duras com sensibilidade. Serve para tornar o problema compreensível e a solução possível.
Comunicação responsável exige mais do que talento: exige compromisso
Por isso, toda boa campanha — seja institucional, eleitoral ou de mobilização social — começa com uma pergunta sincera:
Estamos dispostos a entender o problema a fundo antes de apresentar uma ideia?
Se a resposta for sim, aí sim a criatividade entra em cena. Não como adorno, mas como força estratégica. Não como improviso, mas como método. Não como distração, mas como ponte entre o que o povo sente e o que a política pode (ou deve) oferecer.
Para quem trabalha com comunicação, fica o alerta: grandes ideias não nascem no vácuo. Elas nascem de quem teve coragem de encarar a realidade com seriedade, escutou mais do que falou — e só depois decidiu criar.
José Trabulo Júnior - Publicitário, criador da X Conexões Estratégicas
Quer contribuir com ideias? Mande seu e-mail: t.j@uol.com.br
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
Ver todos os comentários | 0 |