A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao porto de Itajaí, em Santa Catarina, na quinta-feira (29), gerou reação por parte do governador do estado, Jorginho Mello (PL). Ausente na cerimônia, o governador foi alvo de críticas do presidente e do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e usou as redes sociais para rebater as declarações. Além disso, Mello cobrou o envio da verba de R$ 3 bilhões prometida pelo governo federal para o programa de construção das fragatas da classe Tamandaré — recursos que, segundo ele, ainda não foram liberados.
Durante o evento, Lula evitou citar nomes, mas alfinetou adversários políticos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. “Estão com raiva, não vieram, nem virão e não têm coragem de dizer o que fizeram pelo país”, declarou. Em seguida, o ministro Silvio Costa Filho classificou o governador catarinense como “ingrato”. “Eu não ia nem falar isso, mas se tem um governador que está sendo ingrato com o presidente Lula é o governador deste estado aqui”, afirmou.

“Conversa mole” e promessas não cumpridas
Em resposta, Jorginho Mello publicou um vídeo criticando a visita e acusando o presidente de não cumprir o que promete. “Lula veio entregar conversa mole. A cada R$ 100,00 que Santa Catarina manda para Brasília, apenas R$ 10,00 são devolvidos. Ainda somos ingratos?”, questionou.
O governador também cobrou o cumprimento da promessa feita por Lula em agosto de 2024, durante o lançamento do programa Fragatas Classe Tamandaré. “Cadê o dinheiro das fragatas que ele veio, no ano passado, nos prometer?”, provocou. Em tom irônico, mostrou uma folha de papel em branco e disse que era a lista de obras do governo federal no estado. O vídeo termina com o meme “Directed by Robert B. Weide”, usado para satirizar situações mal resolvidas.
Autoridades barradas e clima de exclusão
A ausência do governador não foi a única polêmica. A Prefeitura de Itajaí informou que nem o prefeito Robison Coelho (PL), nem o presidente da Câmara Municipal, Fernando Pegorini (PL), foram convidados para a cerimônia. A secretária de Desenvolvimento Econômico, Gabriela Kelm, designada para representar o prefeito, relatou ter sido barrada ao tentar acessar o local do evento.
“O prefeito pediu que eu o representasse. Porém, ficamos eu e outras autoridades do lado de fora, sem acesso aos representantes do governo federal”, relatou Kelm. Segundo ela, ao menos seis membros da coordenação do evento confirmaram que as lideranças locais não estavam autorizadas. “Foi uma falta de organização. Pude acompanhar apenas do lado de fora.”
Empregos em risco sem a verba federal
O principal foco da cobrança do governo estadual e da Prefeitura de Itajaí diz respeito ao não repasse dos R$ 3 bilhões destinados às obras das fragatas brasileiras da classe Tamandaré. O programa, que tem o objetivo de modernizar a frota da Marinha, foi anunciado com grande expectativa pela gestão federal, mas até agora não recebeu os aportes prometidos.
O projeto está sendo executado no estaleiro Brasil Sul, em Itajaí, pelo consórcio Águas Azuis, e foi viabilizado em 2020 com um investimento de R$ 9,5 bilhões, ainda durante o governo Bolsonaro. Até o momento, gerou cerca de 8 mil empregos — sendo 2 mil diretos e 6 mil indiretos.
“Sem o aporte, 2 mil pessoas estarão automaticamente desempregadas em dezembro. Eu buscava o acesso às autoridades federais para esse diálogo, mas fui barrada”, afirmou a secretária Gabriela Kelm.
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