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Deusval Lacerda de Moraes *

Imagem: Divulgação/GP1Clique para ampliarDeusval Lacerda de Moraes (Imagem:Divulgação/GP1)Deusval Lacerda de Moraes
Não há governo quando não se enfrenta as dificuldades dos seus governados. Não se governa quando se acha que somente falando sobre os problemas ou quando se omite em falar deles para fazer com que alguns acreditem que está tudo bem. Governar é criar ação permanente contra os entraves socioeconômicos e com resultados palpáveis para a população. Governo que se preza, não perde um dia sequer da sua governança. Tanto é assim que no programa eleitoral todos os candidatos discutem as mais prementes carências coletivas e comprometem-se a não dar tréguas para equacioná-las, dizendo-se formar equipes capacitadas para enfrentar os dramas da sociedade e ainda prometem novas perspectivas para todos. Mas a prática revela que os governantes só levam a sério governar quando estão sob o crivo da campanha eleitoral.

Não obstante, é como diz o título acima, governar é combater os problemas e não perenizá-los ou agir com desídia até quando se apresentam com maior intensidade. E o que temos visto é a total inércia do governo estadual para promover qualquer ação de combate à seca que está assolando o semiárido piauiense com efeitos danosos para o Piauí, como disse o padre Geraldo Gereon, de São Francisco de Assis do Piauí, que apareceu recentemente no Jornal Nacional da TV Globo, numa ampla reportagem sobre a seca. Ele afirma que: “A seca é tão conhecida que precisa ter um sistema de prevenção, que não existe. Os governos e outros tantos, qualquer um, só começam a se assustar quando está acontecendo” (Jornal Diário do Povo, Caderno Política, Coluna Em Tempo/Da equipe, edição de 25 de março de 2013).

O valoroso padre Geraldo, para quem não sabe, é um vigário alemão que chegou ao Piauí há décadas atrás para servir na diocese de Simplício Mendes. Lá, além da sua obra espiritual, também empreendeu gigantesca obra material de forma associativista e comunitária em proveito dos pobres de várias localidades do referido município e dos circunvizinhos. Com recursos oriundos da caridade católica alemã, o sacerdote teutônico fez obra meritória que ganhou fama na região e atualmente serve na diocese de São Francisco de Assis. E como homem de ação, por onde passou em nosso torrão piauiense deixou a sua marca do trabalho e, em determinado momento, até preencheu o vazio deixado pelo setor público.

Na mesma coluna jornalística, torna-se emblemática e dolorosa a luta do piauiense pela sobrevivência ante o flagelo que está sofrendo, enquanto as autoridades palacianas se refestelam em banquetes europeus ou para tratar do futuro político dos seus patrões públicos, quando mostra que o pequeno criador Manoel Marcelino Rodrigues, segundo a matéria do Jornal Nacional, busca água quatro vezes ao dia em poço a três quilômetros do sítio onde mora. Metade da jornada é feita arrastando 200 litros de água. “É para o criatório, criação de bode, de ovelha, para dar para as galinhas, para os porcos”. Tudo que ele quer é a perfuração de um poço no lugar.

Em meio à desumanidade que padece o criador Manoel Marcelino, ver-se a luta titânica pela subsistência de um bravo sertanejo que a vida não lhe oferece um minuto de sossego sequer, e ainda consegue esboçar gestos altivos de solidariedade e lealdade com os seus bichos quando quatro vezes ao dia arrasta tambor de 200 litros d’água numa distância quilométrica. Solidariedade e lealdade estas que as nossas autoridades governamentais não têm com os bichos nem com os conterrâneos ao negligenciarem no funcionamento de 4.415 poços não instalados; 2.024 poços paralisados; 2.885 poços sem informação; 1.206 poços obstruídos; 27 poços tamponados; 237 poços secos; e 101 poços abandonados (Relatório da CPRM), que dificultam ainda mais a labuta dos piauienses castigados pela inclemência da falta de chuvas.

Para demonstrar a realidade dos fatos, o presidente da Federação de Agricultura do Piauí, Carlos Augusto Carneiro, disse que cerca de 40% do rebanho piauiense pereceu diante da fome e sede por conta da estiagem que castiga o Estado desde o ano passado. Segundo ele, o Piauí tinha um rebanho de cerce de 1 milhão e 500 mil cabeças de gado, e hoje o total não passa de 800 mil cabeças. O preço de uma vaca, antes da seca, era em torno de R$ 1.200,00. “Agora estão vendendo por R$ 500,00 e não tem comprador”, diz ele. Ainda informa que a maior mortandade do rebanho aconteceu na região Norte e no semiárido do Estado. A morte dos animais afetou diretamente a produção de leite e, por conseguinte, os seus derivados (Jornal Diário do Povo, Caderno Política, reportagem DRAMA DA SECA, edição de 28 e 29 de março de 2013).

Depreendemos daí que não existe qualquer ação do governo estadual no combate à calamidade no Piauí, pois, como disse o padre Geraldo Gereon, precisaria de medidas de prevenção, e lembramos que a seca e o governo já coexistem há muito tempo. Mas, apesar do governante dizer que está cheio de dinheiro, a única medida contra a seca que ainda persiste no sertão são os vetustos carros-pipa e, mesmo assim, porque os custos são bancados pelo governo federal e cujos efeitos são apenas momentâneos e ainda são distribuídos para os municípios sem a quantidade necessária para desenvolver antiquada prática. Há quem diga que, por política no Piauí só servir para os políticos, tem gente que ainda quer fazer política com os tais carros-pipa. Será o Benedito?

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