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* Arthur Teixeira Júnior

Imagem: GP1Arthur Teixeira(Imagem:GP1)Arthur Teixeira
Em crônica anterior, relatei duas paradas cardíacas que sofri em passado recente. Embora minhas crônicas tenham personagens, situações, locais e instalações exclusivamente frutos de minha imaginação, os dois acidentes realmente ocorreram.

Mudei-me do interior para a Capital por recomendação médica. Dr. Marcos, o cardiologista, foi enfático: ou eu moraria ao lado do hospital ou na próxima vez talvez não desse tempo de ser socorrido. Diante deste convincente argumento, passo a semana na Cidade Grande e amanheço o sábado em meu interior. Muita maldade meu anjo da guarda cochilar justo nos finais de semana.

Meu amigo Tiago, que atua em uma empresa instalada no mesmo edifício onde trabalho (cujos elevadores são excelentes), viaja comigo as sextas e retorna na segunda, pois mora em uma cidade pouco depois da minha. Além de bom proseador, garante que em caso de mal súbito deste nobre motorista-cronista, tenha chance de providenciar socorro assumindo o veículo. Ah, também é um dos pouquíssimos leitores que tenho neste prédio.

_ “Mas que bela cacetada você deu no prefeito de minha cidade...” – disse-me Tiago, do nada, para meu espanto e interrogação.

_ “Mas nem sei quem é o Prefeito de sua cidade.” – argumentei – “aliás, nunca fui à sua cidade.” – completei.

_ “Pois aquela crônica que mostra uma carta do seu filho enviada da África foi um tapa de luva de pelica naquele prefeito ladrão” – e eu cada vez entendendo menos, embora feliz, pois há muito tempo não ouvia a expressão “tapa de luva de pelica”.

Então, Tiago explicou-me o que ocorria: A cidade onde mora (vou omitir o nome, pois não tenho horário vago para responder outro processo) possui uma grande extensão territorial e diversos povoados rurais, alguns distantes mais de 30 km da Sede do Município. A maioria destes povoados elegeu vereadores nas eleições de 2012. O Prefeito, eleito também naquele ano, vivia atribulado, pois diariamente os vereadores compareciam à Prefeitura liderando caravanas de eleitores com as mais diversas reivindicações. Além dos pedidos particulares dos vereadores, que tendo somente uma seção legislativa por mês, viviam pedindo suas nomeações a cargos públicos municipais.

Foi quando o Prefeito teve uma idéia brilhante: criou nas maiores comunidades os “PAM – Postos Avançados Municipais”, sob a coordenação dos vereadores locais e encarregados de coletar as solicitações das populações nativas e encaminhá-las semanalmente aos Órgãos Executivos Municipais. Resolvera assim uma série de percalços: não tinha mais o assédio diário dos munícipes, dos vereadores famintos por cargos, agilizou a solução de demandas mais simples além de dar prestígio aos vereadores correligionários (e uma pequena gratificação mensal).

Mas não era tão bonito assim: ao invés de instalar os “PAM’s” em salas ociosas de uma escola municipal, de um posto de saúde, de uma paróquia ou templo, sob um alpendre qualquer, o alcaide passou a alugar, sem licitação, imóveis (ou parte deles) nas localidades. Um doce para quem adivinhar quem eram os proprietários destes imóveis alugados sem licitação e por preços bem acima do mercado!!! Ganhou o doce quem respondeu: os vereadores locais.

Logicamente, os vereadores coordenadores dos “PAM’s” (e também proprietários dos imóveis sedes) não poderiam trabalhar e atender seus eleitores em locais não adequados, na sua visão. Conseguiram então que a Prefeitura reformasse, com recursos próprios e às vezes desviados da Saúde e/ou Educação, os imóveis escolhidos (por eles mesmos). Instalaram banheiros novos, trocaram as telhas, pintaram, colocaram piso, ar condicionado, iluminação nova, telefone, enfim, tudo do bom e do melhor.

Ocorre que a Prefeitura fez os contratos de locação por prazo de apenas um ano, no final do qual os proprietários-vereadores-coordenadores do PAM começaram, sob os mais diversos argumentos, a pedir os imóveis de volta, situação que a Prefeitura teve que aceitar, por força de contrato. Os vereadores então receberam os imóveis, novinhos em folha e ainda embolsaram uma nota de alugueres.

A Prefeitura está alugando novos imóveis e reformando-os, imóveis estes que coincidentemente são de parentes e amigos daqueles mesmos vereadores. Tudo muito parecido com o que meu filho Bruno relatou em sua cartinha.

Por mais que eu argumentasse com o Tiago que eu desconhecia aqueles fatos, até então, e que jamais tive intenção de relatar um fato real principalmente tão próximo de mim, ele, ironicamente sorrindo, fez como quem acreditasse.

Agora, restou-me mais uma cidade que somente poderei visitar incógnito, pelo menos no atual mandato.

Com este caso, contabilizo cinco já relatos de gestores públicos que “passam recibo” das minhas inventadas e fantasiosas crônicas. Ainda aguardo o bigodudo boiola e o dono da cueca de oncinha.

Para terminar, hoje me lembrei de minha exchefe, Maria, que disse certa feita e sabiamente, que em algumas empresas tem funcionário capaz de dar tudo para manter-se em cargo de supervisão (na verdade, usou outra expressão, aqui impublicável). Não tanto pelo pequeno acréscimo no salário, acréscimo que é praticamente “comido” pelo IR, INSS e outros descontos proporcionais. Mas pelo status de ser chefe, nem que seja somente dele mesmo e ainda ter que trabalhar no porão. Coisas da incompetência.

* Arthur Teixeira Júnior é colaborador

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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