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Saúde

Mandetta defende igrejas abertas, mas não apoia fim de isolamento

Ministro teve reunião por videoconferência com secretários de saúde e adaptou discurso, mas evitou conflito com o presidente Jair Bolsonaro.

Na primeira reunião com gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) após o presidente Jair Bolsonaro cobrar regras mais brandas contra o novo coronavírus, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), adotou um tom diferente e prometeu a secretários de Estados e municípios que tomará apenas decisões técnicas, baseadas em evidências científicas.

Segundo pessoas que acompanharam a reunião, realizada por videoconferência na quinta-feira, 26, o ministro modulou o discurso ao de Bolsonaro, mas sem aderir a teses como do isolamento vertical, que atingiria apenas idosos e doentes crônicos. Mandetta, no entanto, defendeu a abertura de igrejas para cultos e orações. Ele teria dito que não se pode proibir que pessoas busquem conforto.

O ministro também não defendeu na reunião o uso da cloroquina, medicamento usado para o tratamento de doenças como malária e que, em pesquisas preliminares, também se mostrou eficiente no combate à covid-19. Mesmo sem resultados conclusivos, Bolsonaro tem feito propaganda da substância e determinou o aumento da produção em laboratórios públicos.

Como mostrou o Estado, Bolsonaro tenta impor uma narrativa para sair das cordas na gestão da crise provocada pelo avanço do coronavírus no País. Após ter feito um pronunciamento à Nação, em cadeia nacional de TV e rádio, criticando o fechamento de escolas e do comércio para combater a doença, o presidente conseguiu enquadrar Mandetta.

Sob pressão, em entrevista na quarta-feira, 25, o ministro admitiu que o modelo de quarentena adotado em boa parte do País não ficou bom e passou a suavizar o tom na defesa de medidas de restrições.

Apesar de notar uma sutil mudança no discurso de Mandetta, quem esteve na reunião com secretários nesta quinta-feira afirmou “alívio”, pois o ministro não endossou plenamente o discurso de Bolsonaro, que atacou em rede nacional de TV governadores, chamou a covid-19 de "gripezinha" e repetiu que há muita "histeria".

Mandetta pediu atenção e cautela nas medidas de restrição de circulação, mas não pediu retomada de serviço. Segundo presentes, em nenhum momento ele citou o isolamento vertical, a nova bandeira de Bolsonaro. Também não se falou em abrir escolas, como pede o presidente.

Uma campanha publicitária batizada de "O Brasil não pode parar" foi lançada nesta quinta-feira pelo governo federal para defender a flexibilização do isolamento social adotado na maioria do País. A intenção do Palácio do Planalto é mostrar os efeitos de medidas como o fechamento de empresas na economia.

Na conversa com Mandetta, os secretários de Estados e municípios disseram que não interromperam todas as atividades, mas apenas o que consideram essencial para evitar o avanço da doença. Também ressaltaram que cada local está tomando medidas conforme o número de casos registrados.

Na leitura dos presentes, o ministro optou por adaptar o discurso ao de Bolsonaro, mas sem se comprometer com medidas como o isolamento vertical, reafirmando que todas as decisões serão feitas por critérios técnicos. A estratégia, para estas fontes, é evitar o conflito com o presidente para não desmoronar a ação de combate à covid-19 feita até aqui.

Respiradores

Uma cobrança dos secretários foi que nem todos os Estados receberam a parte combinada da primeira leva de kits para instalação de leitos móveis de UTI. O governo prometeu distribuir 540, no primeiro momento, dos 2 mil pacotes para montagem de leitos extras prometidos, sendo que cada unidade da federação teria no mínimo 10 leitos. Os equipamentos teriam sido entregues primeiro em locais com mais casos, como no sul e sudeste, mas gestores de outras regiões pediram o envio imediato para conseguir montar uma "reserva técnica". O ministro prometeu acelerar o envio.

Não houve ainda um acordo, mas secretários de Estados e municípios pedem para o governo federal fazer compras em larga escala, centralizadas, de respiradores. Os produtos seriam distribuídos conforme a demanda.

Os gestores argumentam que centralizar as compras no Ministério da Saúde evitaria um leilão entre Estados e municípios, o que só beneficiaria o fornecedor. Além disso, permitiria baixar os preços do produto, aproveitando o poder de compra do SUS. A ideia não é proibir que um Estado com poder de compra, como São Paulo, busque os próprios produtos. O governo federal só pede para ser informado sobre as aquisições, para evitar que um Estado acumule equipamentos, enquanto outro local, com mais casos, precisa do produto.

Edital

O Ministério da Saúde lançou na noite de quinta-feira, 26, edital para compra direta de 15 mil ventiladores pulmonares microprocessados com capacidade de ventilar pacientes adultos. A pasta chegou a elaborar uma versão prévia do edital prevendo a compra de outros 15 mil respiradores do tipo "eletrônico portátil", mas a versão final foi modificada.

Secretários também pediram para o Ministério da Saúde acelerar a compra e entrega de equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras. Uma sugestão é que o produto seja entregue por via aérea, inclusive com aviões da FAB, para contornar bloqueios em rodovias.

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