Durante o mês de maio, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, participou de pelo menos seis eventos patrocinados ou promovidos por empresas e entidades com interesses diretos em julgamentos que tramitam na Corte. A atuação do ministro fora do tribunal voltou a gerar críticas, sobretudo diante da proximidade com executivos e representantes de setores privados que mantêm ações relevantes sob análise do STF.
A situação mais recente ocorreu no dia 22 de maio, quando Barroso participou de um jantar beneficente na casa do CEO do iFood, Diego Barreto. O evento gerou polêmica após viralizar um vídeo em que o ministro aparece cantando "Garota de Ipanema" ao lado do empresário e da cantora Paula Lima. O episódio reforçou questionamentos sobre a adequação da presença de magistrados em confraternizações com partes interessadas em decisões judiciais pendentes.
Antes disso, Barroso esteve nos Estados Unidos, onde participou de três eventos, um deles patrocinado pela JBS, empresa dos irmãos Wesley e Joesley Batista — que acompanharam o encontro. A JBS, a maior processadora de carne do mundo, figura como parte interessada em processos no STF, muitos deles oriundos da Operação Lava Jato.
Ainda nos EUA, o ministro marcou presença em dois eventos organizados pela Lide Brasil e pela revista Veja. Segundo registros da organização, os encontros contaram com cerca de 30 patrocinadores, incluindo empresas com ações relevantes na Suprema Corte.
A agenda do ministro em maio também incluiu um encontro na residência do advogado Fernando Cavalcanti, então vice-presidente do escritório Nelson Wilians Advogados. A banca jurídica representa dezenas de clientes em ações no STF que contestam decisões da Justiça do Trabalho — a maioria buscando reverter o reconhecimento de vínculo empregatício entre ex-funcionários e empresas.
O ciclo de compromissos de Barroso foi encerrado em um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), no dia 26 de maio. A CNI é parte interessada em aproximadamente 30 ações que aguardam desfecho no Supremo Tribunal Federal.
Procurado pela Folha de S.Paulo, o STF respondeu por meio de nota afirmando que o ministro mantém diálogo com diversos setores da sociedade, incluindo advogados, empresários, indígenas, jornalistas e outros grupos sociais. A Corte defendeu a atuação institucional de Barroso e negou que haja qualquer interferência de interesses privados nas decisões do magistrado.
Apesar da justificativa oficial, os encontros levantaram novamente o debate sobre a necessidade de regras mais claras de conduta e transparência na relação entre ministros do Supremo e representantes de setores com causas em andamento na Corte. Críticos apontam que, ainda que não haja ilegalidade nas participações, a recorrência desses encontros compromete a imagem de imparcialidade e independência que se espera do Judiciário.
Ver todos os comentários | 0 |