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Especialistas explicam declínio da Academia Brasileira de Letras

A instituição é alvo de questionamentos tanto do setor mais liberal, quanto do lado conservador.

Com mais de 120 anos de história, a Academia Brasileira de Letras (ABL) tem sido alvo de questionamentos por diversos setores, tanto conservadores como de movimentos identitários, acerca da participação de autores na Academia. Enquanto um lado reivindica maior diversidade de autores na ABL, os “conservadores” afirmam que a instituição tem desprestigiado a literatura em prol de outras manifestações culturais.

Atualmente, o cantor Gilberto Gil ocupa a cadeira nº 20 da Academia, que antes pertencia à Emílio de Meneses. Por sua vez, a atriz Fernanda Montenegro ocupa a cadeira nº 17, que já pertenceu a Antonio Houaiss. Por conta disso, esse grupo afirma que é como se a ABL deixasse a qualidade literária para trás. Outro aspecto que é alvo de crítica dos conservadores é a total adesão ao Acordo Ortográfico e submissão às pautas identitárias.

No site da ABL, a seção “Novas Palavras” só passa a incluir aquelas que possibilitam uma visão de luta social por meio das palavras, como: “antirracista”, “capacitismo”, "idadismo", e “letramento racial”.

Essas críticas do lado mais liberal e conservador têm escancarado um aspecto de declínio da instituição. Agora, o artigo 1º do estatuto assinado pelo então presidente da ABL Machado de Assis, em 1897, que trata a ABL com a finalidade de promover “a cultura da língua e da literatura nacional”, parece ter caído em desuso.

Criação da Academia Brasileira de Letras

Do ponto de vista histórico, o Brasil possui uma forte influência francesa, e por isso, um grupo de escritores resolveu criar uma instituição que se assemelhasse à Academia Francesa, fundada em 1635, reinado de Luiz XIII, que atualmente também é alvo de crítica. Isso porque recentemente, Mario Vargas Llosa assumiu recentemente uma cadeira, sendo que ele sequer escreve em francês.

Mesmo no tempo de sua criação, a ABL não parecia ter muita influência no cenário cultural brasileiro. Segundo o editor-chefe da Editora Danúbio, Diogo Fontana, a instituição “nunca serviu para muita coisa. Foi sempre um espaço de homenagem e de reconhecimento pela obra. Como instrumento de fomento, nunca teve tanta força[...] Quando há personalidades culturais, abre-se espaço para a politicagem”, explicou Diogo Fontana.

Decadência

O cientista político esloveno, Samo Burja, especialista no estudo de como as instituições nascem, crescem e morrem, já havia descrito: “Nuncia existiu uma sociedade imortal”. Segundo o esloveno, tanto a ABL quanto o Supremo Tribunal Federal (STF) são um tipo de tecnologia social, ou seja, é utilizada pelos homens que pretendem alcançar um certo objetivo.

Ainda conforme o especialista, a decadência dessas instituições ocorre por três fatores: sucessão, transmissão do conhecimento e corrupção das burocracias. Ao pontuar sobre a sucessão, Samo Burja chega a elogiar alguns dos autores da ABL. “Este é o maior problema, na verdade. Essa geração é interessante. Mas quem poderia ser o sucessor de Ruy Castro?”, questionou o esloveno.

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