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Itaú Cultural inaugura a exposição "Lygia Clark: Uma Retrospectiva" em setembro

Tão celebrada criadora, no Brasil e no exterior, Lygia Clark é fundamental na historiografia brasileira.

Nos diários e textos deixados por Lygia Clark (1920-1988), há uma série de projetos nunca realizados pela artista. Um deles é Filme Sensorial, proposição, na década de 1960, de uma obra cinematográfica a ser feita não com o uso de imagens em película, mas apenas com os sons que narrariam cerca de 5 minutos dos movimentos mais banais da vida de uma pessoa anônima.

Outro ainda, O Homem no Centro dos Acontecimentos, não parece genial para os dias de hoje, mas concebido entre 1967 e 68 queria colocar a simultaneidade de visões de um mesmo fato por meio de um performer que pudesse registrar seu passeio utilizando-se de um capacete com quatro câmeras.

Tão celebrada criadora, no Brasil e no exterior, Lygia Clark é fundamental na historiografia brasileira. Fazer uma retrospectiva, hoje, de sua obra é um desafio depois de várias outras mostras já terem sido dedicadas a ela. Os curadores da exposição que o Itaú Cultural inaugura no dia 1.º de setembro como antologia da obra da artista teriam de se valer de um diferencial - no caso, do ineditismo, ainda, na produção de uma experimentadora.

Imagem: MARCELO CORRÊA/DIVULGAÇÃO "Composição", 1953

"Não dá mais para reinventar a roda, essa seria uma outra oportunidade de ver uma retrospectiva de Lygia Clark agora", diz Felipe Scovino, de 34 anos, que assina a curadoria da exposição do Itaú Cultural ao lado do experiente Paulo Sergio Duarte.

A mostra, com cerca de 140 obras (entre elas, 45 réplicas manuseáveis de suas famosas e valiosas esculturas Bichos e de seus Objetos Sensoriais) criadas pela artista desde suas pinturas da década de 1950 até seus mais radicais trabalhos participativos, que colocaram na vertente artística motivações de fundo psicanalítico e físico, tem também como destaque a produção de obras inéditas de Lygia relacionadas ao cinema e à arquitetura.

Os dois filmes já citados, além das criações com ímãs, como a instalação Campo de Minas e Cintos Diálogos, ambos de 1967-68, foram produzidos pela primeira vez, seguindo as instruções escritas pela artista. Há também Arquitetura Fantástica (1960), em 3D, como a Casa do Poeta (1964) - projeto de residência com paredes móveis - e Maquete para Interior (1955).

O caráter inédito da atual retrospectiva, que reitera as "ideias visionárias" da artista, somente foi possível por meio da parceria realizada entre o Itaú Cultural e a Associação Cultural "O Mundo de Lygia Clark", presidida por seu filho, Álvaro Clark, e que tem projetos especiais dirigidos por sua neta, a designer Alessandra Clark. Detentora dos direitos autorais sobre a produção da artista, a entidade, criada em 2001, já proibiu iniciativas relacionadas a Lygia Clark.

A instituição detém ainda os escritos da criadora, material que vem passando por processo de digitalização para o acesso público. "Ficamos surpresos quando tivemos contato com seus projetos inéditos e há outros nos diários dela", conta Scovino. "Optamos por executar os mais bem resolvidos", diz a neta de Lygia. O Itaú Cultural e a associação da família da artista firmaram parceria, de longo prazo, de criação de um Museu Virtual que poderá ser acessado pela internet. "Vamos também fazer um documentário sobre a Lygia, mas o diretor ainda não foi definido", conta o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron.

A exposição, que fica em cartaz até novembro, é um dos destaques das mostras paralelas na cidade durante a 30.ª Bienal de São Paulo, a ser inaugurada para o público em 7 de setembro. Antecede, também, a grande retrospectiva de Lygia Clark que o Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York vem preparando, com previsão de ser apresentada a partir de maio de 2014 na cidade americana. Com curadoria de Luis Pérez-Oramas (atual curador-geral da 30.ª Bienal) e de Connie Butler, ambos do MoMA, a mostra também é feita em parceria com a Associação Cultural "O Mundo de Lygia Clark", afirma Alessandra.

"Até que ponto o lúdico avança no trabalho da artista de maneira poderosa e transforma o espectador em participante é um tema caro para nós", diz Felipe Scovino sobre a concepção da atual retrospectiva, sem caráter cronológico. Nesse sentido, a instalação A Casa É o Corpo, de 1968, torna-se uma das criações pontuais de Lygia Clark na mostra - é uma obra "metafórica sobre a ideia de nascimento", descreve o curador, formada por compartimentos ligados por um túnel, um labirinto para promover "experiência tátil, fantasmática e simbólica da interioridade do corpo", já definiu a artista.

A relação entre "mente e corpo" é fundamental na obra de uma criadora que constituiu os "estágios da contemporaneidade" - e "anteviu o estágio da pós-modernidade", diz Scovino -, mas é um grande destaque da mostra reunir também um número significativo de suas pinturas e estudos (muitos nas mãos de colecionadores particulares) que apresentam radicalidade e raiz construtiva em séries como Planos em Superfície Modulada, dos anos 50.
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