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Teresina - Piauí

“Não dá para governar repetindo o mensalão ou rachadinha”, afirma Sergio Moro

Pré-candidato à presidência da República concedeu entrevista ao GP1 nesta quinta-feira (10).

O ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, pré-candidato à presidência da República pelo Podemos, visitou Teresina nesta quinta-feira (10), onde cumpriu uma extensa agenda, incluindo entrevistas à imprensa, palestras e reuniões, além do evento de filiação do ex-senador João Vicente Claudino ao Podemos. Encerrando o dia de compromissos na Capital, o presidenciável concedeu entrevista ao Portal e à TV GP1.

Na entrevista, Moro falou sobre temas que pretende levar para o debate nestas eleições. O ex-ministro deu destaque ao que aparentemente será o seu lema na corrida rumo ao Palácio do Planalto: “crescimento econômico, sem abandonar o combate à corrupção”, nas palavras dele.

A erradicação da pobreza também é um dos pontos abraçados por Moro, que defende uma política “que ataque as causas da pobreza, não só as consequências”. O presidenciável ressaltou ainda que pretende prosseguir com as reformas, entre elas a tributária e trabalhista, e criticou discursos como o do ex-presidente Lula e do pré-candidato Ciro Gomes, que querem revogar a reforma trabalhista.

Nomes como Lula, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Ciro Nogueira não deixaram de ser mencionados na entrevista. Ao final, Sergio Moro reforçou que sua proposta de governo é fazer do Brasil um país onde ninguém esteja acima da lei.

Confira na íntegra a entrevista:

O senhor sempre colocou, nessa caminhada, que não tinha interesse em disputar cargos políticos, o que mudou de lá para cá?

Olha, as coisas mudaram completamente, porque quando eu falei isso eu estava na Lava Jato fazendo meu trabalho como juiz, depois eu fui ao governo [ministro da Justiça de Jair Bolsonaro] para consolidar esse avanço contra a corrupção, infelizmente, como a história é conhecida, acabei sendo sabotado durante meu período no governo. Agora eu sou uma pessoa que não desiste fácil dos meus sonhos, eu sonho com um Brasil melhor, que a gente possa ter crescimento econômico, que a gente pode, inclusive, ter políticas públicas melhores de erradicação da pobreza, a gente precisa retomar isso que é essencialmente importante, até para outras coisas funcionarem, que é um governo íntegro, honesto e que não se abandone o combate a corrupção, porque ele tinha problemas legais.

O senhor acabou de falar em sabotagem e tem colocado isso em todas as entrevistas, mas que tipo de sabotagem? O que o senhor considerou preponderante até para sua saída do governo Bolsonaro?

Foi uma série de fatos, na verdade, eu até escrevi um livro ‘Sergio Moro contra o sistema da corrupção’ em que eu descrevo esses fatos e detalhes, um deles, por exemplo, foi o projeto de lei anticrime, que eu apresentei logo no início do governo, não tive apoio do Bolsonaro e quando chegou o momento em que houve modificações feitas pela Câmara dos Deputados, que prejudicaram não só o combate a corrupção, mas o combate à criminalidade em geral, o presidente poderia vetar e não vetou. Eu implorei para ele vetar e não vetou, mas o cúmulo disso foi de fato a interferência dele na Polícia Federal e a gente tem que ser sincero, hoje, o combate a corrupção, foi desmantelado, não tem ninguém sendo investigado, não tem ninguém sendo preso. A gente está muito distante do que acontecia na operação Lava Jato, o presidente não é o único responsável, tem uma parcela de culpa do Supremo, tem uma parcela de culpa do Congresso, diz respeito às instituições, mas essa é a verdade, mas, o presidente também é responsável porque ele agiu para enfraquecer o combate a corrupção.

Em relação a essa questão do combate a corrupção, o senhor tem essa bandeira muito forte, sempre defendeu essa questão. Sendo eleito presidente da República, isso vai ter uma força maior? Vai voltar à tona esse projeto anticorrupção?

Foto: Lucas Dias/GP1Sergio Moro
Sergio Moro

Certamente. O combate a corrupção está no meu DNA e a gente nunca vai abandonar isso. A gente tem proposta de acabar com o foro privilegiado, de criar uma corte nacional de corrupção, mas da gente também, o foco agora vai ser crescimento econômico e inclusive, o Brasil não tem saída se a gente não retomar o crescimento econômico, se a gente não voltar a ter emprego, a ter renda, o aumento de renda para o trabalhador e para o empresário. Então, o primeiro desafio e a gente pode fazer isso, é a retomada do crescimento econômico, a retomada da confiança, com responsabilidade social e responsabilidade fiscal. E uma parte importante que eu tenho falado é uma política que ataque as causas da pobreza, não só as consequências. A gente tem esses auxílios e isso é importante, o Auxílio Brasil, que era o Bolsa Família anteriormente, eles são importantes, mas eles precisam se aprofundar, no fundo eles aliviam a conta no final do mês da família e as vezes falta dinheiro. O que a gente precisa é ter política que enfrente as causas [da pobreza] e a gente quer fazer isso, coordenar os esforços através de uma Força Tarefa Nacional de erradicação da pobreza e da fome.

