A lacração virou uma estratégia recorrente no ambiente político atual. Trata-se de uma prática baseada na criação de frases de impacto, vídeos teatrais e confrontos ensaiados, quase sempre pensados para viralizar nas redes sociais. Ao invés de contribuir com propostas ou análises consistentes, muitos políticos optam por esse tipo de performance justamente porque ela gera curtidas, compartilhamentos e engajamento imediato. O problema é que essa visibilidade não se traduz, na maioria das vezes, em transformação real da vida das pessoas.
Exemplos não faltam: parlamentares que produzem vídeos “esculachando” adversários no plenário, mas que não têm um histórico de projetos relevantes; prefeitos que preferem responder críticas com memes no TikTok, enquanto seus municípios enfrentam falta de medicamentos ou infraestrutura básica; ou ainda influenciadores políticos que pautam o debate público com sarcasmo, mas jamais discutem indicadores, metas, orçamento ou execução de políticas públicas. É uma política centrada no efeito — e não na eficácia.
Esse comportamento, embora funcional para as dinâmicas digitais, esvazia o debate público e dificulta a construção de soluções sérias. A política passa a ser vista como espetáculo, e não como instrumento de transformação social. O resultado é um eleitorado cada vez mais estimulado pela emoção e cada vez menos exposto a evidências, propostas e resultados concretos.
Mas aí vem a pergunta inevitável: esse tipo de política séria dá voto? Sim, dá. Mas exige método, estratégia e posicionamento claro. O erro comum é achar que só lacrar funciona. Lacração gera engajamento, mas nem sempre gera conversão eleitoral. O que dá voto de verdade é construir confiança, mostrar preparo e ter discurso coerente com a realidade das pessoas. Quando o candidato transmite domínio dos temas, apresenta dados e propõe soluções reais, ele gera autoridade — e autoridade gera voto. Especialmente entre os eleitores mais exigentes: servidores, empreendedores, jovens conscientes e famílias cansadas de promessas vazias.
Política técnica não é sinônimo de discurso chato. Quando bem comunicada, ela pode ser provocadora, firme e impactante. O segredo está na linguagem: usar os dados como munição, e não como burocracia. Mostrar indignação com fundamento, e não com histeria. Denunciar com seriedade, mas sem perder a força narrativa.
Enquanto alguns se preocupam em lacrar, eu prefiro focar em resultados. Porque a lacração pode render manchete. Mas é o trabalho consistente que muda a realidade — e conquista o voto de quem quer mudança de verdade.
José Trabulo Júnior - Publicitário, criador da X Conexões Estratégicas
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*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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