O veneno de um sapo nativo da Mata Atlântica tem potencial para ser usado em medicamentos destinados à prevenção e ao tratamento de doenças vasculares, como hipertensão arterial, disfunções endoteliais e até mesmo acidente vascular cerebral (AVC). A descoberta é de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB).
O Brachycephalus ephippium mede apenas entre 1,25 cm e 1,97 cm e se destaca pela coloração alaranjada ou amarelo-cromo. Bastante abundante na Mata Atlântica, especialmente nas regiões da Serra do Mar e da Mantiqueira, a espécie produz uma toxina que pode ser promissora no tratamento de milhares de pessoas.
“Sintetizamos essa molécula e vimos o potencial protetor cardiovascular. Estou muito empolgado, porque é uma substância relativamente fácil de produzir”, explica o coordenador do projeto, José Roberto Leite, professor da Faculdade de Medicina da UnB e sócio-fundador da startup People&Science.
Os resultados foram publicados na última quinta-feira (19) no European Journal of Pharmacology. O projeto reúne instituições do Brasil, Dinamarca, Portugal e Venezuela.
A descoberta da substância, batizada de BPP-BrachyNH₂, aconteceu em 2015, durante uma expedição na Mata Atlântica. O peptídeo, segundo os primeiros estudos, apresenta ação vascular semelhante à de medicamentos para pressão alta já conhecidos.
No novo estudo, os pesquisadores descobriram que a substância promove o relaxamento dos vasos sanguíneos em artérias mesentéricas — responsáveis por fornecer sangue oxigenado e nutrientes para os órgãos.
O mecanismo ocorre por meio da interação com a enzima argininosuccinato sintase (AsS), fundamental para a produção de óxido nítrico, uma molécula com reconhecida função vasodilatadora no organismo humano.
Os pesquisadores explicam que a substância se liga de forma eficaz à enzima AsS, favorecendo o reaproveitamento de L-citrulina e aumentando a disponibilidade de L-arginina, principal substrato para a produção de óxido nítrico.
“Com os novos estudos em modelos animais, observamos efeitos vasculares adicionais, incluindo ações protetoras sobre o endotélio. Esses achados ampliam significativamente o potencial do composto, que agora desponta como um candidato promissor na prevenção de eventos isquêmicos, como o AVC”, destaca Leite.
Ensaios clínicos
Os ensaios clínicos em humanos serão o próximo passo do estudo, quando a eficácia e segurança do tratamento deverão ser testadas. “Nossos testes já comprovaram a eficácia em animais e, agora, vamos partir para os testes em humanos. Para isso, precisamos de financiamento e apoio institucional, a fim de transformar essa descoberta em uma nova estratégia terapêutica segura e eficaz”, afirma o pesquisador.
No Brasil, participam do projeto pesquisadores da UnB, além de cientistas da Universidade Federal do Piauí (UFPI), do Instituto Federal do Piauí (IFPI), da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Doenças cardiovasculares
As doenças cardiovasculares são responsáveis pela morte de, pelo menos, 380 mil pessoas por ano no Brasil, sendo a principal causa de morte no mundo, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Entre as principais estão infarto, insuficiência cardíaca, doença valvar, acidente vascular cerebral (AVC), arritmia cardíaca e doença arterial periférica — muitas vezes, desenvolvendo-se de forma silenciosa.
Os sinais de alerta incluem sensação de pressão e dor no peito; dores nos braços, pescoço, mandíbula, costas, parte inferior do tórax, abdômen superior ou estômago. Outros sintomas são falta de ar constante, tontura, fadiga, náusea, vômito, suor frio (especialmente durante a noite) e inchaços.
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