Nas reformas do País, a gente vê o Congresso discutindo a reforma tributária, reforma administrativa, elas são essenciais? O senhor eleito vai trabalhar essa política em seu governo?

Certamente. A gente tem uma proposta modernizante. O governo atual abandonou as reformas e o governo que quer voltar [Lula] quer revogar as reformas que já foram feitas. A nossa proposta é que precisa fazer essas reformas, entre elas, a tributária, a administrativa, para gente voltar a crescer e ter emprego. Também não vamos abandonar a reforma ética e da integridade que a gente vai fazer. Então, prioridade, em 2023, são as reformas modernizantes.

E a reforma trabalhista surtiu o efeito desejado? Lula e Ciro Gomes falam em revogação, como o senhor vê isso?

Isso é enganar as pessoas. O que dificulta o crescimento do emprego é que o Brasil não está crescendo economicamente, não está tendo investimento. A inflação está alta, os juros estão muitos elevados isso impacta a capacidade das famílias consumirem, ou seja, comprarem produtos, retarda a recuperação da atividade econômica e os juros elevados tiram o investimento produtivo. Então, primeiro a gente tem que estabilizar a economia do País, daí quando a gente vai discutir emprego, porque que hoje não se contrata? Ou porque não se formaliza a contratação do trabalhador com carteira de trabalho? Porque a carga tributária sobre a folha de salários é muito elevada. A gente tem que discutir isso seriamente a possibilidade de reduzir as contribuições que incidem sobre o salário dos trabalhadores que ganham menos. Claro que fazendo com responsabilidade também fiscal, não pode simplesmente abdicar de receita sem ter uma proposta para compensar isso de alguma forma, por exemplo reduzindo os custos da administração pública, mas é enganar as pessoas afirmar que revogar a reforma trabalhista vai gerar empregos, ao contrário, vai prejudicar mais ainda. E no fundo a gente sabe que o que o PT quer de fato, é a volta da contribuição sindical obrigatória, ou seja, descontar do salário do trabalhador sem que ele tenha dado consentimento, descontar parte do salário para entregar ao sindicato. Sindicatos são importantes, mas as contribuições tem que ser voluntárias.

Quando o senhor esteve no Ministério da Justiça viu algum indício de corrupção? Se viu, se percebeu, qual foi o mais grave em sua visão?

Olha eu sempre me pautei pela integridade e combate à corrupção, a Polícia Federal em meu período no Ministério da Justiça tinha autonomia para realizar investigação, fez prisões importantes. Aquelas investigações de desvio por exemplo, de respiradores na época da pandemia da covid começaram enquanto eu ainda estava no Ministério da Justiça. Então, a gente respeitou a Polícia Federal para agir com autonomia, hoje não se pode falar o mesmo, a Polícia Federal hoje não é a mesma da época da Lava Jato e nem da época da minha gestão no Ministério da Justiça. Hoje, lamentavelmente existe um clima no País no qual é praticamente impossível você prender alguém envolvido em corrupção, e a culpa disso, como eu já disse, infelizmente é dos três poderes. A gente respeita, mas a gente tem que apontar a falha. Mas a gente não pode ficar por aí chorando pelos cantos, o que a gente tem é que mostrar o nosso projeto para retomar a autonomia da Polícia Federal e o combate a corrupção.

Como quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro e mostrar que Sergio Moro é a opção mais preparada para administrar o País?

Eu tenho um instrumento importante a favor do nosso projeto, que é a verdade, tanto a verdade em relação ao que aconteceu no passado, que eu não tenho nenhum problema em discutir isso, como a verdade em relação ao que a gente quer fazer para o futuro. Tem candidato que está pedido na prática um cheque em branco da população brasileira para gastar como quiser e diz que isso vai fazer o Brasil crescer. Eu não estou pedindo, porque sei que isso não funciona. Eu não quero cheque em branco da população, porque política econômica é algo responsável, então você não pode pedir cheque em branco para gastar como puder. A Gente já conhece essa história que levou à grande resseção de 2014 a 2016, durante o governo do PT. Isso é a mesma coisa que o Bolsonaro quer agora, que é o cheque em branco para ganhar as eleições e depois o País se arrebenta. A gente tem que repudiar esse tipo de manipulação, e o que a gente tem que defender é a volta do crescimento econômico sem pedir cheque em branco da população, tem que respeitar o limite de gastos que a gente tem que fazer, e pegar os recursos que existem, focar nas pessoas que mais precisam, isso sim é política pública responsável.

