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Saiba como funcionava o esquema que fraudou R$ 5 milhões no Santander no Piauí

A operação teve objetivo de cumprir 25 mandados de busca e apreensão e 30 mandados de prisão temporária.

O delegado Anchieta Nery, diretor de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Piauí, concedeu entrevista ao GP1 e deu detalhes de como funcionava o esquema fraudulento que causou um prejuízo milionário ao banco Santander no Piauí, operado por uma associação criminosa composta por mais de 100 pessoas. Ao todo, 30 delas foram presas temporariamente na manhã desta terça-feira (05) nas cidades de Teresina, Floriano, Amarante e Nazaré do Piauí durante a Operação Prodígio.

A operação, que teve o objetivo de cumprir 25 mandados de busca e apreensão e 30 mandados de prisão temporária, mirou, entre vários alvos, o líder da associação criminosa, identificado como Anderson Ranchel Dias de Sousa, a esposa dele, a fonoaudióloga Ângela Marques de Almeida Terto, além do empresário Ilgner de Oliveira Bueno Lima, e o pai dele Raimundo Isaías Lima, com atuação no município de Amarante.

Investigação

Foto: Alef Leão/GP1Delegado Anchieta Nery, diretor de Inteligência da SSP-PI
Delegado Anchieta Nery, diretor de Inteligência da SSP-PI

Ao GP1, o delegado Anchieta Nery informou que o núcleo criminoso é composto por 117 pessoas, mas que, no momento, havia a necessidade das prisões de apenas 30. Ele deu detalhes das investigações, que culminaram com a etapa ostensiva que descortinou o esquema fraudulento de obtenção de crédito nas agências bancárias do Santander, que sofreram um desmonte financeiro de mais de R$ 5 milhões somente no Piauí e de, aproximadamente, R$ 14 milhões em outros 15 estados da federação.

“A gente chegou a um núcleo de 117 pessoas, mas só pedimos as prisões de 30 delas, por serem necessárias nessa primeira fase. Então, o banco detectou uma fraude em andamento e vários gerentes do estado do Piauí, pessoas honestas, detectaram que algo estava acontecendo no balanço das agências e acionaram a diretoria de segurança do banco, que começou um relacionamento com a Polícia Civil do Piauí, para a gente entender o que estava acontecendo”, pontuou o delegado Anchieta Nery.

Foto: Reprodução/InstagramAnderson Ranchel
Anderson Ranchel

Após o início das investigações, a polícia constatou que a fraude estava acontecendo em outros estados e que, no total, somava quase R$ 20 milhões. “A gente então detectou uma fraude de R$ 2 milhões em uma agência na zona sul de Teresina e começamos a entender o modus operandi da organização. Após nos aprofundarmos, vimos que o prejuízo era de R$ 19 milhões no Brasil todo, em mais de 15 estados, e a polícia do Piauí passou a investigar o que aconteceu no Piauí e constatamos que só em agências no estado as fraudes foram no valor de R$ 5 milhões”, relatou o delegado Anchieta Nery.

“O líder [Anderson Ranchel] passou a arregimentar pessoas para caírem em campo procurando clientes, gente que tivesse interesse em abrir conta no banco em seu nome próprio, mas com dados falsos, se apresentando médico, engenheiro, atleta profissional, para esquentar essas contas, que é fazer a movimentação financeira sem chamar atenção”, explanou Anchieta Nery.

Como funcionava o golpe

Ainda de acordo com o delegado, entre os “clientes” estavam pessoas jovens que faziam cadastro dizendo ser médicas, mesmo com pouca idade. “Meninas de 19 anos faziam cadastro dizendo que eram médicas obstetras, por isso o nome da operação é prodígio. Apresentavam renda mensal de R$ 30 mil, aí faziam movimentação nessas contas para o motor de crédito do banco acreditar que recebiam R$ 30 mil, e essa pessoa, por exemplo, adquiria crédito, pedia crédito pessoal de R$ 60 mil e pagava, então, o limite subia para R$ 90 mil, até que a organização criminosa acreditava que tinha chegado no máximo de score que o banco podia dar e fazia o chamado tombamento, pegava o máximo de crédito, tirava da conta usando empresas fantasmas que foram abertas com essa finalidade e, por fim, não pagava mais", explicou Anchieta Nery.

Foto: Alef Leão/GP1Delegado Anchieta Nery
Delegado Anchieta Nery

"A organização então movimentava o dinheiro pelas empresas fantasmas que na frente saia rateado, parte para os líderes, parte, talvez, para alguém da instituição financeira com envolvimento e parte para os clientes que quiseram participar do esquema", afirmou Anchieta Nery.

Criação de empresas fantasmas

O delegado Anchieta Nery revelou que Ilgner Bueno e o pai criaram empresas fantasmas para movimentar o dinheiro oriundo das fraudes cometidas pela organização criminosa. “Ele criou empresas fantasmas, algumas no nome do pai para movimentar o dinheiro dessa organização criminosa, desse esquema, inclusive, uma dessas empresas chegou a receber até meio milhão de reais no período da investigação”, pontuou o delegado Anchieta Nery.

Foto: Reprodução/Redes sociaisIlgner Bueno
Ilgner Bueno

Ainda conforme o delegado, Ilgner se apresentava como pré-candidato a vereador de Amarante. “Ele morava em Teresina, mas estava se apresentando em Amarante como pretenso candidato a vereador. Ele é um cara que desde cedo se associou ao líder da associação criminosa e que tem raízes familiares em Amarante, inclusive, o pai dele foi preso nessa operação policial. Ele é um cidadão bastante conhecido na cidade”, afirmou Anchieta Nery.

“O pai foi preso porque abriu empresas fantasmas para movimentar dinheiro do crime, foram apreendidos veículos comprados com dinheiro do crime, documentos relacionados a investigação ele colaborou integralmente com a investigação”, explicou o delegado.

Esposa foi "cobaia"

O delegado Anchieta Nery disse ainda que o líder do grupo, Anderson Ranchel, iniciou o golpe usando a esposa [Ângela Terto] e que após obter êxito deu continuidade arregimentando mais pessoas. "Anderson Ranchel era líder do esquema criminoso, ele se apresentava em Teresina como vendedor de iPhone importado, praticando o descaminho. Ele fez empréstimos fraudulentos primeiro para a esposa, deu certo, aí ele passou a arregimentar muita gente, na zona sul, no Lourival Parente, Parque Piauí, Vila Irmã Dulce, na cidade de Amarante, Floriano e região, como em Barão de Grajaú, no Maranhão", expôs.

Foto: Reprodução/InstagramÂngela Terto
Ângela Terto

"Ele contratava o que chamamos de correspondentes. Eram pessoas com interesse em sujar o nome para receber um grande valor em dinheiro. Por exemplo, ele oferecia a pessoa um empréstimo de R$ 40 mil e dizia que ficaria com 20% a 40% do valor, e a pessoa ficava com R$ 25 mil no bolso e ele afirmava que ela não precisaria pagar nada, apenas ficaria com o nome sujo e assim era feito", disse o delegado Anchieta Nery.

O delegado afirmou ainda que outras instituições financeiras podem ter sido vítimas do mesmo golpe, no entanto, será necessário ampliar a investigação para se chegar a outras vítimas com novas células.

Ao todo, 30 pessoas foram presas temporaiamente e bastante veículos foram apreendidos, além de dinheiro em moeda nacional e estrangeira.

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