O senhor vem defendendo uma relação diferenciada entre congresso e executivo, é possível administrar sem negociatas? Como seria o diálogo de Sergio Moro sendo eleito presidente com os partidos do Centrão e com o PT do ex-presidente Lula?

Foto: Lucas Dias/GP1Ex-ministro Sergio Moro
Ex-ministro Sergio Moro

Olha, eu sou uma pessoa de diálogo, a política e a arte do diálogo, agora para o diálogo ser produtivo a pessoa tem que ter liderança, e liderança a gente tem, você tem que ter projeto, projeto a gente está construído tanto com especialistas e também percorrendo o País ouvindo as pessoas. E você tem que ter algo importante que são princípios e valores, respeitado isso, você conversa com qualquer pessoa. O que não dá é para querer governar repetindo o mensalão, petrolão, ou rachadinha, até porque a gente sabe que isso não leva a um bom resultado, se levasse, o PT não teria levado o país à recessão, e com o governo Bolsonaro hoje a economia estaria voando, e não está, está estagnada, parada, as pessoas estão sofrendo.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, tem destinado o tempo dele para fazer algumas críticas ao senhor. Na última delas, ele falou que acredita que o senhor vai recuar da pré-candidatura à presidência para concorrer a um cargo na Câmara Federal. Como o senhor analisa essa colocação dele? Ou o senhor vê que seria uma forma de tentar desestabilizar sua pré-candidatura?

O que tem se falado muito em Brasília é que na verdade tem muitos rumores que quem vai desistir da candidatura é o Bolsonaro, porque ele tem medo do que pode acontecer, se ele não tiver um mandato. Eu posso dizer para você, eu nuca precisei de foro privilegiado e não quero isso, tanto que nosso projeto para o ano de 2023 é apresentar uma proposta para acabar com o foro privilegiado para todo mundo, inclusive para presidente da República, porque eu não tenho rabo preso, sempre fui uma pessoa transparente. No fundo, o que eu vejo aqui, é que o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, deveria informar melhor o que ele faz afinal para o Piauí. Está há tanto tempo no poder, esteve com o Lula, agora está com o Bolsonaro, e o Piauí, apesar de toda essa potencialidade, come essa população maravilhosa, não recebe a atenção necessária do Governo Federal. Acho que na verdade o ministro da Casa Civil tem medo, tem medo de uma proposta de pré-candidatura que é diferente, de quem realmente quer transformar o país. A gente vai fazer alianças sim, mas a gente vai fazer alianças pensando na população, e não nos políticos em Brasília.

O senhor tem feito uma peregrinação no Nordeste do País. Quais as propostas para a região Nordeste, que a gente sabe que é muito influenciada pelo Lula, pelo Partido dos Trabalhadores, e também as propostas para o estado do Piauí?

Foto: GP1Sergio Moro
Sergio Moro

Tenho feito uma jornada pelo país, estive na Paraíba, estive no interior de São Paulo, vou em breve para Santa Catarina, vou viajar também ao Paraná, estive agora no Ceará, estou agora no Piauí, em Teresina e quero voltar, pois quero conhecer o interior. O que eu ouço aqui, por isso é importante você viajar para conversar com as pessoas, muita reclamação de que o estado poderia estar se desenvolvendo bem, porque tem vários recursos naturais, por exemplo, exploração mineral, agropecuária, quando se produz e tem os meios o estado se destaca, que é o caso por exemplo da produção de mel. Mas por exemplo, as estradas estariam em péssimas condições. Um porto que querem construir em Luís Correia, há décadas, ninguém faz nada, ou seja, tem muito potencial a ser explorado para o estado crescer e a gente ter emprego, mas tem que ter políticas de governo apropriadas. Hoje o estado tem um potencial enorme em energia eólica, energia solar, a gente já está discutindo a potencialidade do hidrogênio verde, que pode ser uma fonte relevante de exportação para o Brasil, no entanto, o que a gente tem visto muitas vezes parece uma política de abandono. Quando você tem dedicação, quando você tem atenção, as coisas funcionam. Eu ouvi por exemplo aqui que as escolas públicas municipais durante o governo do ex-prefeito Firmino, que elas apresentaram bons-resultados, que melhoraram bastante, então pode se fazer, melhorar por exemplo a educação pública, que está de responsabilidade do Governo do Estado, o Governo Federal tem que assumir um papel mais relevante para a educação em todo o país. Tem muito que pode ser feito, agora precisa de dedicação, esforço e seriedade.

Para finalizar, o que os piauienses podem esperar de Sergio Moro presidente do Brasil?

Dedicação, esforço e seriedade. Um governo voltado para melhorar a vida das pessoas, com foco no crescimento econômico, sem abandonar o combate à corrupção, sem abandonar aquela ideia que a gente tem que construir um governo honesto, com um país em que ninguém esteja acima da lei, que é um país diferente, infelizmente, que a gente está tendo nesses últimos anos com o governo do PT e agora com o Governo Bolsonaro.

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